Lançado em 2000, este duplo CD pretende
ser uma apresentação de suítes e temas dos melhores filmes da década
anterior. Mas deixou grandes obras do cinema de fora, e são
incluídas algumas que só pela música se justifica o seu aparecimento
aqui. Maltin, um famoso crítico norte-americano faz uma escolha que
deixa algo a desejar... e as notas que assina no interior, estão
certamente entre as piores que já encontrei num CD! Fico sem saber
de onde vem tanta fama. E para quem nitidamente sabe tão pouco de
música, espanta-me descobrir que agora também escreve para a
conceituada revista de jazz "Down Beat". Mas passando para o que
interessa, vamos à música... As interpretações ficam a cargo da City
of Prague Philharmonic Orchestra, orquestra de má memória,
responsável pelas muitas compilações para a Silva Screen, que variam
entre o fraco e o razoável. À sua frente está o compositor David
Michael Frank, que assina o tema totalmente dispensável do programa
de Maltin. Este tema que abre o primeiro CD, começa menos mal, com
um solo para flauta, acompanhado pela orquestra, que faz lembrar a
música de James
Horner... mas depois resolve avançar para um registro mais
pop, com um solo para alto sax, a lembrar os álbuns de pseudo
jazz de Kenny G. Uma detestável abertura, mas felizmente temos a
tecla de avanço...
O resto é território conhecido e adorado por muitos. E fico feliz
por poder dizer que a orquestra se comporta à altura. E mesmo não
sendo par para as Sinfônicas de Boston e Londres, que gravaram
alguma desta música nas suas gravações cinematográficas (Schindler's
List, Saving Private Ryan, Braveheart, Titanic e Basic
Instinct), nem para as orquestra freelance de Hollywood,
responsáveis pelas gravações originais dos restantes filmes, as
interpretações são competentes e inspiradas em geral. Lamenta-se no
entanto que o coro usado (o Khun's Choir) não se eleve à qualidade
da orquestra. Isso torna-se aparente na suíte de Titanic (a
gravação da Varèse Sarabande será recomendável em relação a esta) ou
no belíssimo "Hymn to the Fallen" de Saving Private Ryan. De
resto James Horner é o mais apresentado no decorrer dos dois CDs.
Para além de Titanic, temos excertos de The Mask of Zorro
e o "End Credits" de Braveheart. Neste último, embora haja
uma boa prestação da orquestra, o solista da gaita de foles
engana-se constantemente... O veterano
Jerry Goldsmith
é agraciado com uma suntuosa
interpretação de "An Unending Story" de Basic Instinct.
Infelizmente a orquestra demonstra a sua dificuldade nas brilhantes
fanfarras para metais da suíte de First Knight.
John Williams
surge representado com duas das suas partituras para filmes de
Steven Spielberg. Uma delas é o incontornável Schindler's List,
apresentado na sua versão para concerto. "Three Pieces from
Schindler's List" recebe uma interpretação apaixonada, mas fica
aquém da recente edição com Gil Shaham e a Boston Symphony, dirigida
pelo próprio Williams. O memorial que Williams escreveu para
Saving Private Ryan, "Hymn to the Fallen" tem uma interpretação
competente, embora seja de lamentar a má prestação do coro, como já
referido. A seção de metais brilha no belíssimo coral no início da
peça. Outro veterano de Hollywood,
Elmer Bernstein,
surge via um dos seus temas para The Rainmaker. Uma das
melhores faixas do álbum fica na suíte de
Maverick
de Randy Newman. Coplandesca em estilo, a orquestra
toca com a energia necessária para torna a interpretação
verdadeiramente memorável. Outras duas suites são menos
memoráveis... The Nightmare Before Christmas de
Danny Elfman é
interessante, mas faltam as vozes e diálogos sarcásticos do
original. The Lion King (Elton John, Tim Rice &
Hans Zimmer)
consegue ser uma das piores interpretações de todo o álbum. A música
parece simplesmente não convencer os músicos!
Thomas Newman tem direito a uma fiel interpretação de dois temas de
American Beauty. O primeiro deles, com influências étnicas e
jazz, é de grande interesse, embora o compositor ande a
reciclar este som em trabalhos mais recentes. Mais jazz chega
em dois temas para The Firm, de
Dave Grusin, interpretados em
piano solo. Há ainda espaço para os temas principais de Ed Wood
(Howard Shore), Shakespeare in Love (Stephen
Warbeck), La Vita e Bella (Nicola Piovani), As
Good as It Gets (Hans
Zimmer) e The English Patient (Gabriel Yared). Em
geral bem interpretados, alguns deles podem ser encontrados em
versões alternativas (e preferíveis) noutras compilações, assim como
nas suas gravações originais. Um última surpresa fica em Fast,
Cheap & Out of Control de Caleb Sampson. Esta inclusão
justifica-se pelo precoce desaparecimento do compositor, e os cerca
de quatro minutos da peça fazem ter vontade de ouvir mais.
Em resumo, Critic's Choice é um álbum simpático, com
interpretações que variam entre o bastante bom e o simples razoável
(que provam que a Silva Screen escolheu bem a orquestra e mal os
maestros...), e que será interessante para quem não quer os álbuns
completos e apenas os temas mais famosos. Será mais para o cinéfilo
do que para o melômano, mas mesmo para quem conhece e tem os álbuns
originais, poderá gostar de ouvir o tratamento de concerto de
algumas das obras. Pois, com a exceção de algumas das suítes, tudo o
mais já existe noutras edições. O tipo de CD que é razoavelmente
bom, mas longe de ser indispensável. |