O
Filme
Quatro anos depois de
Matrix consagrar-se como um daqueles filmes
que marcam um gênero, 2003 tornou-se o "Ano Matrix": Matrix Reloaded,
a aguardada primeira continuação, finalmente chegou aos cinemas em maio;
a coletânea de animês Animatrix, cuja produção iniciou em 2000 e
que apresenta histórias inéditas do Universo Matrix (os segmentos "O Vôo
Final de Osíris" e "Era uma Vez um Garoto" possuem relação direta com
Reloaded), foi lançada em DVD; neste mesmo mês foi lançado o game
Enter the Matrix; em outubro, Reloaded chegou em DVD,
algumas semanas antes do capítulo final,
Matrix Revolutions
(filmado simultaneamente com Reloaded), que estreou mundialmente
nos cinemas dia 05 de novembro. Como se vê, houve toda uma estratégia de
marketing da Warner em torno da franquia criada por Larry e Andy
Wachowski, que se por um lado ajuda a vender os produtos, por outro até
certo ponto os prejudicam. Tome-se o exemplo de Reloaded: foi
anunciado como um filme que superaria o marcante original em todos os
aspectos, seria uma experiência excepcional, com efeitos que deixariam o
bullet time na pré-história, e outras besteiras do tipo. No
cinema o que vimos foi diferente - um filme que obviamente não possui a
novidade do original, com uma primeira metade lenta, algumas cenas de
luta redundantes e efeitos que usam e abusam de nada discretos dublês
digitais dos protagonistas. Não foi de admirar, portanto, que muitos
apressados saíssem do cinema bradando sua decepção com o filme. No
entanto, permeando estas características mais aparentes, os irmãos
Wachowski deram a esta continuação um caráter mais humano e introduziram
elementos que questionam o que havíamos aprendido sobre a verdadeira
natureza da Matrix, no primeiro capítulo. Pois bem,
em Reloaded descobrimos que definitivamente, no Universo Matrix,
as coisas podem não ser o que parecem, o que gerou inúmeras discussões,
a maioria centradas no já famoso diálogo de Neo (Keanu Reeves) e o
Arquiteto (Helmut Bakaitis), e nas intrigantes cenas finais. Apesar de
algumas falhas, só o fato de Reloaded fazer a garotada pensar,
dando margem a tantas e ricas discussões, já mostra a sua superioridade
sobre os "filmes-pipoca" em geral.
Algumas coisas no filme realmente parecem estranhas, outras simplesmente
inacreditáveis e espetaculares. À primeira vista o ponto fraco do filme
é seu início, ou pelo menos a sua primeira metade. Reloaded busca
extrapolar na ação e nos efeitos, em especial na "Burly Brawl", onde Neo
enfrenta centenas de clones do Agente Smith (Hugo Weaving) em uma luta
exagerada e "cartunesca", e na antológica e frenética perseguição na
freeway;
mas ainda assim conta uma história cheia de nuances e que
não é de fácil assimilação. Assim, a
lenta preparação da primeira metade,
na qual incluo as polêmicas cenas em Zion -
Neo e Trinity (Carrie Anne-Moss) fazendo amor enquanto o povo dança
sensualmente em uma espécie de festa rave (seqüência que é uma espécie
de celebração do que nos diferencia das máquinas), não deixa de ser
necessária para que o filme entre na sua segunda e capital parte, onde
não apenas os sentidos, mas a mente do espectador, são postos à prova.
Quando se poderia esperar que os irmãos Wachowski
somente nos dariam um
filme "com mais do mesmo", eles ousam e tomam rumos diferentes. Como
nas cenas de Merovingian (Lambert Wilson) e, em especial, de sua esposa
Persephone (Monica Bellucci), que desafia Neo a beijá-la como ele
beijaria Trinity - ou seja, Persephone, que não passa de um programa de
computador, quer sentir o que somente um humano poderia sentir e deixa
claro que o mundo sintético da Matrix inveja a condição humana, ou pelo
menos parte dela; e os momentos finais do filme, que mais uma vez nos
desafiam com o que, afinal, é real ou ilusório no Universo Matrix. Mais
não dá para dizer sem que estraguemos a experiência de assistir ao
filme, que certamente não possui a originalidade do primeiro e é, com
seu final em aberto, uma ponte para os eventos capitais mostrados em
Matrix Revolutions. Mas que ainda assim possui outros méritos além
dos já citados. A partitura de Don Davis é muito boa, Matrix,
agregando em determinadas faixas a instrumentação eletrônica de Juno
Reactor. Os efeitos visuais, apesar de serem claramente feitos em CGI,
fornecem algumas imagens inesquecíveis, espetaculares. E, muitíssimo
importante, tem Monica Bellucci no elenco: ela por sí só é um efeito
visual que vale o preço do ingresso (pena que em uma aparição
relativamente curta).
Os DVDs
A Warner, a exemplo do que fez no exterior, respeitou o consumidor
brasileiro e lançou esta Edição Especial com dois DVDs em duas versões -
uma com o filme em formato widescreen na proporção 2:35, outra
com o filme em fullscreen. Em tudo, a versão nacional é idêntica
à disponibilizada na Região 1, com a adição da faixa de áudio (Dolby
2.0) e legendas em português. A trilha Dolby Digital 5.1 em inglês é
exemplar, apesar de que uma faixa adicional em DTS, como a Fox e a
Universal vem disponibilizando regularmente em seus lançamentos de
ponta, seria mais do que bem-vinda. A imagem da versão em widescreen,
que é a que utilizamos para este comentário, é extraordinariamente
nítida e clara. Assim como o DVD do Matrix original já serviu de
padrão de excelência à época de seu lançamento, este também pode ser
utilizado para calibrar os equipamentos de áudio e vídeo de última
geração.
Os
Extras
Já no que se refere ao material adicional, em comparação com outras
edições especiais que existem por aí, não é nada excepcional. Os extras,
todos legendados em português e contidos unicamente no segundo disco,
são bons, mas apenas isso. A maior parte situa-se entre material
puramente promocional e uma cobertura, despida de qualquer crítica, do
processo de produção do filme. Chegam a ser constrangedores os
comentários exagerados de Laurence Fishburne e do produtor Joel Silver
sobre a produção - típica propaganda espalhafatosa que só prejudica, já
que o filme, obviamente, não é a experiência transcendental que eles
dizem ser. Estranhamente, além do trailer de Matrix Revolutions
que pode ser visto ao final de Reloaded, não há praticamente nada
que se refira ao capítulo final da trilogia. Segue a relação dos extras:
- Preload - Making of do
filme, apresentando entrevistas com equipe e elenco.
- Perseguição na Via Expressa - Longo featurette mostrando
cenas de bastidores e o processo de criação da eletrizante seqüência de
perseguição na freeway, sem dúvida um dos destaques dos extras.
- Trailer do DVD de Animatrix
- Enter The Matrix: O Jogo - Making of do videogame que,
ao contrário das opiniões "isentas" aqui contidas, foi detonado pela
crítica.
- A Matrix Revelada - Uma visão do impacto cultural provocado
pelo fenômeno Matrix.
- Paródia apresentada no MTV Movie Awards - Indiscutivelmente o
mais divertido dos extras, é a introdução do MTV Movie Awards de 2003,
com atuações hilárias de Will Ferrell, Seann William Scott e do ídolo
dos adolescentes, o cantor Justin Timberlake.
- Preciso de uma Saída - Série de comerciais inspirados no
Universo Matrix, incluindo o processo de criação do celular mostrado no
filme. Deve ser bem mais interessante para os profissionais de
marketing e publicidade.
- Weblinks para o website oficial de Matrix.
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