O FILME
Em 2019, formas de
vida criadas através de engenharia genética, os Replicantes, são
utilizadas fora da Terra em tarefas pesadas, perigosas ou degradantes.
Fabricados pela Tyrell Corporation, os modelos Nexus-6 são fisicamente
idênticos aos humanos, porém mais fortes e ágeis. Devido a problemas de
instabilidade emocional, grande agressividade e reduzida empatia, eles
têm um período de vida limitado a quatro anos. A presença de Replicantes
na Terra é declarada ilegal após uma revolta, e é criada uma força
policial especial, os Blade Runners, para caçá-los e matá-los. Um
pequeno grupo rebelde de Nexus-6 formado por Roy Batty (Rutger Hauer),
Zhora (Joanna Cassidy), Leon (Brion James) e Pris (Daryl Hannah), chega
em uma Los Angeles perpetuamente escura e chuvosa para tentar descobrir
uma forma de aumentar seu ciclo de vida. Rick Deckard (Harrison Ford),
um Blade Runner recém aposentado, é chamado de volta à ativa para
persegui-los. Deckard conhece e se apaixona por Rachael, uma bela moça
que desconhece ser Replicante, e ele começa a questionar o que
significa, na verdade, ser “humano”.
Quando foi lançado nos cinemas em 1982, Blade Runner foi recebido
com frieza tanto pelo publico como pela crítica. Lembro que saí do
cinema pensando na coragem do diretor Ridley Scott, que após ter feito a
aclamada sci fi de horror
Alien, O Oitavo Passageiro,
aceitou a tarefa de realizar outra ficção-científica, uma espécie de
filme noir futurista baseado num livro de Philip K. Dick –
portanto com ambientação e temáticas completamente diferentes de seu
sucesso anterior. Os anos passaram, e após o filme ser lançado em vídeo
ele começou a ser reavaliado e foi objeto de muitas discussões,
alimentadas pelos muitas interpretações das imagens e eventos mostrados
por Scott. Como resultado, Blade Runner, hoje, é considerado com
justiça um clássico da ficção-científica, a obra cinematográfica
definitiva sobre criaturas artificiais que buscam sua humanidade - tema
recorrente em muitos filmes e séries do gênero. Mas o diretor nunca
escondeu sua insatisfação com a versão original lançada nos cinemas
americanos, já que por imposição do estúdio, que considerou a trama
complicada, ele teve que adicionar uma narração explicativa de Harrison
Ford em alguns momentos. Além disso, quiseram dar à produção um
tom mais otimista e menos sombrio, eliminando alguns takes mais
violentos, uma cena de sonho de Deckard e adicionando um equivocado
final feliz, emoldurado por tomadas aéreas originalmente filmadas para
O Iluminado. Anos mais tarde, com a consagração do filme, foi
lançada em DVD uma “versão do diretor” (ainda que sem o envolvimento de
Scott) sem a narração de Ford, sem o final feliz e, o mais importante,
com a cena em que Deckard sonha com um unicórnio, que dá uma nova
interpretação para a natureza do personagem. Esta versão era a única até
então lançada em DVD, até que em 2007 o filme foi novamente exibido nos
cinemas dos EUA em uma “versão final”, agora supervisionada por
Ridley Scott e que representa, segundo ele, a sua visão definitiva de
Blade Runner. Basicamente esta versão é a mesma “versão do diretor”,
porém cuidadosamente restaurada, com ajustes nos efeitos visuais de
Douglas Trumbull e a correção de alguns problemas pré-existentes. Suas
principais características são:
-
A
cena de Deckard esperando para comer no White Dragon foi
encurtada, uma vez que a narração foi eliminada;
-
As cenas de violência eliminadas (que no entanto constaram na versão
de cinema internacional) foram reinseridas;
-
Quando Bryant e Deckard estão examinando os perfis dos Nexus-6,
Bryant descreve o trabalho de Leon;
-
Desde seu lançamento o filme tinha um grande furo no enredo – a
introdução falava em seis Replicantes fugitivos, mas depois só
víamos quatro. Para resolver isso uma fala de Bryant foi redublada,
informando que dois deles já haviam morrido em um campo elétrico;
-
Quando Gaff e Deckard chegam no apartamento de Leon, o síndico diz 'Kowalski';
-
Quando vemos Roy Batty pela primeira vez, o fundo da imagem foi
alterado para combinar com o resto da cena;
-
O
diálogo entre Deckard e o comerciante de cobras artificiais Abdul
Ben Hassan, que estava fora de sincronia, foi corrigido;
-
Várias tomadas com figurantes foram restauradas, como a de duas
strippers vestindo máscaras de hóckey e a de Deckard falando com
outro policial;
-
A
versão integral da cena do unicórnio foi inserida;
-
Na seqüência em que Deckard persegue Zhora, o rosto da atriz Joanna
Cassidy foi digitalmente sobreposto ao da dublê;
-
Uma cicatriz no rosto de Deckard após a 'retirada' de Zhora foi
removida, por razões de continuidade;
-
Quando Batty confronta seu criador, Tyrell, ele diz em inglês 'I
want more life, father' (ao invés de 'I want more life, fucker');
-
Após matar Tyrell, Batty diz para a sua próxima vítima 'Me desculpe
Sebastian. Venha. Venha', o que serve para realçar a crise de
consciência do personagem;
-
Quando Batty solta o pombo, os prédios de fundo agora são os da Los
Angeles de 2019.
