O FILME
Estamos na época da grande depressão econômica dos Estados Unidos. A
bordo do navio Venture, o diretor de cinema Carl Denham (Robert
Armstrong) e sua equipe chega na remota Ilha da Caveira, para rodar um
filme de aventuras. Lá, os nativos raptam sua atriz Ann Darrow (Fay Wray)
para oferecê-la em sacrifício ao seu deus, Kong. Quando Denham e os
marinheiros chegam para salvá-la, vêem Kong, um gorila gigante com oito
metros de altura, levar Ann para as selvas da ilha. Uma equipe liderada
pelo marujo Jack Driscoll (Bruce Cabot) é enviada para resgatá-la, porém
quase todos são mortos por Kong e criaturas pré-históricas que lá
habitam. Driscoll sobrevive, consegue tirar Ann de Kong e a leva de
volta para a vila dos nativos. Kong os persegue, porém lá chegando é
capturado por Denham, com o uso de gás do sono. O gorila é levado para
Nova York, onde é exibido como uma grande atração. Porém ele escapa, e
em sua busca por Ann espalha morte e destruição pela cidade.
King Kong,
fruto do empenho do diretor e produtor Merian C. Cooper, é um clássico
que em sua época revolucionou o modo de se fazerem filmes, abrindo
caminho para as produções de fantasia e ficção científica que se
seguiram. Certamente, após tantos avanços tecnológicos, seus efeitos
especiais em stop motion parecem primários, e as interpretações
demasiadamente teatrais. Contudo se, enquanto o assistirmos, o
contextualizarmos e o situarmos na época em que foi produzido, fica
fácil de perceber o porquê de sua perenidade. Nunca se havia visto no
cinema uma história como aquela, com tanta ação, imaginação e um final
genuinamente comovente. No aspecto técnico, filmes em stop motion
não eram inéditos, o pioneiro Willis O’Brien, que criou os efeitos
visuais de Kong, já utilizara o mesmo processo na versão muda de O
Mundo Perdido (1925), baseada no livro de Sir Arthur Conan Doyle. No
entanto, a interação obtida entre atores e bonecos animados, com a
utilização de um conjunto de técnicas que somente há pouco foram
abandonadas com o advento da computação gráfica (projeções de fundo,
composição de imagens, pinturas em vidro), não tinha precedentes. E não
esqueçamos que, na época de seu lançamento, o cinema sonoro ainda era
uma novidade, e King Kong foi o primeiro filme a contar com
efeitos sonoros sofisticados e uma trilha orquestral completa
(estupenda, diga-se de passagem), com temas próprios para os personagens
principais. Seu autor foi
Max Steiner, que em
1939 criaria outra partitura clássica para outro filme idem, E O
Vento Levou. Este clássico inaugurou um gênero de filmes que se
popularizaria nas décadas seguintes – o de dinossauros ou outros
monstros gigantes à solta, e se não fosse por ele não teríamos, entre
outros, os Jurassic Park de Spielberg. Também inspirou
incontáveis realizadores e técnicos em efeitos especiais, como
Ray Harryhausen, que
após colaborar com Willis O’Brien na versão original de O Poderoso
Joe (1949), refinou a arte do stop motion em produções como
A Milhões de Léguas da Terra (1957), Sinbad e a Princesa
(1958) e Jasão e o Velo de Ouro (1963).
O DVD
O King
Kong de 1933 já teve várias encarnações em DVD, inclusive no Brasil,
porém nenhuma chega perto desta edição especial com dois discos da
Warner, cuja arte de capa e menus (estáticos) apresentam ilustrações e
fotos da época da produção. Como ocorreu com tantos outros filmes
daquele período, os negativos originais de King Kong não mais
existem, e as transferências para DVD foram feitas a partir de diversas
fontes – cópias em 16 e 35 mm – de qualidade irregular. Em 1938, várias
cenas consideradas violentas ou inconvenientes pelos censores dos EUA
(como Kong devorando os nativos ou despindo Ann e cheirando suas roupas)
foram cortadas das cópias existentes. Elas foram redescobertas na década
de 60 e reintegradas ao filme, porém com qualidade medíocre. Para este
lançamento, foi utilizada como matriz uma cópia armazenada em boas
condições na Inglaterra, que é a versão integral do filme como lançado
em 1933, incluindo todas as cenas originais. Apesar de não ser perfeita,
a transferência resultante, no formato original 1.33:1 e em seu preto e
branco original, é muito superior à das outras versões, em que pese a
perceptível granulação e falta de nitidez em algumas (poucas) cenas. De
um modo geral o contraste é muito bom, as graduações de cinza são
adequadas e o nível de preto, sólido. Sem surpresa, há perceptíveis
danos na película (riscos, manchas), mas numa proporção bem abaixo do
que se poderia esperar de um material tão antigo. No que se refere ao
áudio, acredito que, assim como ocorre no quesito tocante à qualidade da
imagem, temos que dar um bom desconto já que estamos falando de um filme
com mais de 70 anos. Deste modo, o áudio Dolby Digital mono em inglês,
onde os diálogos sempre são claros, é adequado para uma produção desta
idade – ainda que percebamos distorção e chiado em determinadas
passagens, e a falta de brilho do score de Max Steiner.
