Comecemos então enumerando fatos... Fato é que o grande tema de
John Williams para
Superman,
The Movie,
de 1978, o
mais épico e majestoso dos já compostos para filmes de super-heróis,
permanece como um dos
mais famosos de todos os tempos, reconhecível até mesmo para os mais
distraídos ouvidos. Outro fato é que John Ottman, acostumado a lidar com
super-heróis (X2 e
Quarteto Fantástico),
propondo temas que tentam refletir a natureza essencialmente nobre de
seus personagens em temas pouco inspirados e coros atmosféricos (moda
atual em Hollywood), não conseguiu convencer-nos plenamente de que
poderia fazer uma leitura convincente deste universo tão sensivelmente
peculiar. Assim, óbvio é o fato de seu trabalho em
Superman Returns se desdobrar
à sombra projetada por John Williams. Mas é obvio também o fato de não
poder ser esta situação diferente, pois seja qual fosse o compositor,
mesmo Williams, ele trabalharia sobre expectativas baseadas na partitura
original. Sabendo de tudo isso e talvez conhecendo seus limites, não só
o compositor John Ottman, mas também o diretor Bryan Singer, se
compararam quase que voluntariamente ao filme “original”; fizeram uso de
seus temas musicais e até mesmo de alguns diálogos. Logo na abertura do
filme ouvimos uma versão do tema de Kripton que serve de prelúdio ao
grande tema "Main Titles" de John Williams, que acompanha a destruição
do Planeta Kripton e a expansão através da galáxia de seus destroços até
encontramos a Terra e o continente americano. Há ainda uma espécie de
tributo à trilha original em "Behind the Scenes: Superman Returns Score",
vídeo bônus do CD que consiste basicamente em uma
entrevista com Bryan Singer, na qual ele discute a relação dele com John
Ottman e a razão pela qual os temas originais de John Williams foram
integrados a trilha, finalizando com o
"Main Titles" executado pela
orquestra de 1978.
Supostamente retomando a história de Kal-El (nome real do herói) a
partir do final de Superman II,
este novo filme revela que, depois que cientistas descobriram vestígios
de seu planeta natal, Superman partiu em uma longa viagem a fim de
visitar os restos de Krypton, com a esperança de encontrar algum elo com
seu passado. Cinco anos depois, ele volta à Terra e descobre que,
durante sua ausência, Lois Lane teve um filho e tornou-se noiva do
sobrinho de Perry White, editor do Planeta Diário. Enquanto isso, seu
antigo inimigo, Lex Luthor, aproveitando a oportunidade, visita a
abandonada Fortaleza da Solidão e rouba os cristais que continham os
ensinamentos de Jor-El, pai do protagonista, e planeja utilizá-los para
criar uma verdadeira cópia de Krypton em nosso planeta, destruindo, no
processo, todo o continente americano.
Assim, o jovem
diretor de realizações artísticas admiráveis, como
O Aprendiz e
Os Suspeitos, após o duplo
sucesso de X-Men e
X-Men 2, assumiu a realização
de um projeto essencialmente grandioso que lhe exigiria disciplina e
acima de tudo comedimento: o tão esperado retorno de Superman às telas
de cinema. Pois se as ambições artísticas do cineasta contribuíram para
conferir peso dramático ao universo dos mutantes, desta vez o resultado
é bem menos satisfatório. Em sua ambição por conferir amplitude
dramática à história, conciliando-a com a clássica historieta de
aventura do herói contra vilão, fez por embaraçar a narrativa com tantos
meandros que nenhuma de suas faces pôde ser desenvolvida devidamente. Só
com piedade podemos aceitar plausíveis o estapafúrdio e megalomaníaco
plano de Lex Luthor de especulação imobiliária; ou a escolha do elenco,
já que obviamente Brandon Routh e Kate Bosworth são jovens demais para
os papéis – particularmente a moça que, aos 23 anos, tenta nos
convencer, sem a energia inquiridora e a personalidade forte tão
característica de Lois Lane, de que é mãe de um garoto de 5 anos e
vencedora do Pulitzer – principalmente se considerarmos que ela
supostamente já era uma repórter consagrada antes dos 18 anos, quando
ocorreram os eventos dos capítulos anteriores. Além disso, a frieza com
que sua personagem trata Clark é pouco interessante, eliminando uma das
dinâmicas mais importantes do primeiro filme. Kevin Spacey, por sua vez,
encarna Luthor de modo excepcional, eliminando qualquer resquício do
bufo Gene Hackman, assumindo uma postura mais sarcástica e cruel. Por
fim, Brandon Routh, por mais que apresente o tipo físico perfeito para o
papel, parece sentir o peso do personagem e falha miseravelmente no
aspecto mais importante de sua composição, jamais conseguindo
diferenciar Clark Kent do Homem de Aço, talvez por falta de
oportunidades mais claras para isso. Pois que o brilhantismo do trabalho
de Christopher Reeve residia justamente em sua capacidade de levar o
espectador a acreditar que Clark e Kal-El eram indivíduos diferentes;
aliás, ao surgir como Superman, torna-se evidente que as feições de
Routh receberam algum tipo de tratamento digital para diferenciá-lo
ainda mais de Clark Kent, uma grande bobagem, uma ajuda que Reeve
dispensava graças ao seu carisma, talento e
timing cômico.
