SINOPSE
Ao voltar para casa depois de servir na Guerra do Iraque, o jovem
Mike desaparece e é considerado foragido do exército. Seu pai, o
ex-militar Hank Deerfield, recebe o telefonema com as notícias
perturbadoras e parte em busca do filho, deixando sua mulher Joan em
tensa expectativa. Emily Sanders, uma investigadora de polícia da
jurisdição em que Mike foi visto pela última vez, ajuda-o na busca,
inicialmente relutante. Conforme as provas começam a surgir, o que era
um caso de desaparecimento configura-se como suspeita de assassinato.
Emily e Hank têm então de enfrentar o alto escalão militar para manter a
investigação em processo. Mas quando a verdade sobre o serviço de Mike
no Iraque finalmente é descoberta, Hank é forçado a reavaliar suas
crenças para desvendar o mistério por trás do sumiço do filho.
COMENTÁRIOS
É de conhecimento público que, no histórico
confronto entre David e Golias, um menino simples e pobre derrotou um
gigante que todos temiam, armado apenas de uma funda e algumas pedras. O
confronto, todos sabem, ocorreu no Vale do Elah, situado em uma região
hoje localizada no Estado de Israel. David é, também, o nome de dois
personagens do filme. Um, o filho mais velho dos personagens de Tommy
Lee Jones e Susan Sarandon, que não aparece no filme - o rapaz
desencarnara 10 anos antes da ação da trama. O outro, o filho pequeno da
personagem de Charlize Theron, uma oficial da polícia que auxilia o
militar interpretado por Jones a desvendar o misterioso desaparecimento
de seu outro filho - que sumira da base militar na qual estava dias após
haver retornado do Oriente Médio.
A cena em que o militar conta para o menino a clássica história,
ocorrida há milhares de anos atrás, mas presente de forma perene nos
corações e almas da humanidade, é interessante - mas o único momento do
filme digno dessa definição. Em seu novo filme, este No Vale das
Sombras (In The Valley of Elah, 2007), o diretor do
supervalorizado Crash - No Limite realiza um filme que, se não é
tão ruim quanto o anterior, revela-se hermético, desinteressante, fraco
como drama policial e, pior, tão racista, machista e preconceituoso
quanto a obra que o consagrou.
Na busca do Hank Deerfield de Tommy Lee Jones para esclarecer o brutal
desaparecimento do filho, quem revela muitos prismas de sua faceta não é
o personagem, nem mesmo algum coadjuvante (embora haja algumas
alterações e revelações quanto às condutas de alguns personagens, o
filme é bastante retilíneo nesse sentido): é Haggis, que ao conduzir sua
trama, trata com constrangedora naturalidade o envolvimento de soldados
com prostitutas, bebidas e drogas - como se tal hábito não fosse motivo
de condenação, e embriagar-se fosse algo válido em dias de folga. Mais
adiante, o protagonista (jamais herói) agride com socos e palavras
racistas um personagem mexicano, como se revolta e ódio justificassem
agressão física e moral. Como já fizera no hediondo Crash, Haggis
parece sugerir que o fato de Deerfield estar nervoso justifica tais
práticas.
E, em se tratando de um filme indicado ao Oscar de melhor de ator
(Jones), a realização é bastante fraca do ponto de vista interpretativo:
Jones e Theron estão apenas bem (a atriz, por sinal, está excessivamente
desglamourizada, como se o cineasta sentisse algum prazer em pegar uma
jovem lindíssima e torná-la feia), e a magnífica Susan Sarandon é
cruelmente desperdiçada em um papel que só lhe permite poucas cenas - e,
em uma delas, a atriz quase salva o filme, quando comparece a um
hospital situado a dias de sua casa para ver o estado em que se encontra
o filho. Com o olhar, a atriz emociona muito mais e diz muito mais
coisas do que Jones e Theron com sua carga de textos e cenas no decorrer
da realização. Não é suficiente para salvar o filme, mas basta para
colocar no coração do espectador um sentimento de ternura e doçura que a
estória de um pai procurando localizar o filho deveria ter não em apenas
alguns segundos, mas durante toda a metragem.
DVD
Infelizmente, numa época em que já são lançados filmes em Blu-ray de
alta definição até aqui no Brasil, as distribuidoras nacionais continuam
lançando DVDs arcaicos como este. O filme, bem recente, está em formato
de tela letterbox, que apesar de respeitar seu aspect ratio
original, é não anamórfico - ao mesmo tempo que nos televisores 4:3
deixa tarjas pretas acima e abaixo da imagem, não se adapta direito aos
televisores 16:9. Portanto, uma apresentação ultrapassada. Pelo menos o
áudio original é Dolby Digital 5.1, em contraponto à dublagem em
português, que é apenas 2.0. As legendas estão disponíveis em português
e inglês.
EXTRAS
Quando ao material adicional oferecido pelo DVD, o mesmo é bastante
limitado; há dois documentários, corretos mas bastante burocráticos -
DEPOIS DO IRAQUE e VOLTANDO PARA CASA -, nitidamente realizados com o
objetivo de não deixar passar em branco a seção de extras. Sinopse e
ficha técnica, itens quase obrigatórios, também constam do material
oferecido, mas trazem apenas as informações básicas que, geralmente, já
são do conhecimento geral do espectador ao escolher o filme para
assistir. Estando o diretor Paul Haggis com o prestígio tão em alta
(imerecidamente ou não), NO VALE DAS SOMBRAS poderia trazer, em seu DVD,
informações bastante ricas sobre seu diretor e o processo criativo deste
- mas isto não ocorre, e mesmo a oportunidade de falar sobre si mesmo
(característica que, afinal, é boa parte da razão de ser da seção de
extras de um DVD) é desperdiçada por esse maçante e equivocado filme.
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