o filme
Com um
orçamento estimado em U$ 130 milhões (praticamente a metade do de sua
elogiada continuação), Homem-Aranha teve o roteiro escrito por
David Koepp, com base em um primeiro esboço feito por James Cameron, o
que resultou numa surpreendentemente fiel transposição para a tela
grande dos personagens e histórias de
Stan Lee e Steve Ditko. No filme, o Aranha
continua sendo o mais humano dos super-heróis, o jovem fotógrafo
"quatro-olhos" Peter Parker (Tobey Maguire, excelente), atazanado pelos
brutamontes do colégio e que, de tão tímido, é incapaz de declarar seu
amor pela colega e vizinha Mary Jane (Kirsten Dunst, cativante). Órfão e
morando com seus velhos tios Ben e May, Parker tem a sua vida mudada
radicalmente, após ser mordido por uma aranha geneticamente alterada e
adquirir poderes aracnídeos. Na parte mais interessante e divertida do
filme, Parker descobre seus novos poderes e, atrapalhadamente, começa a
aprender como dominá-los. Se puder ganhar dinheiro com eles, melhor, e
por isso resolve disfarçar-se de "Aranha-Humana" para exibir-se em um
ringue de luta-livre (nesta cena hilária, o juiz é Bruce Campbell, amigo
de Raimi e protagonista dos filmes Evil Dead, que também faz uma
ponta na continuação). Mas em seguida o destino reserva ao jovem uma
tragédia pessoal, que o leva a utilizar seus poderes para combater o
crime, disfarçado de Homem-Aranha. Enfrentando uma campanha de difamação
feita pelo jornal Clarim Diário, as coisas se complicam para o Aranha
quando surge o insano vilão Duende Verde, oculto sob uma armadura e
voando em um planador a jato (Willem Dafoe, convincente, principalmente
quando, como Norman Osborn, dialoga frente a um espelho com a sua
personalidade maligna). O vilão, em seus delírios de dominação, acaba
por descobrir a identidade secreta do herói e tenta derrotá-lo atingindo
as pessoas que mais ama. Contando com um elenco
competente, humor e cenas de ação empolgantes, o maior mérito de
Homem-Aranha é ter sabido preservar toda a simpatia e a humanidade
de Parker/Aranha, um dos personagens mais queridos da história dos
comic books.
Certamente não é isento de falhas, mas estas são
compensadas pela direção precisa de Raimi, pelo ritmo
dinâmico e pela atuação cativante dos três
atores principais, em especial de Maguire.
O DVD
No Brasil, com o Homem-Aranha a Columbia incorreu no mesmo
erro que a Warner cometeu com os filmes de Harry Potter - rotulou
o filme como "para crianças", lançou-o nos cinemas com um monte de
cópias dubladas e
disponibilizou-o em DVD duplo mas somente na versão fullscreen
- um crime, já que na adaptação para televisores 4x3 as laterais da
imagem são cortadas, mutilando o filme. Recentemente, quando do
lançamento da Edição de Luxo com 3 DVDs, a distribuidora reincidiu no
crime, o que levou muitos fãs a classificá-la como "Edição de Lixo". É
óbvio que o aracnídeo tem um grande contingente de fãs infantis, que não
apreciam as tarjas pretas que surgem na imagem de seus televisores
convencionais. Mas não há justificativa para esquecer que também no
Brasil ele tem fãs "mais crescidinhos" e exigentes, que já possuem TVs
com formato de tela 16x9. No início de junho de 2004 a Columbia lançou
nos EUA, mercado que já dispunha do filme nos dois formatos de tela, a
versão Superbit de Spider-Man - que para nós é uma opção de
importação viável, já que é Region Free (ao contrário de Região
1, como indicado na embalagem) e dispõe de legendas em português. Para
quem não sabe,
Superbit é uma linha de DVDs da Columbia produzida pela Sony Pictures
Digital Studios, onde através de um processamento digital que
proporciona uma bit rate que é quase o dobro de um DVD comum, a
qualidade de vídeo é otimizada e é incluída uma faixa de áudio DTS além
da mais popular Dolby Digital 5.1.
Na verdade é um processo que é utilizado também por outras
distribuidoras, nos lançamentos em que os extras são concentrados em um
disco à parte, porém sem uma nomenclatura específica. Basicamente
consiste em pegar um DVD de dupla camada e utilizar todo o espaço
disponível para a inclusão das trilhas DD, DTS e o filme propriamente
dito, com bit rate de vídeo maximizada. Na prática isso resulta
em ganhos de qualidade graças à menor compressão, mas isso não será
muito perceptível em televisores ou home theaters convencionais.
No caso específico de Homem-Aranha, só o fato do filme ser
apresentado no formato widescreen já proporciona uma imagem com
maior resolução. Não tenho certeza se o filme ganhou uma nova
transferência, mas o fato é que o ganho maior é notado reproduzindo-se o
filme em um player e um televisor wide com progressive
scan. As cores ficam mais vivas, o nível de preto é sólido, a
nitidez é excelente, não há qualquer ruído ou artefato de compressão
visível - mesmo nas 65 polegadas do meu televisor de projeção. E o áudio
em DTS, apesar de não ter um "peso" significativamente maior que a faixa
Dolby Digital, é límpido e com efeitos surround excelentes - na
cena em que Osborn, na sua mansão, dialoga com seu alterego Duende
Verde, as vozes do vilão circulam em toda a nossa volta. Infelizmente o
esmero na apresentação técnica do filme não se estende aos menus
padronizados da linha, simples e nada atraentes. Mas a embalagem é
caprichada e bonita, com uma luva de cartolina metalizada envolvendo a
caixa plástica que contém o disco. Dentro, além de um encarte com a
relação dos capítulos, há outro de divulgação dos títulos Superbit com
detalhes técnicos do processo, e um ingresso para Homem-Aranha 2
- válido até 31 de julho de 2004 e somente para os Estados Unidos. Em
suma, esta versão Superbit oferece imagem superior às outras que foram
lançadas, além de uma excelente trilha DTS. Se você privilegia a
qualidade na apresentação do filme em relação aos extras, esta é a
melhor opção. E, segundo a Columbia, até o final de 2004 teremos esta
versão Superbit aqui também. Portanto, se você já possui o DVD duplo ou
o triplo nacionais, vale a pena comprar o Superbit e jogar frizzbee
com o disco antigo fullscreen, guardando os dos extras. Como
não gosto de desperdícios não joguei fora, preferi doá-lo para uma
locadora iniciante...
OS EXTRAS
Fato
incomum para um título Superbit com apenas um disco, esta versão de
Homem-Aranha oferece um extra inédito - uma faixa de comentários em
áudio de Tobey Maguire, o Aranha em pessoa, com a participação de J.K.
Simmons, que interpreta o hilário J. Jonah Jameson, o
dono do Clarim
Diário. Para ouvir a faixa de comentários, que é bem
interessante, selecione-a no menu de configuração do áudio (infelizmente não há a opção de legendas em português).
É um bate-papo descontraído, onde Maguire revela como malhou
para se preparar para o papel e dá detalhes sobre como foram feitas
algumas cenas, como a do beijo de cabeça para baixo. Ele e Simmons
proporcionam momentos divertidos, como quando brincam sobre a possível
longevidade da série (Maguire: "Qualquer dia eles vão me contratar para
interpretar o Tio Ben").
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