Também
falha a música em sua característica básica no cinema: evocar emoções.
Essa deficiência contamina-a, tornando-a por vezes afetada e excessiva
como no momento em que Lois Lane e seu filho vagam pelo iate de Lex
Luthor e se deparam com sua coleção de perucas, e ouvimos o soar dos
metais tentando conferir a esses objetos um ar ameaçador que
verdadeiramente não possuem, como ao final de uma seqüência de suspense
mal sucedida. A música só faz tornar este instante um momento cômico
quando desemboca num encontro com Lex escovando os dentes... Pude ouvir
os risos.
Na cena em que o
Superman é espancado, a música falha por omissão, renunciando à
descrição emotiva da cena, figurando como ambientação desconectada do
ritmo. Ela reflete a melancolia da humilhação sofrida por ele, mas não
se altera mediante as passagens mais tensas. Uma das cenas mais
musicalmente interessantes, impressa irremediavelmente em minha memória,
não pertence a Ottman - foi a do menino tocando ao piano, em seu
cativeiro no iate, a infantil melodia protagonista do filme
Quero Ser Grande com Tom
Hanks; pois que por contraste imprimia à cena uma tensão que de outra
forma não teria. E o que dizer desta seqüência, quando o próprio vilão
senta-se ao seu lado tocando em dueto?
Diferentemente de Patrick Doyle, que em
Harry
Potter and The Goblet of Fire,
substituindo John Williams, recriou o já consagrado tema em um elegante
exercício de composição incidental e temática, Ottman não fez nada além
do esperado, re-arranjando quase frivolamente os antigos temas e
compondo somente material adicional indispensável às novas
necessidades. Corroborando, mais uma vez, a idéia corrente de que
dificilmente uma
trilha atual poderia vislumbrar a solidez daquela partitura original,
não conseguiu a
orquestração apurada e muito menos a sobriedade perspicaz do mestre
Williams. Desde suas primeiras notas, percebemos fortemente carências de
personalidade e originalidade em soluções técnicas pouco elegantes e
conceitos melódicos e temáticos pouco interessantes, em nenhum momento
me parecendo potencialmente brilhantes para serem recordados. Salvo um
comovente tema nas seis suaves notas
que serve de alternativa ao consagrado
tema de amor de Williams e
que, apesar de carecer de inspiração melódica, nos promove as melhores
passagens do álbum em desenvolvimentos intimistas inspirados. Mas que
mesmo assim, poderia ter sido melhor aproveitado no filme
se firmado como o tema do garoto, filho de Lois Lane. Passemos à
descrição e análise do score,
faixa a faixa:
“Main Titles”
(Faixa 01 - 03:49):
O Álbum se inicia,
sem o prelúdio habitual, com a hábil música do maestro Williams,
apostando talvez numa conexão mais intima com o passado e com seu
majestoso espírito. Mas também incentivando a percepção dos contrastes
entre os compositores.
