Nos anos
80, o cinema de ação norte-americano foi dominado por heróis que,
sozinhos, eram capazes de enfrentar exércitos de inimigos.
Interpretando estes verdadeiros super-homens, Silvester Stallone (Rambo)
e Arnold Schwarzenegger (Conan, O Exterminador do Futuro)
alcançaram o estrelato e se tornaram, por anos a fio, os maiores
astros do gênero nos cinemas e nas vídeo-locadoras. Realizado pelo
diretor Mark L. Lester em 1985, este Comando para Matar foi o
primeiro filme de "Schwarza" após seu estrondoso sucesso como o
cyborg assassino de O Exterminador do Futuro (James
Cameron, 1984). Com este filme também se destacou o produtor Joel
Silver, hoje celebrizado por levar às telas franquias famosas como
Máquina Mortífera, Duro de Matar, Predador e
Matrix. Por falar nisso, em Commando o governador da
Califórnia interpreta o veterano de guerra John Matrix (!),
que enfrenta os soldados do ditador do fictício país
latino-americano de Valverde para resgatar sua filha pré-adolescente
Jenny (Alyssa Milano, hoje "crescidinha" e uma das jovens bruxas da
série de TV Charmed), que havia sido raptada pelo ex-colega
de farda e mercenário, Bennet (Vernon Wells, o memorável vilão de
Mad Max II).
Acompanhando esta saga paternal-bélica, temos um vibrante score
do hoje consagrado compositor
James Horner.
Por esta época, Horner já estava desenvolvendo uma série de motivos
e idéias musicais que seriam retrabalhados - ou simplesmente
reutilizados - em diversos de seus trabalhos. Também flagrante era o
uso, pelo compositor, de dois estilos distintos - um eminentemente
orquestral, empregado em grandes aventuras de fantasia (Krull),
ficção científica (Jornada nas Estrelas II, Aliens) e
dramas; outro mais pop, reservado para policiais e
thrillers urbanos como 48 Horas, Mistério no Parque
Gorky e Inferno Vermelho (também estrelado por
Schwarzenegger), onde à orquestra são acrescidos instrumentos
elétrico/eletrônicos. De um modo geral, o estilo "urbano" ou pop
de Horner privilegia um conjunto instrumental formado por saxofone e
sopros, bateria, sintetizadores e percussão. Como não é raro em se
tratando de Horner, scores nesta linha assemelham-se muito um
com o outro, fazendo com que, em determinados trechos, os mais
desavisados pensem estar ouvindo a mesma trilha sonora. Commando
pertence a este segundo estilo, no qual o compositor utiliza, com
intensidade, as steel drums, instrumento de percussão típico
dos ritmos caribenhos.
E justiça seja feita: a trilha de Comando para Matar é, na
minha opinião, a melhor dessa categoria, e desde o lançamento do
filme, vinha sendo requisitada pelos fãs. Contudo, os anos se
passaram, e a Fox não teve o mínimo interesse em lançá-la em disco -
o mesmo tendo ocorrido com outras célebres trilhas de ação do
estúdio, como as dos filmes originais de Duro de Matar (Michael
Kamen) e Predador (Alan
Silvestri), que por anos circularam entre os colecionadores em
versões piratas. No entanto, como já havia feito com estes trabalhos
injustamente esquecidos, a gravadora Varèse Sarabande entrou em
acordo com a Fox e finalmente lançou, em 2003, a trilha sonora de
Commando em tiragem limitada a 3.000 CDs. Agora, ao ouvir às
gravações originais deste trabalho, lembro de algumas terríveis
versões do "Main Title" que foram incluídas em coletâneas dedicadas
a filmes de ação ou a Schwarzenegger, por muito tempo a única música
deste filme disponível em disco. O lançamento da Varèse finalmente
faz jus a esta trilha, reunindo praticamente toda a música
incidental utilizada no filme, com boa qualidade de áudio. Sob este
aspecto, é de se ressaltar que a música de Horner não é ouvida na
maior parte das cenas de ação, já que ela as antecede ou as sucede.
Um artifício inteligente, de modo a evitar que a música seja
soterrada pelos altos efeitos sonoros destes segmentos.
Em
Prologue/Main Title,
ouvida nos créditos iniciais, Horner
introduz o tema principal do score, uma composição percussiva
onde a base instrumental, conduzida pelas onipresentes steel
drums, acompanha as primeiras - e musculosas - visões que temos
do protagonista. Quando surge a filha de Matrix, a seção de cordas é
ouvida pela primeira vez, interpretando o tema suave que
representa o relacionamento pai e filha. Não é um tema especialmente
memorável, mas funciona às mil maravilhas acompanhando as tentativas
de Arnold em expressar sentimentos paternais. Além de ser uma das
raras ocasiões no disco em que os violinos são ouvidos, este também
é um dos poucos momentos em que o score adquire um tom mais
terno e afetuoso. A partir daí, a partitura torna-se, praticamente,
um exercício de ação até seu final, com poucas concessões para
alguns momentos de tensão e suspense no estilo típico do compositor.
A música, percussiva e às vezes ritmada, é levada pelo ensemble
central, secundado pela orquestra ou seções específicas dela -
destaco as intervenções curtas e "musculosas" dos metais, mais do
que adequadas se considerarmos a temática e o protagonista do filme.
Na parte gráfica, gostaria de destacar o encarte que contém o texto
de Erich Lichtenfield, que teve a coragem de adotar uma postura
crítica em relação ao filme, à sua trilha sonora, à adoração do
cinema norte-americano pela violência e até mesmo quanto à eleição
de Schwarzenegger como Governador da Califórnia. De resto, o
score de Commando, indiscutivelmente, é mais do que
recomendado para fãs de Horner (é um dos trabalhos marcantes da
primeira fase de sua carreira) e das trilhas de ação. Mas atenção...
são apenas 3.000 cópias!
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