Jornada nas
Estrelas IV: A Volta para Casa provavelmente é um dos filmes
mais populares da conhecida série. Dirigido em 1986 por Leonard Nimoy (que
já comandara o filme anterior), ele encerrou um ciclo iniciado em
Jornada nas
Estrelas II, que entre outras coisas envolve a morte do Sr.
Spock (o próprio Nimoy), a destruição da nave estelar Enterprise
e a volta de Spock ao mundo dos vivos. Diferentemente dos 2 filmes que o
antecederam, Jornada nas Estrelas IV, apesar de envolver a
potencial destruição da Terra por uma sonda alienígena, possui uma trama
mais leve e bem-humorada. O Capitão Kirk (William Shatner) e seus
comandados retornam à Terra do final do século XX, a fim de levar para o
futuro um casal de baleias jubartes (extintas no século XXIII), a única
espécie capaz de se comunicar com a sonda e interromper sua ação
destruidora. As situações engraçadas decorrem principalmente das
tentativas de Kirk & cia. passarem despercebidos na Los Angeles
contemporânea.
Se tematicamente o filme é um dos mais originais da franquia,
musicalmente ele também possui suas peculiaridades. Até então, a série
havia tido trilhas compostas por
Jerry Goldsmith (I)
e James Horner (II
e III), e pelo menos duas delas foram realmente muito boas. Nimoy,
seja por querer inovar ou porque não houve acerto com os outros
compositores, contratou o veterano
Leonard Rosenman para encarregar-se
da música. Rosenman já havia criado algumas interessantes partituras
atonais para filmes de ficção-científica, como Viagem Fantástica
e dois longas da cinessérie O Planeta dos Macacos. Aqui ele optou
por um estilo mais tradicional e melódico, porém mesmo assim acabou
compondo o score mais atípico da série. A verdade é que a música
de The Voyage Home até que se adapta bem ao filme, mas decepciona em disco. Como esta trilha foi indicada para o Oscar é um
mistério - foi mais uma daquelas indicações estranhas, ainda mais se
considerarmos que nenhuma das trilhas de Jornada nas Estrelas
subseqüentes (e superiores) mereceram esta distinção.
É aceitável que a música do quarto exemplar da franquia fosse diferente,
dada a natureza mais leve e cômica do filme. Mas isto não justifica o
enorme desvio que a trilha de Rosenman tomou, já que não apresenta
qualquer momento épico ou clima semelhante ao da música que ouvimos nos outros
filmes - há uma "falta de espírito" que é crucial para avaliarmos este
trabalho. A música é otimista demais, deslocada e orquestralmente
desinteressante. Mesmo o tema de
Alexander Courage,
que poderia remediar a situação, é usado apenas um par de vezes. A
melhor delas sem dúvida é ao final ("Home again/End Credits"), quando a
tripulação "volta para casa" - ou seja, a uma nova Enterprise, a
NCC-1701A. E justiça seja feita, para mim é uma das melhores utilizações
do tema de Courage (não apenas da conhecida fanfarra) no cinema. De um
modo geral a orquestra não fornece uma performance que empolgue, soando
em alguns momentos mais como uma banda marcial, e o "Main Title" de
Rosenman parece feito para um documentário do Discovery Channel
sobre baleias.
Ouvindo a partitura, esta não é capaz de transmitir
um sentido de
ameaça latente, ou até mesmo da urgência que a tripulação da Enterprise
tem em cumprir a missão - afinal, de seu sucesso depende o destino da
Terra. Falta ação nas "músicas de ação" de Rosenman, e seu uso de ritmos
russos na faixa de Chekov, que busca tornar engraçada uma situação que
termina de modo um tanto trágico, é tolo. Interessante também
notar que duas faixas do grupo "The Yellowjackets", utilizadas para
exemplificar, com ritmos pop/jazz a cultura dos anos 80,
estendem-se por quase 10 minutos em um álbum com apenas 36 minutos de
duração! Sem dúvida alguma, ao compararmos o universo musical da série
no cinema, antes e depois de Jornada nas Estrelas IV, constatamos
que esta é sua mais fraca trilha sonora. Ainda bem que, um par de anos
mais tarde, William Shatner telefonou para Goldsmith e recolocou
(pelo menos musicalmente) as coisas no lugar.
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