“Memories”
(Faixa 02 - 03:07):
Acompanha os
pensamentos de Clark, que vislumbra sua fazenda em Smallville e se
lembra de quando corria por ela. Traz uma breve introdução do
Kent Family Theme
original de Williams e logo ouvimos um trecho que lembra muito
América de Leonard Bernstein,
que se funde com o motivo anterior. Não me parecendo muito bem
estruturada e inspirada, o restante da faixa é composta de detalhes
rítmicos e timbres próprios do compositor fundidos a motivos e base
rítmica dos temas de Williams, falsificando por instantes o “Growing Up”
da trilha original. Ouvimos então uma capitulação lenta e delicada da
Fanfarra do tema que se desfaz numa passagem mais ambiental, executada
pelas madeiras e o misterioso coro misto; jogando com a idéia da trilha
original, quando Clark acha o cristal no celeiro e inicia sua viagem ao
Ártico.
“Rough Flight”
(Faixa 03 - 05:13):
Acompanhando o resgate de um avião; é uma faixa fundamentalmente rítmica
de início caótico, sem claridade e com pretensão de agressividade, mas
carecendo de consistência. Uma das primeiras coisas que ouvimos é uma
linha descendente e rápida de metais e muita dissonância orquestral,
cessando subitamente. As variações rítmicas e orquestrais do “Main
Titles” que se seguem são pouco ousadas, mas corretas e interessantes em
meio a seções harmônico-melódicas conferidas a cordas, coro e metais.
Um tema muito dramático e heróico é ouvido quando passamos pela marca
de quarto minuto. A faixa termina com uma seção incidental percussiva
para coro e orquestra que cessa bruscamente.
“Little Secrets/Power of the Sun”
(Faixa 04 - 02:49):
Com um belo início onde faz uso de uma variação do tema “Main Titles”,
logo introduz-se, variando através das madeiras o tema do amor original
de Williams, parecendo-me um tanto carente de expressão interpretativa.
Ottman em seguida esboça o que será seu próprio
leit-motif romântico na
metade da faixa; algo escasso de inspiração melódica e arranjo
orquestral, mas mesmo assim funcional e explicito. O trompete pontua com
o tema “Main Titles” a chegada do coro em uma bela passagem melancólica,
mas esperançosa que se finaliza em uma
coda dramática.
“Bank Job”
(Faixa 05 - 02:21):
É basicamente uma faixa rítmica incidental, uma vez mais com pretensões
grandiosas, mas sem chegar a “golpear” o ouvinte com suas construções
rítmicas infantis, maçante e com abuso dos efeitos orquestrais. Um rol
de tímpanos abre a faixa culminando no frescor dos pratos. Trompetes
emudecidos e madeiras recordam a música de Mystique de
X-Men 2.
Entre o caos percussivo, o tema de Lex luthor permanece meio escondido,
mas é ouvido ocasionalmente nos metais. Na seção final se recorre mais
uma vez às notas iniciais do “Main Title” sem nenhum brilhantismo
(continuidade ou falta de idéias?), ouvida brevemente nos metais, logo
em seguida o coro masculino acompanha o tema sobre o correr das cordas.
A faixa termina com uma progressão curta e dissonante.
“How Could you Leave Us?”
(Faixa 06 - 05:49):
Se desenrola durante a seqüência do reencontro e vôo do herói e Lois
Lane em que conversam sobre sua ausência. Ottman apresenta inicialmente
um terno esboço de seu próprio
leit-motif de amor,
passando logo então a uma magnífica recapitulação do tema de “Kripton”
de Williams com um solo de corne inglês, que dá lugar a uma seção
ambiental, intimista, insinuante e bem construída, apoiada em
sintetizadores, violino solo e em texturas de cordas. Este conceito
culmina na exposição e desenvolvimento do
leit-motif de amor de Ottman
(Faixa 04) com o piano, cordas e coro. No final da faixa de novo
reaparece o tema de Williams, delicadamente apresentado nas cordas. Sem
dúvida é uma das melhores e mais inspiradas faixas do álbum.
“Tell Me Everything”
(Faixa 07 - 03:13):
Acompanha a visita de Lex Luthor à Fortaleza da Solidão. Uma faixa
interessante, especialmente em sua seção central e final, bem construída
em textura e orquestração, que de algum modo segue a linha intimista e
ambiental da faixa anterior, só que mais obscura e inquietante. De
inicio os metais entoam o tema de
Luthor antes que o coro inicie uma bela, vibrante e
misteriosa passagem junto aos metais e cordas, cortejando o tema de
Luthor. O tema de “Kripton”
é pontuado rápida e fortemente antes de tudo se acalmar. O que segue tem
um sentido semelhante à "The Fortress of Solitude” original de Williams.