Não
tenho dúvidas de que a nova “versão final” é a melhor de todas. Mas
para aqueles que por acaso pensarem diferente, não há problema: esta
nova Edição Especial, além dela, traz mais três versões do filme para
contentar a gregos e troianos, todas com a duração aproximada de 117
minutos.
O
DVD
Nos
EUA, esta “versão final” de Blade Runner, produzida por
Charles de
Lauzirika, foi lançada em edições com dois,
quatro e cinco DVDs, sendo a última embalada numa maleta que traz vários
itens de colecionador, como miniaturas e cards. Os DVDs
adicionais trazem mais um conjunto de extras (como as cenas deletadas e
os segmentos de produção reunidos sob o título "Enhancement Archive") e
a primeira montagem do filme, vista apenas em exibições-teste. Ela
possui uma abertura diferente, tem a narração de Deckard apenas no
final, não traz a cena do unicórnio e nem o final feliz e contém
diálogos diferentes entre Batty e Tyrell, entre outras coisas. É uma
versão claramente não finalizada, com música temporária na trilha sonora
e que deve interessar apenas aos mais radicais fãs do filme. Aqui no
Brasil recebemos uma versão intermediária com três DVDs, disponível em
duas versões – uma com embalagem Amaray envolta numa luva de papelão, e
outra que também vem numa maleta com itens de colecionador. Em ambas o
conteúdo dos discos é idêntico – os mesmos extras e nada menos que
quatro versões do filme: a versão final, as duas versões de cinema de
1982 (uma para o mercado norte-americano e a outra para o mercado
internacional) e a versão do diretor. Todas tiveram vídeo (no formato
widescreen anamórfico 2.35:1) e áudio (Dolby Digital 5.1)
remasterizados, mas foi a “versão final” que recebeu os maiores
cuidados, restaurada digitalmente a partir dos elementos originais de
forma a eliminar imperfeições, danos ou sujeiras. A imagem apresenta um
nível de detalhe que ultrapassa qualquer lançamento anterior do filme, e
isso em DVD standard – quando escrevi esta resenha, a versão em
alta definição (Blu-ray e HD-DVD) ainda não havia sido lançada aqui. Os
níveis de brilho, contraste e nitidez impressionam, as cores são firmes
e vivas e inexistem artefatos de compressão. O áudio em inglês Dolby
Digital 5.1 da versão final é estupendo, propiciando ao espectador uma
profunda imersão no ambiente sonoro do filme, onde percebem-se em
detalhes até mesmo ruídos discretos como vozes, o barulho da chuva,
trovões e sons de uma caótica cidade futurista. Ele possui toda a
potência que faltava no áudio 2.0 e mesmo nas faixas multicanais das
outras versões do filme incluídas. Um dos melhores exemplos disso é na
cena em que Deckard dispara sua arma em Zhora, onde ouvimos um
grave forte e profundo. Mas o que mais se destaca no áudio é, sem
dúvida, a antológica trilha musical de
Vangelis, responsável por boa
parte da atmosfera do filme. Ela envolve o ouvinte com toda a sua
excelência sonora, algumas vezes eclipsando (intencionalmente) o diálogo
e os efeitos sonoros. Aliás, se algum reparo há de ser feito ao novo
áudio do filme é quanto aos diálogos, que em alguns poucos trechos soam
baixos ou abafados. Problemas sem dúvida com as masters
originais, mas é algo que passará despercebido para muitos e
que não chega a comprometer a avaliação final. As
versões de cinema agora também contam com a dublagem original em português
(mono). Em
todas as versões incluídas, o filme possui as opções de legendas em
português, inglês e espanhol.
