Tudo começa
com um saxofonista e sua esposa recebendo uma fita com
imagens de sua própria casa, o que não os abala tanto quanto
quando recebem uma fita com imagens internas; mais
especificamente dos dois dormindo. O invasor parece cada vez
mais próximo, e eles cada vez mais expostos.
“David Lynch
dirige musicalmente”, diz Patricia Arquette. “O amor do
cineasta pela música ficou bastante claro nos sets de
filmagem”, completa. Melhor dizendo, tudo começa com a voz
de David Bowie, em “I’m Deranged”, escrita em parceria com
Brian Eno. Bowie fizera, cinco anos antes, uma pequena
participação no elenco de Twin Peaks: Os Últimos Dias de
Laura Palmer, longa-metragem originado da série
de TV criada por Lynch e Mark Frost. A voz sóbria de Bowie
provoca um belo contraste com os frenéticos créditos
iniciais, diferente de “Eye”, um exemplar não muito feliz do
grupo Smashing Pumpkins;
uma balada eletrônica de acordo com a cena, mas distinta do
rock neurótico que os consagrou.
Trent
Reznor, vocalista do grupo Nine Inch Nails e produtor
musical deste disco, participa com sua banda na faixa “The
Perfect Drug”, que fez estrondoso sucesso quando do
lançamento do filme, ganhando a capa da Rolling Stone e
concorrendo a prêmios em diversos festivais de música pop.
Depois de o compositor Barry Adamson mostrar como se faz
música para gângster, Lou Reed mostra como se faz uma boa
versão de “This Magic Moment”, composta por Doc Pomus e Mort
Shuman, em 1960; famosa na
gravação de Jay and The Americans.
Em contraste com o peso da música de Marilyn Manson,
presente com “Apple of Sodom” e uma versão da explorada “I
Put a Spell on You”, encaixadas de forma doentia,
violentamente erótica, está “Insensatez”, de Tom Jobim,
quase que em tom de ironia.
Na tradição de
Dario Argento, Lynch apropria-se da natureza violenta e
agressiva da banda alemã Rammstein para intensificar a
tensão das cenas mais aterrorizantes, como antes usara o
grupo Powermad em Coração Selvagem (1990).
Completando a música da
paranóia está
Angelo
Badalamenti, freqüente parceiro de Lynch, inclusive na
televisão. Sua trilha sonora, como em grande parte dos
trabalhos que fez com o diretor, é tão marcante quanto uma
personagem. Entre suas faixas, destaca-se o agressivo
jazz “Red Bats with Teeth”, que reflete o estado da
mente caótica do angustiado saxofonista.
A lacrimosa “Song To The Siren”, do projeto This Mortal Coil,
não foi inclusa no CD de Lost Highway devido à
interdição de seu produtor. |