Aparentemente o som apresenta qualidade similar à de sua época de
gravação, refletindo a limitação dos equipamentos de áudio empregados.
Já a dublagem em português, que é a realizada nos anos 60 para a
exibição do filme na TV, é de qualidade bem inferior, soando baixa e
abafada. Sua inclusão vale pelo registro histórico. De resto, é lamentar
que a Warner não tenha lançado aqui o box que inclui, além de
King Kong, Son of Kong e Mighty Joe Young.
OS EXTRAS
Ainda que
a edição nacional da Warner perca alguns itens em relação à que foi
lançada na Região 1, os extras nela contidos, apesar de não serem
numerosos, fazem jus ao clássico. Vejamos:
Disco 1:
-
Comentários em
áudio –
Os especialistas em efeitos visuais Ray Harryhausen e Ken Ralston,
além de Merian C. Cooper e Fay Wray (estes dois em gravações de
arquivo), oferecem várias informações e curiosidades sobre a produção.
Harryhausen e Ralston manifestam sua admiração por várias cenas do
filme que foi uma inspiração para as suas carreiras. Infelizmente, a
Warner insiste em não colocar legendas em português nos comentários de
filmes clássicos como este, Ben-Hur e O Mágico de Oz, o
que é uma lástima dada a sua importância histórica;
-
Galeria de
Trailers de Merian C. Cooper
- Trailers de quatro filmes clássicos do produtor: King Kong
(1933), Fort Apache (1948), 3 Godfathers (1948) e The
Searchers (1956), todos sem legenda.
O DVD
da Região 1 incluía também Son Of Kong (1933), Flying Down
To Rio (1933), Mighty Joe Young (1949) e She Wore A
Yellow Ribbon (1949).
Disco 2:
-
Eu sou King
Kong! As Façanhas de Merian C. Cooper
– Documentário de 57 minutos narrado por Alec Baldwin, sobre o
aventureiro produtor que, antes de Kong, realizou vários documentários
em lugares exóticos do mundo em parceria com Ernest B. Schoedsack.
Além dos filmes realizados juntamente com o lendário diretor John
Ford, o documentário destaca a importância de Cooper para o avanço
técnico do cinema – ele desenvolveu os processos Technicolor e
Cinerama, este apresentado ao mundo em seu filme This is Cinerama
(1952);
-
Produção 601 da
RKO: Making of de Kong, A Oitava Maravilha do Mundo
– Eis o filé dos extras: é nada mais, nada menos, do que um making
of gigante com um total de 2 horas e quarenta minutos, dividido em
7 capítulos (sobre as origens do filme, Willis O’Brien e seu projeto
abortado “Criação”, produção, efeitos visuais, efeitos sonoros e
trilha musical, a seqüência perdida da “Aranha no Poço”, e o legado de
King Kong). Há depoimentos de cineastas e técnicos em efeitos
visuais, da atriz Fay Wray (falecida em 2004) e obviamente de Peter
Jackson, responsável pela nova refilmagem e supervisor do
documentário, que se faz presente em várias ocasiões. Jackson consegue
transmitir todo o afeto que sente pelo filme, inclusive fazendo com
que seus técnicos da Weta Digital criem uma réplica do boneco stop
motion de Kong e o filmem quadro a quadro. E vai além: ele e sua
equipe recriam, utilizando stop motion e equipamentos da época,
toda a seqüência da “Aranha no Poço”, que chegou a ser filmada por O’Brien
mas não foi incluída no filme - hoje dela restavam apenas alguns
esboços e fotos. O resultado é perfeito, e poderia muito bem ser
inserido no filme de 1933;
-
Da Seqüência da
"Aranha no Poço"
– Além de ser
vista integralmente no making of, a seqüência reconstruída, com
seus 5 minutos de duração, pode ser vista separadamente;
-
Teste de
“Criação” com Comentários de Ray Harryhausen
– 4:56 minutos de cenas do projeto que Willis O’Brien abandonou para
trabalhar em King Kong, com narração do mestre Harryhausen.
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