A SÉRIE
No início dos anos 70, o famoso produtor e diretor Irwin
Allen conquistou a alcunha de "Mestre do Desastre" por filmes-catástrofe
de sucesso, como O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure,
1972), e Inferno na Torre (The Towering Inferno, 1974).
Contudo, para os que cresceram na frente de uma TV nos anos 60 e 70, ele
sempre será lembrado como o criador das séries de ficção científica
Viagem ao Fundo do Mar, Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo
e Terra de Gigantes. Em 1964, a série Viagem ao Fundo do Mar,
baseada no filme homônimo de Allen lançado em 1960, que por sua vez era
livremente inspirado em 20.000 Léguas Submarinas de Júlio Verne,
já era um grande sucesso. De olho no caixa, a Fox encomendou a ele o
projeto de uma nova série, e mais uma vez inspirado na literatura e
aproveitando a euforia decorrente da corrida espacial, Allen, em
parceria com o lendário humorista Groucho Marx (sob o pseudônimo Van
Bernard) produziu um piloto repleto de ação que era uma espécie de
versão futurista do clássico "Robinson Suíço", de Johann David Wys. O
piloto foi aprovado pela Fox, que deu sinal verde para a produção de um
show semanal. Mas os executivos, sentindo que faltava conflito
dramático na trama, pediram a inclusão de um vilão na série. Allen então
decidiu refazer a história, com a inclusão de dois personagens que
teriam uma importância crucial no programa: o traiçoeiro sabotador Dr.
Zachary Smith (Jonathan
Harris) e o Robô de exploração (Bob May, com voz de Dick Tufeld). No
dia 15 se setembro de 1965, Perdidos no Espaço estreou na CBS com
o episódio
"O Clandestino Teimoso", escrito por Shimon
Wincelberg e dirigido por Tony Leader. A série inicia no então distante
16 de outubro de 1997, quando é lançada a primeira missão de colonização
terrestre rumo ao sistema de Alpha Centaury. A bordo, está a família de
colonizadores composta pelo Professor John Robinson
(Guy Williams, que já fora o
Zorro da Disney), sua esposa Maureen (June Lockhart) e seus filhos
Judy (Martha Kristen), Penny (Angela Cartwright) e o caçula Will (Billy
Mumy). Completando a tripulação, que permaneceria em animação suspensa
durante os cinco anos da viagem, estava o piloto, Major Donald West (Mark
Goddard). Os problemas da nave Júpiter 2 iniciam quando o
sabotador Smith esconde-se a bordo, e programa o Robô para destruir os
controles de navegação e de suporte de vida oito horas após o
lançamento. Smith não consegue sair antes da partida e seu peso extra
tira a nave do curso, levando-a direto para uma chuva de meteoros.
Depois de reanimar a tripulação e de o Major West desviar a nave dos
meteoros, Smith se lembra de que também teria que desativar o Robô. Mas
é tarde demais, o Robô danifica os controles e o Júpiter 2 ruma
em hiper-velocidade para os confins da galáxia.
No episódio seguinte, "A Nave Fantasma", os Robinsons encontram uma nave
alienígena aparentemente abandonada, e finalmente no terceiro episódio,
"Ilha no Céu", o Júpiter 2 cai no planeta desconhecido no qual
permaneceria até o início da segunda temporada. Nos cinco primeiros
episódios, Allen, um mestre em utilizar cenas de arquivo, economizou uma
boa grana reaproveitando praticamente todo o material produzido para o
piloto. Esta primeira temporada da série, filmada em preto e branco, é
considerada por muitos como a melhor das três que foram produzidas.
Principalmente em seus episódios iniciais a ênfase era na aventura, na
sobrevivência e nos ardis de Smith para eliminar os Robinsons. Também
neste primeiro ano temos o único episódio em duas partes de toda a
série, o memorável "O Estranho Colecionador", onde Michael Rennie (o
Klaatu do clássico O Dia em que a Terra Parou, 1951) interpretava
um alienígena cuja função era colecionar formas de vida de todo o
universo. Em outros episódios houve a participação de atores convidados
como Warren Oates, Torin Thatcher, Albert Salmi e um então
pré-adolescente Kurt Russell. Ajudando a tornar a série um grande
sucesso, habituais colaboradores de Allen, como Paul Zastupnevich
(figurinos) e L. B. Abbott (efeitos especiais) integravam a equipe. O
tema musical, além das trilhas de alguns episódios, foi composto pelo
então iniciante John
Williams (à época, "Johnny"), hoje o principal compositor de trilhas
de cinema em atividade. A partir da
segunda temporada a série passou a ser filmada em cores, porém a
aventura cedeu lugar ao humor camp (influência de outro grande
sucesso da Fox na época, Batman,
que era exibido em uma rede concorrente no mesmo horário)
centrado nas figuras do garoto Will, do Robô ("Perigo! Perigo!") e do
cada vez mais covarde e hilariante Dr. Smith. Esta é a fase pela qual a
série é mais lembrada, graças à atuação inesquecível de Harris como
Smith. No total foram produzidos 83 episódios no período de 1965 a 1968,
e após o cancelamento prematuro do programa, foram feitas várias
tentativas de trazer Perdidos no Espaço de volta. Mas foi somente
após a morte de Allen, em 1991, que as negociações realmente foram
adiante, o que resultou no filme de 1998. Infelizmente o filme fracassou
por não conseguir resgatar o fascínio, o clima e o humor da série
original. Vista sob os padrões contemporâneos de conhecimento
científico, produção e efeitos especiais, Perdidos no Espaço pode
parecer ultrapassada e ingênua - mas o espectador tem que avaliar a
série na perspectiva da época em que foi produzida. Assim fazendo, será
mais fácil constatar o porquê do programa ter se tranformado em um dos
maiores clássicos televisivos de todos os tempos, possuindo muitos fãs
até hoje. Estes, revendo aos episódios da primeira temporada, poderão
voltar às suas infâncias e relembrar os momentos de aventura e
deslumbramento que viveram pela primeira vez, há mais de trinta anos,
com a família Robinson.
