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O ILUMINADO
Produção:
1980
Duração: 119 min.
Direção:
Stanley Kubrick
Elenco: Jack Nicholson, Shelley
Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Barry Nelson, Philip Stone,
Joe Turkel, Anne Jackson
Vídeo: Widescreen Anamórfico 1.85:1 (1080p/VC-1)
Áudio: Inglês (PCM 5.1 , Dolby Digital 5.1), Espanhol,
Francês, Alemão, Italiano (Dolby Digital 5.1)
Legendas: Português (Brasil / Portugal), Inglês, Espanhol,
Chinês, Dinamarquês, Holandês, Finlandês, Francês, Alemão
Nº de discos: 1
Região: A, B, C
Distribuidora:
Warner
Lançamento: 12/08/2008 |
Cotações:
Filme -
Imagem:
Áudio:
Extras/Menus:
Média:
Comentários de
Jorge Saldanha |
SINOPSE
Jack Torrence (Jack Nicholson) é um escritor que, recuperando-se do
alcoolismo, aceita o emprego de zelador do Hotel Overlook, no Colorado.
Ele, sua esposa Wendy (Shelley
Duvall) e o filho de sete anos Danny (Danny Lloyd) se mudam para o
hotel, onde permanecerão isolados pela neve durante todo o inverno.
Danny possui poderes telepáticos que se
manifestam como um amigo imaginário chamado Tony, que lhe mostra visões
apavorantes do futuro. A vida no hotel vazio transcorre tranqüilamente
até que o menino, percorrendo os corredores em seu triciclo, vê duas
meninas fantasmagóricas. Outras coisas estranhas começam a acontecer, a
sanidade de Jack começa a ser afetada e logo as vidas de Wendy e Danny
passam a correr perigo.
COMENTÁRIOS
O falecido Stanley Kubrick é considerado com toda justiça um dos maiores
diretores da história do cinema. Sendo fotógrafo profissional antes de
dedicar-se à Sétima Arte, ele desenvolveu um apurado estilo visual que
atingiu seu ápice em 2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (1968). Após o
fracasso de público de BARRY LYNDON (1975), Kubrick decidiu
aventurar-se no gênero terror, aceitando da Warner a tarefa de levar às
telas um dos mais populares livros de Stephen King, O ILUMINADO (THE
SHINING).
Mas por ser um legítimo diretor autoral, Kubrick, a fim de dar sua visão
própria ao filme, alterou significativamente a trama e alguns aspectos
importantes do livro. Tanto que King, publicamente, declarou não ter
gostado da adaptação e não descansou enquanto não fez a sua própria
versão, que chegou à TV em 1997 na forma de uma mini-série que, ao
contrário do filme de Kubrick, hoje é pouco lembrada. Se na história
original de King o sobrenatural era real, com o Hotel Overlook
(construído sobre um antigo cemitério indígena) sendo de fato a morada
de uma entidade maligna e fantasmas, o filme enfatizou os aspectos
psicológicos e paranormais, deixando a impressão de que o que surge na
tela não passa de visões nas mentes de Jack e Danny.
O maior medo
provocado pelo filme não vêm dos fantasmas (que na visão de Kubrick
seriam ecos ou energias negativas deixados no local pelos crimes
praticados), mas sim da ameaça originada dentro da própria família.
Apesar de ignorar praticamente todas as maiores fontes de sustos do
livro de King, a abordagem do diretor, ao final, realça o que é a
essência dele – o desespero de um homem de meia-idade que se vê
fracassar como escritor, pai e marido, levando-o a uma progressiva
demência que o torna uma ameaça às pessoas que o amam. Mesmo assim O
ILUMINADO ainda é a clássica história da casa mal-assombrada que
prega sustos no espectador, porém transposta às telas por um gênio que
eleva o gênero para um nível mais sofisticado. Nela o diretor consegue
incutir um senso de ameaça latente e constante, sabemos que algo ruim
irá acontecer mas não fazemos idéia de quando, onde e como. Para isso
ajudam bastante as interpretações convincentes que o diretor extraiu de
seu trio de atores principais, não raras vezes após incontáveis takes
extenuantes. Na época parte da crítica considerou a atuação de
Nicholson caricata e exagerada, mas seguidas revisões do filme
comprovaram que ela era bem mais que isso, possuía sutilezas que
permitiram mostrar de forma convincente a transformação de um pai de
família gentil em um psicopata assassino. Os momentos de insanidade de
seu personagem originaram cenas que hoje são clássicas no cinema de
horror, como a em que ele golpeia a machadadas a porta do banheiro onde
sua esposa se refugiou, coloca a cabeça pelo buraco da porta, olha para
Wendy com um sorriso ensandecido e anuncia “Aqui está Johnny!”.
