Como já disse anteriormente, sinto-me
muitas vezes mais satisfeito com as peças de concerto de
compositores para cinema, do que com a música que compuseram para
imagens em movimento. Isso é verdade com Williams, Goldsmith, Waxman,
Rózsa, Korngold, etc. Por isso, quando soube que Elmer Bernstein, o
compositor que tanto fez pelo avanço da arte da música para cinema,
ia gravar o seu recente Concerto para Guitarra, a minha expectativa
não podia ser maior. Porém, mal adquiri o CD, tive uma
desilusão. Bernstein diz nas excepcionais notas que acompanham o
álbum, que "a peça é harmonicamente conservadora" e refere que teve
durante muito tempo dúvidas sobre escrever o Concerto. Isso pode
explicar parte do problema.
Quando Bernstein diz conservadora, está a ser simplista. Não só o é,
como está fundada sobre a tradição do Concerto para Guitarra
espanhol. O modelo é demasiado obvio: "Concierto de Aranjuez" de
Joaquim Rodrigo, provavelmente o mais famoso de todos os concertos
para este instrumento. Se o som que impregna a guitarra já é muito
orientado para sonoridades espanholas, toda a estrutura do concerto
é demasiado próxima do modelo, para passar despercebida a semelhança
ao ouvinte atento. Ainda assim há alguma invenção melódica, próxima
do som a que Bernstein nos habituou nas suas partituras
cinematográficas. O Concerto não deixa de ser uma peça para
virtuoso, exigindo vastas capacidades do seu interprete, e
encontrará o caminho para o coração de muitos, já que não é exigente
para com o ouvinte.
A única altura em que o concerto parece querer libertar-se das
amarras é em algumas passagens para a orquestra, mais notórias nos
primeiros e terceiros movimentos, mas nunca chega a deixar as
tradições e convenções do início do século. *"La Vega", de Isaac
Albéniz, ganha uma nova gravação num arranjo para guitarra e
orquestra de Jack Marshall (a peça foi escrita originalmente para
piano), e evoca as paisagens castelhanas com grande vivacidade. A
popularidade desta peça já lhe tinha dado, de resto, muitas outras
transcrições, das quais as para guitarra são as mais famosas, em
grande parte pela associação da guitarra à cultura espanhola. A
pérola da coleção fica no entanto no curto "Essay for Strings" de
Jack Marshall (1921-1973), um célebre guitarrista nos estúdios de
Hollywood. Marshall encorajou desde cedo Parkening, e gravou em 1967
com o então jovem guitarrista este ensaio. Em três movimentos,
consegue ser mais original e inventivo que o Concerto de Bernstein,
afastando-se um pouco da tradição espanhola e entrando na escola de
composição do séc. XX, embora ainda próximo das convenções de
Hollywood.
No Concerto e na peça de Albeniz, a L.S.O., sob a direção de
Bernstein, toca com o seu habitual profissionalismo e arte.
Parkening é um solista excepcional e claramente acredita no valor
das composições. É curioso ver que em 1967 (data da gravação do
Ensaio de Marshall), Parkening já era exímio na sua arte. O som da
gravação é bastante bom, mesmo no Ensaio. Em resumo, este é um CD
indispensável para os admiradores de Bernstein, mas para todos os
outros apenas uma curiosidade.
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