O DVD
O
box possui oito discos, acondicionados em suportes de
plástico azul envoltos pela embalagem de cartolina, com os 29 episódios
da primeira temporada, que há décadas não são exibidos na TV aberta,
cada um com a duração aproximada de 49 minutos:
Disco 1
1. O Clandestino Teimoso
2. A Nave Fantasma
3. Ilha No Céu
4. Terra De Gigantes
Disco 2
1. Mar Revolto
2. Hepgood Esteve Aqui
3. Um Estranho Amigo
4. Invasores da 5ª dimensão
Disco 3
1. O Estranho Oásis
2. Os Seres Eletrônicos
3. A Lâmpada De Aladim
4. A Mini Espaçonave
Disco 4
1. O Cão Desaparecido
2. O Ataque Das Plantas Monstruosas
3. Volta À Terra
4. O Estranho Colecionador - Parte 01
Disco 5
1. O Estranho Colecionador - Parte 02
2. O Pirata Do Céu
3. O Fantasma Do Espaço
4. A Gurra Dos Robôs
Disco 6
1. O Espelho Mágico
2. O Desafio
3. O Marcador Do Espaço
4. Sua Majestade Smith
Disco 7
1. Os Semeadores Do Universo
2. Nem Tudo Que Reluz...
3. A Civilização Perdida
4. Um Passeio À Sexta Dimensão
Disco 8
1. A Voz Do Espírito
2. No Place To Hide
A
imagem é em tela cheia (1.33:1), com legendas em português e inglês. As
opções de áudio são inglês e português (todos Dolby Digital 1.0 Mono,
exceto no piloto inédito, que tem áudio somente em inglês, com opção de
legendas em português). O áudio original em inglês, remasterizado,
apresenta qualidade superior, mas o grande atrativo para nós,
brasileiros, é a inclusão da dublagem em português feita nos anos 60
pela AIC - São Paulo, com destaque para o excelente trabalho do
comediante Borges de Barros (o mendigo da Praça da Alegria) como
o Dr. Smith. Barros imortalizou sua voz com o inesquecível bordão "Nada
tema, com Smith não há problema", e aqueles inesquecíveis insultos ao
Robô, tipo "Sua lata de sardinha enferrujada". O próprio
Jonathan Harris
elogiou a dublagem de Barros, quando o conheceu em sua visita ao Brasil
em 1969. Infelizmente, devido ao tempo, a qualidade do áudio em
português não é perfeita. Quando a série ainda passava no canal pago Fox,
nos anos 90, já era fácil de perceber, em muitos episódios, que seu
estado de conservação não era bom - volume baixo, alto nível de ruídos,
falta de sincronia e até mesmo perda de áudio em alguns trechos. Por
tudo isso a Fox até cogitou de lançar o box-set
no Brasil sem esta dublagem histórica, mas graças
à mobilização e o auxílio de fãs
como o nosso amigo Elias de Lucena, a distribuidora restaurou
também o áudio em português, minimizando seus
maiores problemas. Quanto ao vídeo, mais uma vez considerando-se
a idade do material, não se poderia exigir mais da Fox. Estes
episódios provavelmente nunca foram vistos com qualidade melhor.
A imagem em preto e branco é via de regra limpa, com pontos de
sujeira e alguma granulação apenas eventualmente surgindo
na tela. Portanto, de um modo geral e considerando que estes
episódios foram filmados há quase quarenta anos, a
qualidade do vídeo é mais do que satisfatória
- apesar de terem sido usadas as mesmas transferências
remasterizadas para o lançamento em VHS ocorrido nos EUA,
em 1998.
OS EXTRAS
Há
somente um par de extras presentes no pack, e um deles é uma
curiosidade irresistível para os fãs: o episódio piloto inédito que
Allen produziu para vender a série, ainda sem Smith e o Robô. Batizado
de "No Place to Hide" (Sem Lugar para se Esconder), o piloto (o mais
caro até então produzido, tendo custado mais de meio milhão de dólares)
mostra o lançamento da nave espacial dos Robinsons, então chamada
Gemini 12, rumo a outro sistema solar. Durante o vôo a nave passa
por uma chuva de meteoros que a desvia de sua rota; danificada, ela faz
um pouso forçado em um planeta desconhecido. Naquele mundo inóspito, a
família de colonizadores enfrenta uma série de ameaças, como um cíclope
gigante, um terremoto e uma tempestade em alto-mar. Como trilha sonora
do piloto, foram utilizadas partituras compostas pelo lendário
Bernard Herrmann
para antigos filmes da Fox, como O Dia em que a Terra Parou,
Viagem ao Centro da Terra e Rochedos da Morte. O outro extra
disponível é um featurette promocional, narrado pelo próprio
Irwin Allen (com legendas em português), que a CBS criou a fim de atrair
anunciantes para a série. Ele mostra
somente cenas do piloto, e é interessante principalmente por podermos
conhecer o marketing usado à época pela rede de TV.
CONCLUSÃO
A Fox, que já dispunha no mercado brasileiro das melhores coleções em
DVD, consolida sua posição e já anunciou o lançamento da segunda
temporada de Perdidos no Espaço no Brasil, o que deverá ocorrer
até o final do ano. Que isso sirva de exemplo a outras distribuidoras,
principalmente à Paramount, que nos deve a Série Original de Jornada
nas Estrelas.
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