OS
EXTRAS
Disponível anteriormente apenas em DVDs básicos, sem extras, finalmente
Blade Runner recebe um tratamento à altura e, mesmo esta edição
com “apenas” três DVDs traz um extenso material sobre o filme, sua
produção e sua influência.
Disco 1
-
Introdução de Ridley Scott (37 seg.) –
Em sua introdução à “versão final” de Blade Runner, o diretor
explica porque esta é a sua versão preferida do filme, mas sem
detalhar muito suas características. Com legendas em português;
-
Comentários em áudio
– A versão final traz não uma, mas três faixas de comentários de
áudio: a primeira com Ridley Scott, a segunda com os roteiristas
Hampton Fancher e David Peoples, o produtor Michael Deeley e a
produtora executiva Katherine Haber, e a terceira com Syd Mead e Lawrence G. Paull (desenho de produção),
Douglas Trumbull e Richard Yuricich (efeitos visuais), David Snyder (direção de
arte)
e David Dryer (efeitos especiais). O destaque sem dúvida são os comentários de Scott,
que conhece como ninguém o filme e nos transmite seu exato
significado. As demais faixas detalham mais os aspectos de produção,
e no conjunto agradarão aos devotos fãs do filme. Infelizmente, como
de hábito, a Warner não legendou os comentários.
Disco
2
-
Introduções de Ridley Scott (98 seg.) -
Cada uma das três “versões arquivadas” do filme, presentes no disco
2, tem uma breve introdução do diretor (por volta de 30 segundos
cada), onde Scott explica suas principais características. Ao
contrário da introdução da “versão final”, nenhuma delas recebeu
legendas em português;
Disco 3
- Dias
Perigosos: Realizando Blade Runner (213 min.)
– Este
documentário de mais de três horas e meia, em wide anamórfico,
com áudio em inglês 2.0 e legendas em português, é o principal extra
do pacote
e
não tenho dúvidas de que, mesmo se fosse lançado separadamente,
valeria a pena ser adquirido. Trata-se de um dos melhores e mais
completos documentários já produzidos sobre um filme lançado no
Brasil, e é impossível detalhar o que ele contém. Mas,
resumidamente, dá para dizer que em seus oito capítulos ele cobre
cada aspecto da produção, iniciando com a gênese do projeto
(inspirações, roteiro, financiamento, etc.) e
seguindo para a pré-produção, escolha do elenco, produção, desenho
de produção, efeitos especiais, recepção da crítica e muito mais. Os
capítulos, que podem ser vistos em seqüência (basta selecionar
Iniciar), ou então acessados individualmente, são: “Data de
Início - 1980: Acordos e Roteiros Refeitos” (30 min.), “Resposta
Tímida: Reunindo o Elenco” (22 min.), “Um Bom Começo: Desenhando o
Futuro (26 min.), “Auge da Tempestade: Produção I (28 min.),
“Vivendo com Medo: Produção II” (29 min.), “Além da Janela: Efeitos
Visuais” (28 min.), “Precisando de Magia: Edição e Narração (23
min.), e “Retorno do Inferno: Reação e Ressurreição” (24 min.).
Todos os principais envolvidos no filme, incluindo Harrison Ford,
Ridley Scott, Sean Young e membros das equipes envolvidas nos
variados estágios da produção, dão seus depoimentos. Também
participam pessoas para as quais Blade Runner foi uma
importante fonte de inspiração, como os cineastas Guillermo Del Toro
e Frank Darabont. A quantidade de informações fornecidas é espantosa
- os fãs poderão ver pela primeira vez storyboards de cenas
de abertura nunca filmadas (onde Deckard possui a aparência de
Dustin Hoffman, que quase foi contratado para o papel), e ouvir uma
narração nunca usada de Ford – e isto só para exemplificar. Um
fascinante e altamente recomendado documentário.
MENUS
Os menus
animados são caprichados, mas apresentam alguns erros de tradução
(afinal, o que seria “versão impressa”?).
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