O que
poderia haver de interessante em um filme a respeito de um sujeito que
fica preso num aeroporto? Na verdade, pouca coisa. Mas quando o diretor
é Steven Spielberg, as coisas mudam de figura. Colhendo os louros
obtidos por
Catch Me If You Can,
a grande dupla Spielberg /
Williams volta mais uma vez a incursionar no campo da comédia
romântica. Ainda que The Terminal
não tenha obtido o êxito esperado, como teve sua
colaboração anterior, o diretor e o compositor aproveitaram bem os
recursos oferecidos por um roteiro deste tipo, centrando-se no aspecto
das emoções humanas. Com seu score
para The Terminal, John
Williams agrega mais uma obra-prima ao seu genial repertório. Resulta
verdadeiramente admirável a forma como o compositor é bem sucedido, ao
dotar uma história tão simples com uma música tão imaginativa. Também
resulta incrível como o maestro é capaz de voltar a nos surpreender com
uma partitura, que é extremamente detalhada, também simples, mas nunca
simplista.
"The Tale of Viktor Navorski" introduz o tema principal desta obra, no
qual alguns percebem um tributo às clássicas composições de
Nino Rota. Este tema
se caracteriza por seus solos de clarinete e seus acompanhamentos de
cordas, em um estilo alegre e jovial que conhecemos do Williams de
Accidental Tourist ou da já
mencionada Catch Me If You Can.
"Dinner with Amelia" nos apresenta o desenvolvimento do tema de amor
entre o personagem interpretado por Catherine Zeta-Jones e o de Tom
Hanks. "Beleza" é a palavra que melhor define este tema. A orquestra de
Williams nos emociona com seus delicados giros instrumentais, sem cair
nunca no sentimentalismo barato. "Jazz Autographs" incursiona no campo
das melodias menos tradicionais, daquele "Johnny" Williams. Aqui um
dueto entre piano e baixo faz a delícia do tema. "Krakozhia National
Anthem" marca uma mudança substancial no espírito do álbum, para
apresentar uma fanfarra do suposto (e fictício) país de origem do
protagonista.
"A Happy Navorski Ending" volta ao desenvolvimento do tema principal do
filme - esse tema tão cativante - para encerrar a obra com variações do
mesmo ao melhor estilo instrumental.
The Terminal não se parece em nada com as grandes obras
sinfônicas dos filmes de ação e aventura de John Williams. Talvez seja
por esse motivo que os fãs não receberam bem, e com a necessária
atenção, a este excelente score. Contudo, dentro de sua sutileza
e detalhe, é onde reside a sua maior genialidade. Em um campo tão
difícil de composição, como é o da comédia romântica, John Williams
demonstra, mais uma vez, que até mesmo uma partitura sua menos
impactante pode ser melhor que a composição mais fervorosa de qualquer
um de seus jovens colegas.
|