Shelley
Duvall, a quem o diretor tratou asperamente durante as filmagens,
fragilizando-a para que, na tela, expusesse uma legítima
vulnerabilidade, igualmente está muito bem. Em outra cena clássica, ela
examina os textos no qual Jack estava trabalhando nas últimas semanas, e
com angústia lê apenas a frase “Só trabalho sem diversão fazem de Jack
um bobão” (na tradução original do cinema) nas folhas datilografadas. É
neste momento que Wendy descobre que seu marido enlouquecera, e a cena é
particularmente admirável porque dispensa diálogos, baseando-se apenas
na manipulação de imagens feita por Kubrick e na expressão facial da
atriz, cujo desespero aumenta conforme ela vai folheando as páginas
contendo a mesma frase repetida incontáveis vezes. Por fim o garoto
Danny Lloyd, apesar da pouca idade, também teve uma atuação exemplar,
ainda mais considerando as difíceis situações enfrentadas por seu
personagem.
Além do elenco, outra ferramenta habilmente utilizada por
Kubrick no filme foi a Steadicam, operada por seu próprio
inventor, Garrett Brown. A aplicação de lentes wide na câmera deu
um tom assustador ao filme, fazendo com que os personagens fiquem
isolados em cenários e locações que parecem maiores do que realmente
são. O constante movimento da Steadicam, muitas vezes quase ao
nível do chão, dá a sensação de que os atores estão sendo seguidos por
alguém – ou alguma coisa. As cenas de Danny andando de triciclo pelos
corredores, e ao final correndo no labirinto do jardim do hotel, devem
ser vistas obrigatoriamente por qualquer diretor de fotografia. Não
podemos também esquecer da assustadora trilha musical que utiliza peças
eruditas e composições originais de Wendy Carlos. Juntamente com um
primoroso trabalho de edição de som, ela é o elemento final que faz de
O ILUMINADO um filme de terror único, uma das raras obras-primas
do gênero em tempos modernos.
O BD
No Brasil O ILUMINADO fora lançado em DVD há alguns anos numa edição
satisfatória pela Warner, que em um único DVD trazia alguns extras e o
filme numa ótima transferência remasterizada fullscreen 1.33:1
que, na realidade, praticamente correspondia à proporção na qual Kubrick
filmou (1.37:1) a fim de evitar as enormes perdas de imagem que alguns
dos seus filmes sofreram quando passaram na televisão. Mas para sua
exibição original nos cinemas O ILUMINADO foi adaptado para a
proporção 1.66:1, e sua metragem de 144 minutos reduzida em 25 minutos
para o mercado europeu. A eliminação de cenas dispensáveis deu ao filme
um ritmo mais ágil, e esta é a versão que a Warner lançou no Brasil em
DVD duplo e Blu-ray, trazendo novos extras. A remasterização do DVD anterior já
resultara numa ótima qualidade de imagem, e o padrão foi mantido aqui,
apenas com a diferença de que agora o vídeo é widescreen
anamórfico na proporção das telas de cinema. Se comparada
com a versão anterior, nesta nova, obtida a partir de uma matriz open
mate, haverá alguma redução de imagem nas partes superior e inferior
da tela. Nada que preocupe, afinal Kubrick
já filmou tendo em mente a formatação para o cinema, de forma que a
imagem que é perdida é redundante (ver comparação abaixo). E acredite – é no
cinema (ou no mínimo num home theater caprichado) que O ILUMINADO realmente atinge o espectador.