O coro se faz presente, lírico, baseado no material de Krypton, só que
mais dramático que na trilha original, antes de se acalmar. O minuto
final é composto de alternados momentos, entre serenos e suspensivos,
conferidos às cordas e aos metais, enquanto fragmentos melódicos nas
cordas sugerem o tema de Luthor.
“You´re Not One of them”
(Faixa 08 - 02:22):
Nova faixa intimista, algo mais simples e menos inspirada em construção
que as anteriores, mas correta e funcional. A faixa tem início com um
brilho morno e desamparado, enquanto se deixa acariciar por toques
eletrônicos. O clarinete surge um momento por entre o calor dos sons; o
violoncelo entra em seguida. Nós ouvimos uma linha de piano agradável
enquanto os violinos reiterarem o tema principal, o
leit-motif de amor de Ottman.
Este tema é levado pelo cello
e então pelo coro em um momento graciosamente contido: o ponto alto da
faixa.
“Not Like the Train Set”
(Faixa 09 - 05:12):
Aqui voltamos de início aos sons rítmicos e com pretensões agressivas de
Ottman, encontrando-nos em meio a uma música demasiada mecânica. Os
trompetes emudecidos estão de volta, pulsando enquanto as flautas
introduzem ameaçadoramente uma variação do tema de Luthor. O coro
“ah-ah” por sobre o tema nos recorda
Quarteto Fantástico. A reprise das flautas ocorre sobre uma
linha ascendente de trompetes emudecidos. É um tema que realmente
representa o caráter inteligente e ao mesmo tempo ligeiramente maníaco
do vilão, mas necessitaria de um maior desenvolvimento. Um motivo vocal
fresco vaza brevemente e nos movemos então ao tema principal, com uma
passagem ascendente conduzida pelo flautim e trompete. Ameaçadores, os
baixos e trombones retomam o tema de
Luthor. Mas tudo cessa
novamente, cortado por uma curta e resplandecente passagem com trompete
e coro feminino. Logo então os baixos e trombones retomam o tema de
Luthor. O restante da faixa
contém seções harmônicas convencionais, que se resolvem corretamente
numa nova exposição da marcha de “Superman” numa execução interessante.
“So Long Superman”
(Faixa 10 - 05:31):
Inicia-se com uma passagem minimalista, dando origem ao
leit-motif de Ottman
executado pelo coro e metais. Logo ouvimos um obscuro lamento cantado
por um coro masculino antes dos metais insurgirem sobre a cena de modo
secundário com o tema de Luthor
e alguns sons dissonantes. O violino suspenso nos evoca expectativa...
Então, trágicas, as cordas ecoam antes de se calarem. Em seguida ouvimos
a percussão lânguida ao fundo sob as madeiras e logo, estas, em
dissonância. Então ouvimos o soar de sinos e um fragmento do tema de
Luthor para trombones. As cordas ganham volume e nós ouvimos harmonias
mais longas que se transformam no
leit-motif de Ottman, se desenvolvendo em uma contida elegia
para o Homem de Aço. Um golpe metálico seguido de outros nos tira deste
transe. A elegia após alguns segundos de silêncio, vem a nosso encontro.
Ouvimos então, através de sucessivos tempos, o ressoar de tambores...
As vozes e violinos retornam e nós ouvimos as trompas executando a
Fanfarra e injetando um pouco de esperança na música. Destaca-se
especialmente nesta faixa a re-exposição lírica do
leit-motif de Ottman, ainda
que com um arranjo de cordas repetitivo e simples, não careceu de
emotividade.
“The People You Care for”
(Faixa 11 - 03:27):
Nova insinuação de ameaça. Um rol de tímpanos queda-se sobre a base
contida de um coro masculino que dá origem a um
ostinato de cordas sobre o
qual os metais sugerem a apresentação do tema de
Luthor. Somos levados então
para um ostinato de
violinos rompido pelo insurgir dos metais, com o coro, um grito estranho
se segue, prelúdio para a articulação do tema de
Luthor. Logo um delicado
ostinato de
glockenspiels toma o
ambiente e, após o surgimento do coro, ouvimos as cordas introduzindo de
modo previsível um trecho do
leit-motif de Ottman, e os metais surgem dando origem a uma
seção rítmica conduzida inicialmente pelo piano e metais que aludem ao
tema de Luthor. Os
violinos vibram psicóticos e o correr da harpa nos leva aos metais, que
heroicamente finalizam a faixa. A seção final, bastante rítmica, carece
uma vez mais de claridade, pegada e dinamismo.
