Com maior ou menor eficiência, ao longo da sua carreira
Danny Elfman
retratou musicalmente vários super-heróis, incluindo
Batman,
Dick Tracy, Darkman e Flash. Agora chega a vez de
Spider-Man, personagem emblemático da Marvel Comics que até hoje não
havia recebido uma adaptação à altura de sua lenda. E ainda que o
trabalho do compositor não se sobressaia na realização de Sam Raimi,
estamos diante de uma trilha sonora que nos fornece uma estimulante dose
de ação e suspense, no estilo tão pessoal que é a marca registrada de
seu autor. Instrumentalmente, Spider-Man tem como referência
próxima
Planet of the Apes, onde as sonoridades da orquestra
sinfônica tradicional combinam-se com percussivas texturas eletrônicas.
A música, sem dúvida, é bem mais leve, heróica e luminosa que a daquela
partitura. E também muito mais melodramática e variada face às emoções
que relata, já que a história é mais rica nesse sentido. Trata-se,
contudo, de uma música onde o aspecto melódico fica relegado a um
segundo plano, ofuscado pela proeminência do ritmo e da densidade da
orquestração. Então, ao contrário do que se poderia esperar, não há
grandes motivos ou melodias nesta trilha sonora. O tema de Spider-Man,
que faz a sua primeira aparição no "Main
Title"
e ressurge ao longo de todo o álbum, é dispersivo e não tem uma
personalidade bem definida. Algo pior ocorre com o tema romântico,
composto por apenas cinco notas descendentes de caráter triste que se
aproximam perigosamente do ridículo.
Os contornos da lúgubre melodia que identifica o Duende Verde estão um
pouco melhor delineados, mas a sua efetividade é diluída em uma
inexplicável semelhança com a de Spider-Man. Mas apesar disso, Elfman
supera estas deficiências e entrega um trabalho sólido e efetivo,
especialmente bom nas vigorosas passagens de ação "Revenge", "Parade
Attack" e "Final Confrontation", e que além do mais oferece algumas
pérolas dignas de menção. Com espírito urbano e moderno, "Costume
Montage" apresenta uma simpática, ainda que breve, apresentação do tema
principal onde a melodia é conduzida por guitarra elétrica. "First Web"
se destaca por um feliz trabalho com as texturas instrumentais na linha
mickeymousing, enquanto "Alone", "Revelation" e "Getting Through"
oferecem cálidos e bem-vindos interlúdios sentimentais.
Finalmente, a percussão tribal de "Spectre of the Goblin" resulta em um
maravilhoso reflexo da maldade e loucura do Duende. Curiosamente, tanto
o filme como o seu score desperdiçam uma qualidade inerente aos
quadrinhos: o irreverente senso de humor. Esta característica teria sido
interessante de ser explorada musicalmente, e é provável que, nesse
caso, a partitura oferecesse momentos mais coloridos e otimistas. Ainda
assim, do jeito que está, este já é inquestionavelmente um trabalho bem
sucedido, e reafirma a idéia de que, tratando-se de super-heróis, Danny
Elfman não é apenas a opção mais previsível, mas também a mais acertada. |