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Foi em Dezembro de 1996 que finalmente
ganhou forma um projeto iniciado por
John Williams e
pelo violinista Itzhak Perlman, em 1993, durante o trabalho em
Schindler's List: gravar um álbum com alguns dos mais memoráveis
temas de música para cinema em arranjos para violino e orquestra.
Williams iria escrever esses arranjos e já tinham a orquestra para
acompanhar, a Boston Pops Orchestra, mas conflitos entre as agendas
dos dois músicos tornou impossível avançar com o trabalho. Mas a
idéia não morreu, e eis-nos com a Pittsburg Symphony a acompanhar um
dos mais importantes solistas do nosso tempo, sob a atenta batuta do
mais famoso compositor de Hollywood. Embora com um som diferente do
dos músicos de Boston, a orquestra de Pittsburg não é menos
competente, sendo dona de uma grande precisão interpretativa.
Quanto à música propriamente dita, somos agraciados com alguns dos
temas mais célebres das últimas três décadas em arranjos na sua
maioria assinados pelo próprio Williams. A sua colaboradora habitual
da Boston Pops, Angela Morley, é responsável por outros três
arranjos e os veteranos André Previn e
Elmer Bersntein
aceitaram o convite e adaptaram as suas composições para violino e
orquestra. O disco abre com o tema do único filme de Spielberg para
o qual Williams não compôs a música, The Color Purple, de
Quincy Jones.
Mas no arranjo de Williams, facilmente poderíamos ser levados a
acreditar que o autor é o colaborador habitual do realizador. Uma
das grandes capacidades de Williams foi sempre o seu cuidado com a
orquestração (em tenra idade já havia estudado os livros de
orquestração de Rimsky-Korsakov), e sempre que pega numa peça alheia
para a arranjar, torna-a um pouco sua, muitas vezes melhorando-a.
O mesmo se passa com Il Postino, o grande sucesso do cinema
italiano recente, que valeu um Oscar ao seu compositor, Luís Bacalov.
O arranjo de Williams mais uma vez eleva a qualidade da peça. Mas ao
mesmo tempo que isso acontece em alguns casos, noutros seria
preferível que mantivesse a inocência do original. Como no tango de
Carlos Garder "Por Una Cabeza", usado no filme Scent of a Woman
(e também em Schindler's List) e no belíssimo "Manhã de
Carnaval" de Luis Bonfá (Black Orpheus), que conta com um
delicioso solo para guitarra clássica, não creditado. O francês
Michel Legrand é representado por dois dos seus mais célebres temas:
"Papa, Can You Hear Me?" de Yentl e "I Will Wait For You" de
The Umbrellas of Cherbourg. Canções lendárias que aqui são
cantadas pelo violino. Uma extraordinária apresentação do tema, uma
valsa lenta, de The Age of Innocence (Elmer Bernstein), e do
tema de Schindler's List (Williams) são momentos
altos, mas é de destacar o quase esquecido tema que André Previn
compôs para Four Horseman of the Apocalypse, bem como os
arranjos do tema de Sabrina (Williams) e Out of
Africa (John
Barry), preenchidos com a apropriada magia que pretendiam
sugerir em conjunção com as imagens.
Nós completamos a nossa serenata cinematográfica com um dos mais
belos temas da década de 90, o love theme de Cinema
Paradiso, composto por Andrea Morricone, filho do importante
compositor italiano, aqui num excelente arranjo de Angela Morley.
Merecidamente, o CD tornou-se num sucesso de vendas, chegando ao
primeiro lugar das paradas de música clássica. As interpretações
cheias de arte e dedicação, e os arranjos mais que simplesmente
competentes, contribuíram para um álbum memorável. Mais do que
música para cinema, grande música, que apenas por um mero acaso foi
inicialmente pensada para suportar imagens. |
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