Comparação
entre os formnatos de tela de O ILUMINADO (Full x Widescreen Anamórfico) |
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Em Blu-ray, a transferência 1080p/VC-1 se caracteriza por possuir ótimo contraste
e excelente reprodução da paleta de cores criada pelo cineasta. Em
comparação à versão em DVD, há um ganho considerável no nível de
detalhes, ainda que em alguns momentos ela permaneça suavizada -
característica da filmagem original. Ela também realça o cuidadoso
processo de restauração do filme, que eliminou da película os riscos e
sujeiras. É uma apresentação que, pela primeira vez, traz ao home
video de forma plena a estética visual de O ILUMINADO. O áudio em inglês
PCM 5.1 (48kHz/16-bit/4.6mpbs) sem compressão proporciona uma melhor
imersão no ambiente claustrofóbico
e assustador do filme, ainda que demonstre a limitação das técnicas de
captação e gravação sonoras da época. O uso dos efeitos surround
é discretíssimo, e os graves pouco se fazem presentes. Os diálogos, na
maior parte do tempo, são bem reproduzidos. Além da faixa lossless,
temos áudio Dolby Digital 5.1 em inglês, espanhol, francês, alemão e
italiano. As legendas estão disponíveis em português (Brasil e
Portugal), inglês, espanhol, chinês, dinamarquês, holandês, finlandês,
francês e alemão.
OS EXTRAS
Do DVD anterior de O ILUMINADO, esta nova Edição Especial
manteve o trailer, o making of de Vivian Kubrick e ganhou
comentários em áudio e alguns documentários muito bons. O detalhe é que
em Blu-ray os vídeos (anamórficos, exceto quando informado em
contrário), em resolução standard (480p/MPEG-2) e com áudio
original 2.0, diferentemente do filme trazem apenas a opção de legendas
em português de Portugal.
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Comentários em áudio de Garret Brown e John Baxter
– Os comentários do inventor da Steadicam Brown e do escritor
Baxter são interessantes, especialmente os do primeiro, já que sua
câmera teve um papel importantíssimo no filme. Mas fazem falta
comentários dos atores principais, e é uma pena que Kubrick tenha
falecido em 1999 sem ter gravado uma faixa de comentários para DVD.
Também é uma pena que a Warner tenha “esquecido” de legendar os
comentários;
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View from the Overlook: Crafting THE SHINING (26 min.)
- Documentário que inclui depoimentos dos escritores
John Baxter e Paul Duncan, do produtor executivo Jan Harlan, da
roteirista Diane Johnson, de diretores como Sidney Pollack, Steven
Spielberg e William Friedkin, dos atores Jack Nicholson e Scatman
Crothers, e de outras pessoas envolvidas na produção. É dividido em
seções que se concentram na adaptação da história, nos cenários e no
elenco;
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The Visions of Stanley Kubrick
(15 min.)- Este
documentário explora o estilo e as técnicas do diretor,
através de entrevistas e depoimentos com muitos dos que também
participaram do documentário anterior. A ênfase aqui é com o detalhismo e o controle de Kubrick, e no longo tempo dedicado ao
projeto;
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The Making of 'HE SHINING (35 min.,
Fullscreen) – Registro realizado pela filha de Kubrick, Vivian,
durante as filmagens (na época ela tinha apenas 19 anos), mostrando
interessantes cenas de bastidores principalmente de Jack Nicholson e
Shelley Duvall. É curioso o contraste de Nicholson, que sempre
parece divertido e à vontade, com as cenas de Duvall, estressada com
as demandas do diretor. Além disso, este pequeno making of é
uma verdadeira homenagem da filha ao trabalho, à dedicação e ao
perfeccionismo do pai, e merece ser visto acompanhado pelos
comentários em áudio de Vivian – que a Warner, mais uma vez, se
“esqueceu” de legendar;
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Wendy Carlos, Composer
(7 min.) – O extra possui especial interesse para Scoretrackers
porque é sabido o
gosto de Kubrick pelo uso de música clássica e erudita em seus filmes,
e Carlos (nascido Walter, depois transformado em Wendy) foi um dos poucos compositores a escrever partituras
originais para eles. Aqui vemos Carlos, que também compôs várias
músicas para A LARANJA MECÂNICA, sentada na frente de seus
computadores, reproduzindo cues que foram ouvidas (ou não) em
O ILUMINADO e falando sobre sua criação. Mesmo que você não
seja um fã da música do cinema este é um extra que merece ser
conferido, já que Carlos claramente é apaixonada por seu trabalho,
além de ser uma grande admiradora de Kubrick.
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Trailer de Cinema
(Fullscreen)
– No famoso e intrigante trailer de O ILUMINADO, Kubrick mostra
apenas a famosa cena da onda de sangue invadindo o corredor do hotel.
Originalmente essa cena apareceria apenas no trailer, mas a reação do
público foi tão grande que o diretor a incorporou ao filme.
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