Assim como a própria
qualidade dos filmes de Jornada nas Estrelas varia, também suas
trilhas sonoras vão do excelente (Jornada
nas Estrelas: O Filme,
Jornada nas
Estrelas II: A Ira de Khan) ao ruim (Jornada
nas Estrelas IV: A Volta para Casa - neste caso, um filme muito
bom mas com uma partitura fraca). Felizmente o saldo final é mais do que
positivo, e com a vantagem adicional da série ter propiciado alguns dos
melhores trabalhos de seus compositores. De fato, alguns destes
compositores ficaram conhecidos graças, principalmente, aos seus
scores para a franquia. Em 1981, por exemplo, quando o orçamento
apertado de A Ira de Khan não permitiu a volta de
Jerry Goldsmith para
compor a trilha, Nicholas Meyer resolveu apostar em um compositor à
época pouquíssimo conhecido,
James Horner. O
resto, como dizem, é história.
Dez anos depois, quando Meyer retornou à direção neste Jornada nas
Estrelas VI: A Terra Desconhecida, lhe veio à mente a idéia de
utilizar na música algo da obra de Gustav Holst "The Planets", que já
servira de inspiração a muitas trilhas de ficção científica. Com Holst
na cabeça, o diretor resolveu arriscar mais uma vez, dando uma chance ao
novato e praticamente desconhecido Cliff Eidelman. Após trocar idéias
com o diretor, o jovem compositor, além de Holst, também deu à música um
toque de Stravinsky ("O Pássaro de Fogo") e, como resultado, recebemos
uma das melhores e mais originais trilhas sonoras da série (e,
felizmente, o filme está à altura de sua música). É um score
sombrio e atmosférico, onde as orquestrações exploram muito bem as
seções de cordas, madeiras, metais e percussão, fornecendo ao ouvinte um
acompanhamento rico nos momentos dramáticos ou de ação. No entanto, um
dos elementos mais característicos deste trabalho é o soturno coral
masculino, ouvido já na primeira faixa acompanhado pela orquestra e por
discretos sons eletrônicos.
Em sua maior parte é uma partitura tensa, voltada para o drama, o
mistério, a conspiração e o conflito, com raríssimos momentos de leveza
ou otimismo. "Overture" introduz na trilha sonora o ameaçador e urgente
tema de seis notas que representa os klingons (e a Ave de Rapina capaz
de disparar mesmo estando invisível). É uma representação musical muito
eficaz, pois toda as vezes em que as seis notas iniciam seu ciclo,
sabemos que os vilões estão ocultos, por perto. Aliás, o tema klingon de
Eidelman rompe totalmente com o padrão de Goldsmith (imitado por Horner),
porém encaixa-se perfeitamente na trama. Eidelman também compôs um novo,
belo e majestoso tema para a nave estelar Enterprise, introduzido
em "Clear All Moorings". Quando a Enterprise "solta as amarras", o som é
exuberante e melódico - como normalmente é, ou deveria ser, em todas as
cenas em que a nave sai das docas. A fuga do mundo prisão klingon, Rura
Penthe, é musicada de forma muito dramática, notadamente durante as
tomadas aéreas filmadas nas geleiras.
A música para a cena da batalha, já no final do filme, quando a
Enterprise e a Excelsior destroem a Ave de Rapina de Chang, é
continuamente impressionante, com a orquestra em uma interpretação
massiva do tema klingon e de motivos militares. A música acentua de
forma admirável aquele que talvez seja o momento mais empolgante do
filme, quando Kirk cerra seu punho e finalmente ordena "Fogo" (quem não
adora essa cena?) e a Ave de Rapina, alvejada pelas duas naves, explode
em pedacinhos (imagem reutilizada sem escrúpulos em
Jornada nas
Estrelas: Generations). A fanfarra do tema da Série Original de
Alexander Courage é
usada em doses homeopáticas, em "Clear All Moorings" e de forma
particularmente efetiva na vitoriosa "Sign Off". Em "End Titles", todos
os grandes temas da trilha são combinados em uma perfeita suíte.
Definitivamente, este é um trabalho que merece maior reconhecimento não
apenas entre as trilhas da série, mas inclusive entre as trilhas sonoras
de um modo geral.
|