A adaptação cinematográfica de Robert Rodriguez (Um
Drink no Inferno, as trilogias
Mariachi e
Spy Kids) da graphic novel
de Frank Miller possui três histórias. Rodriguez e Miller co-dirigiram
os segmentos, com a ajuda de ninguém menos que Quentin Tarantino,
creditado como "diretor convidado". Apesar de possuírem histórias
distintas, os segmentos deste filme, que realmente parece uma história
em quadrinhos trazida à vida, compartilham o mesmo estilo de narrativa,
locação e mesmo alguns personagens.
Algo parecido pode ser dito a respeito da trilha sonora original de
Sin City. O filme recebeu um score noir e jazzístico
interpretado pela The Hollywood Studio Symphony, cortesia de três
compositores: o próprio Rodriguez, Graeme Revell e John Debney. Esta
parceria, que continuará no próximo filme de Rodriguez (The
Adventures Of Shark Boy And Lava Girl In 3-D),
funciona muito bem, baseada em saxofone (que chega a ser sensual),
piano, percussão e orquestra (onde se destacam as cordas em registro
grave), que ajudam a fornecer ao ouvinte uma música dramática e sombria
nos momentos certos. Apesar dos três compositores trabalhando em três
histórias à parte,
cada seção da trilha sonora, retendo sua
própria identidade e estilo, complementa uma à outra. Rodriguez compôs
um score incomum (para ele) no segmento de Hartigan/Nancy
Callahan, além do tema principal do filme, ao passo que Revell musicou a
história de Marv/Goldie e Debney a de Dwight/Jackie Boy.
Este álbum com a trilha
sonora apresenta as faixas na ordem cronológica em que são ouvidas no
filme, iniciando com "Sin City Theme", uma vívida composição conduzida
por linhas de baixo e saxofone, que a tranformam numa espécie de versão
dark do clássico tema "Peter Gunn", de
Henry Mancini.
Segue "One Hour to Go", baseada em cordas e percussão, também composta
por Robert Rodriguez, que brevemente introduz a história de Hartigan no
início do filme.
Na continuação
temos o score de Graeme Revell para o segmento de Marv/Goldie,
que começa com a faixa "Goldie's Dead". "Marv" usa o tema principal de
Rodriguez como linha mestra, enquanto a percussiva e ameaçadora "Bury
the Hatchet" apresenta um interessante uso do piano e vocais femininos,
que trazem ao ouvinte uma efetiva sensação de solidão. O sax sexy
conduz a curta "Old Town Girls", que rapidamente a "The Hard Goodbye", a
composição mais longa de Revell onde os vocais femininos retornam,
seguidos por um efetivo conjunto de violinos, sopros, piano, metais e
percussão. Até o seu fim ("Her name is Goldie"), a porção de Revell do
score faz o menor uso da orquestra, o que lhe dá um senso de
solidão e frieza, um complemento perfeito para o personagem de Marv.
Com
"Dwight", tem início o trabalho de John
Debney, que ao contrário da contribuição de Revell, que soa fria e
metálica, é um esforço mais temático e orquestral, que emprega ritmos
jazzísticos acelerados,
bongôs e a seção de
cordas,
como ouvimos em faixas como "Old Town" and
"Jackie
Boy’s Head".
Também, esta abordagem mais tradicional com o uso da orquestra faz esta
parte do score soar bem mais dramática, com os pontos altos
orquestrais encontrados em "Warrior Woman" e "The Big Fat Kill". Além da
orquestra, Debney faz um uso bem eficaz do sax e do trompete, como em
"Deadly Little Mind" e "Tar Pit". A parte da história que coube a Robert
Rodriguez começa com as faixas "Nancy" e "Prison Cell." No começo deste
comentário, disse que este é um score incomum para o
realizador/compositor: ouça aos violinos, harpa e notas de piano destas
músicas e você descobrirá porque. A próxima faixa é a dark-techno
"Absurd", interpretada por Fluke, diferente de todas as outras
composições do disco mas uma interessante adição para os fãs do filme.
Após esta pausa Rodriguez retorna para as próximas três faixas. "Kiss of
Death" é uma ultrajantemente (e muito legal) composição romântica com
pianos e cordas, que encerra-se com violinos afiados e "herrmannescos".
"That Yellow Bastard" é música de ação, que termina em suspense.
Finalmente, as dramáticas cordas ascendentes e descendentes de
"Hartigan" levam o score de Rodriguez a uma conclusão mais do que
satisfatória. Também foi incluída na trilha original a cinemática peça
clássica de Silvestre Revueltas "Sensemaya", interpretada pela New
Philharmonic Orchestra regida por Eduardo Mata. O tema principal de
Rodriguez faz a sua última aparição em "Sin City End Titles", numa
versão mais longa e orientada para o rock.
Como o filme a que serve, a trilha sonora de Sin City é um
trabalho que possui um sabor único. Isto pode ser considerado como uma
surpresa genuína para muitos fãs da música de cinema, mas o fato é que
Rodriguez combinou três diferentes estilos em um todo harmônico e
coesivo, fazendo deste um score acima da média.
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