“I Wanted You to Now”
(Faixa 12 - 02:56):
Esta faixa abre-se com uma melodia delicada no
glockenspiel; uma harpa
surge calmamente, então o clarinete declara uma melodia com um piano ao
fundo... Vislumbramos as cordas. Há então um desenvolvimento melódico
interessante nos compassos finais... Primeiramente o trompete profere
uma curta aparição do leit-motif
de Ottman antes da reprise pelo clarinete e logo então, da orquestra
inteira ganhando em impulso e volume. Uma grande e vigorosa execução
deste tema pelas cordas é ouvida com o acompanhamento ao fundo dos
metais. Os cellos
finalizam a faixa com uma variação do
Kent Family Theme
original.
“Saving the World”
(Faixa 13 - 03:12):
A faixa se inicia com um arranjo percussivo adaptado de “Bank Job”
(Faixa 05). Golpes orquestrais e seções corais sem muito critério de
condução nos levam até uma ameaçadora seção rítmica que desemboca
corretamente no ostinato
do “Main Titles” e ouvimos, nos metais, o tema de
Luthor que cede lugar ao
tema “Main Titles” de Williams, ilustrando a visão do minúsculo homem
que ergue a ilha. De repente tudo cessa em dissonâncias e estrondos dos
tímpanos e ouvimos o coro como uma turba repetidamente. O coro surge
vibrante e tudo termina com uma ascensão não resolvida... É o silêncio
da “morte” de Superman.
“In the Hands of the Mortals”
(Faixa 14 - 02:11):
Talvez com a intenção inicial de ser uma marcha fúnebre com melodia
coral e acompanhamento de corda, não se destacam nem o arranjo nem a
melodia em si, muito limitados em técnica, ritmo e dinâmica. Uma nota
insistente acompanha o coro infantil, talvez num anseio, mas incapaz de
desenvolver o ostinato
“Main Titles” que reviveria o herói, figurando talvez como uma variação
deste. O ostinato simples
pára e nos movemos ao motivo alternativo de amor no som do
glockenspiel suavizando
durante alguns segundos o ambiente. Assim chegamos ao fim da faixa.
“Reprise / Fly Away”
(Faixa 14 - 04:15):
Serve apenas de recapitulação amalgamada de outras faixas, sem nenhuma
novidade. Assim os créditos finais expõem os
leit-motifs “românticos” de
John Ottman e John Williams, bem como também, ao final, a “Superman
March”. Tudo com um escasso trabalho instrumental ou de novos arranjos.
Lástima, porque esta pista poderia ser a redenção, mas se resolve de
forma rápida, cômoda e preguiçosa. E isso é como termina.
Confesso que ouvir a música de John Williams nos créditos iniciais me
emocionou inesperadamente, me lançando de volta à infância, quando
esperava o ano todo para ver a reprise do primeiro filme na TV e,
sentado sozinho no sofá, assistia extasiado àquelas imagens. Esta foi a
primeira música orquestral que me chamou a atenção na vida; com 6 anos
eu a havia decorado e cantarolava-a na integra - lembro-me bem. Por
isso, não me furtei à oportunidade de comentar a trilha deste novo filme
cuja comparação com o original, como já disse, é inevitável, e até mesmo
provocada por seus organizadores. Se
Batman Begins
de Hans Zimmer e
James Newton Howard
nos deixou apenas a possibilidade de julgar se preferimos sua trilha à
original de Danny Elfman
em
Batman,
já que são díspares em estilo,
Superman Returns nos evoca a comparação pura e simples do “o
que é melhor?”. E sem dúvida, o que há de melhor em quaisquer dos
scores é John Williams. Se
tirássemos deste novo álbum toda e qualquer citação à partitura
original, o que sobraria? Resposta: quase que mais um amontoado de
insípidas partituras da moda, mas que de modo convincente (como dizem:
“funcional”), aglutinadas aos imortais temas de Williams, sob os quais
escondem suas deficiências, executam o trabalho ao qual se propõem:
musicar um filme lembrando, e apenas lembrando, por entre as distorções
dos novos e estéreis tempos, as grandes trilhas do passado. |