Se os fãs de música
clássica, pop e jazz estão bem servidos pelo mercado de
home video, o mesmo não se aplica aos apreciadores da música de
cinema. Praticamente inexistem títulos em DVD dedicados às trilhas
sonoras e aos seus compositores.
Assistirmos a um concerto completo de
Jerry Goldsmith
ou John Williams,
interpretando temas e trechos de seus scores famosos, hoje parece
um sonho distante.
Um raro título
dedicado a um compositor de cinema é este
Lalo Schifrin
- Movie Music Man,
documentário originalmente produzido em 1993, que apresenta trechos de
um concerto do conhecido compositor argentino no festival de Cinema de
Cannes (regendo a Orquestra Nacional de Lyon), uma entrevista na qual
Schifrin fala sobre suas influências musicais, trilhas sonoras e métodos
de composição, sua prática de karatê (incentivada por ninguém menos que
o próprio Bruce Lee, que o compositor conheceu durante a produção de
Enter The
Dragon) e informações biográficas apresentadas por um narrador.
Para o fã, este programa de uma hora de duração é indiscutivelmente
interessante e informativo, já que comprova a extrema versatilidade e
competência do compositor em gêneros musicais variados – jazz,
música clássica, tango e, é claro, música de cinema, na qual via de
regra ele faz uma bem sucedida mistura de todos esses estilos. “Muitas
pessoas não sabem como me classificar, o que é bom já que eu gosto de
deixá-las malucas”, afirma um divertido Schifrin logo no início do
documentário, certamente referindo-se aos críticos musicais.
Schifrin desde pequeno nutriu paixão pelos grandes compositores do
cinema e pelo jazz, tendo iniciado sua carreira como pianista em
clubes de jazz de Buenos Aires. Teve a sorte de ser descoberto
pelo lendário trompetista norte-americano Dizzy Gillespie, que
convidou-o para ser o pianista de sua banda. Este foi o início de uma
carreira de sucesso como compositor, regente, arranjador e intérprete,
que se espalhou por vários discos solo, de artistas consagrados
(incluindo vários do próprio Gillespie) e em mais de 100 scores.
Nos trechos selecionados do concerto, podemos assistir Schifrin regendo
alguns de seus trabalhos mais conhecidos, como os temas de Mission:
Impossible, Bullitt, The Fox e Cool Hand Luke,
alguns inclusive com direito a cenas dos filmes correspondentes. Na
orquestra, Schifrin atua como regente e pianista, e conta com os
ilustres convidados Dizzy Gillespie (trompete), Ray Brown (baixo
acústico), Grady Tate (bateria) e a soprano Julia Migenes.
No concerto ele não apresenta apenas suas composições para cinema, e
abre espaço inclusive para a música de nosso país, da qual é
declaradamente fã. Um dos pontos altos é exatamente a interpretação de
um trecho das “Bacchianas Brasileiras”, de Villa Lobos, com a voz
luminosa de Migenes. A qualidade de imagem e som do DVD é boa, e os
trechos do concerto são valorizados sobremaneira pelo áudio em Dolby
5.1. Mas seria preferível que a parte documental tivesse sido separada
do concerto, já que somos constantemente levados da música para a
entrevista, e vice-versa, em interrupções que às vezes aborrecem. Mas
indiscutivelmente é muito melhor do que nada, e é um DVD que faz um bom
par com o outro que Schifrin lançou há alguns anos, Latin Jazz Suíte
(também comentado
aqui). E
vamos esperar que novos títulos dedicados aos compositores
cinematográficos sejam lançados. Na Europa em breve deverá ser editado
um DVD com concertos de
Ennio Morricone,
vamos esperar…
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