Para esta
aventura no estilo Indiana Jones, com saqueadores de túmulos de faraós e
uma fantástica história mitológica a acompanhar, a tarefa de compor uma
partitura de proporções operáticas recaiu sobre o veterano
Jerry Goldsmith.
O compositor não é estranho a este tipo de aventuras, já que nos anos
oitenta, no rescaldo dos primeiros filmes do arqueólogo aventureiro,
havia composto a música para dois filmes inspirados no romance "As Minas
de Salomão". Mas enquanto essas eram produções medíocres, The Mummy
é uma grande produção da Universal, com todos os requintes necessários.
Goldsmith compõe música que não fica atrás da do seu colega
John Williams
para as aventuras de Indiana Jones, não se limitando a apresentar um
sucedâneo musical.
Há temas para os principais personagens e situações: um é para Imhotep
(a múmia do título), com um claro sabor oriental; outro é um love
theme, associado tanto com a personagem feminina, como com a paixão
perdida (e impossível) de Imhotep. Estes dois temas podem ser ouvidos
logo na primeira faixa da partitura ("Imhotep"
,
faixa 2 disco 1). Há um outro, mais um motivo que um tema propriamente
dito, muito mais ameaçador associado também a Imhotep e aos seus
ataques. Por fim há um último tema relevante na estrutura da partitura,
associado ao personagem interpretado por Brendan Fraser, mas que surge
pela primeira vez apenas na faixa 11 do disco 1, "Night Borders". Este
pode ser visto como a "Raider's March" de The Mummy - não será
certamente tão memorável como o célebre tema de Williams, mas convém ao
sentimento de aventura que este tipo de filme procura.
Há mais material usado em várias faixas, mas que se limita a uma só
aparição, variando entre passagens atmosféricas ("The Key of Hamunaptra"),
agradáveis alívios cômicos e momentos mais ligeiros ("Bookshelf Mess" ou
a dança com sabor árabe de "The Caravan"), passagens percussivas,
normalmente interligadas com algum do material temático ("Night Borders"),
e algumas faixas de source music ("Al Nahla Al'Ali" e "Winston
Havelock). Estas em particular são o pior do álbum, não tanto pelas
faixas em si, mas pela sua localização no mesmo. Os responsáveis por
esta edição colocaram estas faixas na sua ordem cronológica, mas para a
audição contínua dos CDs, seria muito melhor remeter estas curtas peças
para o final do disco. Goldsmith trata todo este material com a sua
habitual mestria, interligando os vários temas e compondo como se
contando a história com música. Se fecharmos os olhos podemos viver
novamente as aventuras destes heróis contra o perigoso Imohtep.
Goldsmith contribui com um underscore dramático como é,
infelizmente, raro ver. O compositor consegue compor música original sem
deixar de ser fiel à sua estética musical, sem deixar ser influenciado
por outros esforços musicais do mesmo gênero. Essa é a maior virtude
deste trabalho de Goldsmith: criar uma obra de arte num estilo já tão
gasto. É também de realçar o fato de a música conseguir ser cativante
durante os quase cem minutos de duração do álbum.
Eu não conheço o lançamento oficial deste trabalho, mas na forma aqui
analisada sente-se uma estrutura e diversidade que consegue fazer o
ouvinte ficar cativado por um período de tempo considerável. Como
sempre, a faixa final "The Sand Volcano/End Credits" serve de suíte,
apresentando os temas principais do filme e fornecendo a necessária
conclusão musical. Em uma última nota sobre a presente edição, chamo a
atenção para a existência de duas versões diferentes deste CD expandido.
Na que conheço, é incluída na faixa 1 do disco 1 a fanfarra que
Goldsmith compôs para a Universal, ausente noutros lançamentos.
Indispensável para os seguidores de Goldsmith, mas que fará falta na
coleção de todos os apreciadores de grandes acompanhamentos sinfônicos
(principalmente se gostarem deles com um sabor mais oriental!). |