A SÉRIE
Para mim, assim como para a maioria dos que nasceram após a
chegada da TV ao Brasil, esta mídia foi descoberta bem antes do cinema.
Assistir filmes na telinha foi algo que me levou a descobrir,
posteriormente, as delícias da tela grande. E, também, constatei que TV
(mesmo em meio a tantos lixos como reality shows, novelas e
programas apelativos) e cinema, apesar de diferentes, têm semelhanças e
produzem, de tempos em tempos, obras de qualidade que, muitas vezes,
alimentam-se um do outro. Filmes de cinema são, com freqüência,
adaptados como séries de TV (Planeta dos Macacos, La Femme
Nikita); estas, por sua vez, não raro ganham versões
cinematográficas (Missão Impossível, Perdidos no Espaço,
As Panteras). Em certos casos, shows de TV adotam
elementos e linguagem tipicamente cinematográficos, tal como 24 Horas.
No filme Tempo Esgotado (Nick of Time, de 1995, com
Johnny Depp e Christopher Walken), o diretor John Badham conta a
história de um homem que, após o seqüestro da filha, tem 90 minutos para
matar a governadora da Califórnia. Se não fizer isso, sua filha será
morta. A ação do filme transcorre em tempo real... Cito isto apenas para
lembrar que o conceito de 24 Horas, série de sucesso que vem
acumulando prêmios desde sua estréia nos EUA em 2001, e que estourou no
Brasil no início de 2004, quando teve sua primeira temporada exibida
pela Globo, não é inédito como muitos pensam. Apesar disso, ao transpor
esta idéia do cinema para a TV, os criadores da série acabaram se saindo
melhor que Badham, produzindo um dos melhores e mais cinematográficos
seriados norte-americanos de todos os tempos. Cada um dos 24 capítulos,
obviamente, corresponde a uma das 24 horas nas quais a trama se inicia e
se encerra - com freqüência surge na tela um cronômetro digital
informando o horário em que se passa a ação. Stephen Hopkins, diretor de
filmes como Predador 2, A Sombra e a Escuridão e
Perdidos no Espaço, além de ser co-produtor da primeira temporada de
24 Horas dirigiu vários episódios, com destaque para o primeiro -
no qual foram estabelecidas as principais características visuais do
programa: a edição rápida, o recurso de dividir a tela em vários
quadros, cada um correspondendo a eventos simultâneos que ocorrem em
lugares diferentes, e a câmera nervosa que registra tudo em um tom
semi-documental. Nesta primeira temporada, acompanhamos 24 atribuladas
horas da vida de Jack Bauer (Kiefer Sutherland), chefe da Unidade
Anti-Terrorismo de Los Angeles (CTU, no original), durante as quais ele
deverá evitar um atentado contra o Senador David Palmer (Dennis Haysbert),
o primeiro afro-americano com chances reais de ser eleito presidente dos
EUA. Em sua missão ele tem a ajuda de seus colegas da CTU, especialmente
de Nina (Sarah Clarke) e Tony (Carlos Bernard), porém há informações de
que um deles pode ser um traidor. Para piorar as coisas, sua filha Kim (Elisha
Cuthbert) e sua esposa Teri (Leslie Hope) são seqüestradas, e Jack é
pressionado para colaborar no atentado contra a vida do candidato à
presidência. Mas isso é apenas uma parte da história. Há outros eventos,
como a trama que envolve um incidente ocorrido com o filho de Palmer, e
as resistências que Bauer enfrenta dentro da própria CTU - muitos querem
a sua cabeça por ter denunciado colegas suspeitos de corrupção. E, a
partir da segunda metade da temporada, quando vão sendo descobertos os
autores do plano, Bauer constata que seu envolvimento no atentado contra
Palmer tem outras implicações. E mais não dá para dizer, já que a melhor
maneira de apreciar 24 Horas é saber o menos possível de sua
trama. No entanto, se você já assistiu à série, este box-set da
Fox é uma boa maneira de reviver boa parte de seu suspense, tensão e
adrenalina, sem pausas para comerciais. Obviamente que alguns furos do
roteiro ficarão mais evidentes, e há horas em que simplesmente não dá
para acreditar no azar da Kim Bauer, que sai de uma fria para entrar em
outra ainda pior - sem dúvida ela é a garota mais azarada do planeta.
Isso poderia ser um problema em uma série que adota um tom realista, mas
felizmente os acertos são tantos que, ao final, as falhas são facilmente
perdoadas. E, afinal das contas... It´s only a TV Show.
O
DVD
A qualidade de vídeo é muito boa, os episódios são apresentados em
seu formato original widescreen anamórfico otimizado para TVs
16x9, ressaltando a qualidade cinematográfica da série. As cores são
ricas e bem balanceadas, o contraste é excelente. O visual da série é
ameaçador, às vezes sombrio, e a transferência para DVD preserva e
ressalta estas qualidades. Alguns artefatos de compressão MPEG-2 são
visíveis em determinadas cenas, mas de um modo geral, quem assistiu à
série na TV (aberta ou paga) terá aqui uma qualidade de imagem muito
superior. O áudio também é bom, apesar de ser apenas Dolby Digital 2.0
Surround em inglês, português e espanhol (a série passou a ser gravada
em 5.1 canais somente a partir da segunda temporada). Os diálogos são
claros, os canais traseiros fortalecem a ambientação e o tenso score
musical de Sean Callery envolve o ouvinte.
As legendas estão disponíveis em português, espanhol e inglês.
No mais, é de se lamentar que a Fox
continue insistindo, em seus box-sets, com um modelo de embalagem
onde os discos freqüentemente ficam soltos - isso quando o próprio
suporte plástico que fixa o DVD não se descola do papelão.
OS EXTRAS
Nesta área, o lançamento deixa a desejar. Pelo que se sabe esta
primeira temporada foi lançada meio que às pressas nos EUA, e a Fox não
teve tempo de reunir ou produzir material especial para o DVD. Tudo que
temos é um dos dois finais alternativos que foram filmados (dada a
continuidade da série, ele só pode ser considerado mesmo como mera
curiosidade), com comentário de áudio opcional do produtor-executivo, e
uma introdução com Kiefer Sutherland da primeira temporada, na qual ele
aproveita e faz uma rápida chamada para a segunda. Felizmente, para o
box da temporada seguinte (que também deverá ser lançado brevemente
por aqui), haverá uma boa quantidade de material suplementar.
CONCLUSÃO
24 Horas pode não ser a melhor série que você já viu na TV, mas
certamente é uma das melhores por ser original e vibrante, alcançando a
todo o momento níveis cinematográficos de tensão e suspense. E estes
seis DVDs são a maneira perfeita para vê-la ou revê-la.
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