O FILME
"Você conhece o velho ditado
klingon que diz... a vingança é um prato que se serve frio?". Não, não
estamos falando de
Kill Bill: Vol. 1,
do Quentin Tarantino, mas sim do filme que introduziu este "antigo
ditado klingon" (na verdade de origem russa, segundo o Sr. Chekov) na
cultura pop mundial. Muitos alegam que os filmes de Jornada
nas Estrelas, como cinema em si, não são grande coisa. Isso até pode
ser verdade em tese, mas não pode ser negado o fato de que, deficiências
à parte (a maior delas: os filmes são melhor apreciados pelos fãs, que
acompanham as séries de TV), alguns de seus títulos possuem méritos
suficientes para influenciar outros gêneros cinematográficos, fornecendo
momentos realmente inesquecíveis. É o caso deste Jornada nas Estrelas
II: A Ira de Khan, que retoma um dos melhores episódios da
Série Original,
"Semente do Espaço". Nele, a Enterprise encontra uma nave à
deriva no espaço, tripulada por humanos geneticamente aprimorados, todos
em animação suspensa. Descobre-se mais tarde que eles, liderados por
Khan Noonien Singh (Ricardo Montalban), foram os responsáveis pela quase
destruição da Terra durante as Guerras Eugênicas da última década do
século XX, e que fugiram do planeta para evitar a condenação por seus
crimes. Após terem sido revividos e resgatados pelo Capitão Kirk e sua
tripulação, eles tentam tomar a Enterprise para utilizá-la em
seus planos de conquista. Mas Kirk estraga os seus planos, abandonando
Khan e seus companheiros no planeta Ceti Alpha V, presumindo que lá eles
sobreviveriam sem ameaçar mais ninguém. Porém, seis meses após Khan e
seu povo terem sido deixados lá, um planeta vizinho explode e altera a
órbita de Ceti Alpha V, transformando-o em um inóspito deserto. Quinze
anos depois Khan e alguns ainda sobrevivem, e agora tudo o que ele quer
é vingar-se do homem que ele julga ser o responsável por tudo – o
Almirante James T. Kirk. Quando a nave estelar Reliant chega para
examinar o planeta, sem suspeitar que ele é Ceti Alpha V, Khan captura o
Comandante Chekov e o Capitão Terrell e assume o controle da nave.
Descobre que a Reliant está envolvida nos testes de um aparelho
experimental conhecido como Gênesis, que possui um enorme poder tanto
para criar a vida como para destruí-la. Simultaneamente, Kirk leva a
Enterprise, sob o comando do Capitão Spock, em um vôo de
treinamento, tripulada somente por um punhado de inexperientes cadetes
da Frota Estelar - entre eles a tenente vulcana Saavik (Kirstie Alley).
Khan, agora com um inimaginável poder em suas mãos e com a Enterprise
em desvantagem tática, parte para a vingança.
Este segundo filme de Jornada nas Estrelas possui de cara uma
grande vantagem sobre os demais: um vilão convincente. De fato, é o
melhor vilão que já apareceu na franquia, tanto no cinema como na TV.
Comparar Shinzon, de Nêmesis, com Khan, chega a ser covardia
(aliás, comparar os dois filmes é que é covardia). Geneticamente
alterado para possuir inteligência e força excepcionais, ele é
praticamente invencível. Ricardo Montalban, após uma carreira medíocre
no cinema e por ter ficado mais conhecido como o Sr. Roarke de A Ilha
da Fantasia, tem aqui o seu maior papel. E William Shatner, para não
ficar atrás, fornece a sua melhor e mais tocante interpretação de Kirk,
estando à altura de Khan a cada reviravolta da trama, a cada round
do embate. A direção de Nicholas Meyer, indiscutivelmente o responsável
pelos melhores momentos da série no cinema, seja atrás das câmeras ou
como roteirista, é perfeita. Certamente esta não é Jornada nas
Estrelas: A Nova Geração, a ação é mantida com grande estilo e o
filme possui uma atmosfera sombria, de perigo latente. A linha de
comando nas naves da Federação, baseada na clássica tradição naval, fica
perfeitamente estabelecida, a Enterprise realmente parece ser uma nave
militar e os combates espaciais também seguem o estilo naval. Os
roteiristas não-creditados Meyer e Harve Bennett adicionaram muitas
referências à literatura clássica nos diálogos, o que enriquece a trama.
E a partitura de
James Horner, que posteriormente comporia as trilhas de
Titanic, Coração Valente e Apollo 13, é absolutamente
eletrizante.
O DVD
Este DVD duplo apresenta a versão do diretor, uns quatro minutos mais
longa do que a original. As cenas adicionais já haviam sido exibidas na
TV dos EUA, e na sua maior parte, são pequenas extensões de seqüências -
um momento ou dois com Scotty, quando Kirk faz a primeira vistoria a
bordo da Enterprise, uma conversa um pouco mais longa entre Kirk, Magro
e Spock sobre Gênesis, outro momento com Scotty e Magro na enfermaria
após o primeiro ataque de Khan, e outros momentos menores. As cenas
restauradas não adicionam grande impacto dramático ao filme, talvez à
exceção daquela na qual Scotty chora a morte de seu sobrinho. Mas,
indiscutivelmente, qualquer fã gostará de vê-las. Em relação à master
de vídeo widescreen anamórfico produzida para a edição anterior
em DVD, esta aparentemente teve correções nos tons da cor. Como
resultado, a imagem agora ostenta cores levemente mais vivas. Como
antes, o vídeo não é um padrão de qualidade, tendo em vista a idade do
filme. Há momentos em que há alguma granulação visível, em outros se
percebe o uso de filtros para aumentar a nitidez. Em compensação, como
já mencionado, as cores são vibrantes e os níveis do preto são
excelentes. Outro ponto positivo é a quase inexistência de pontos e
riscos na imagem. Esta é a melhor cópia já lançada para ser assistida em
casa, e continuará sendo até o lançamento de uma versão em Alta
Definição (HD). A faixa de áudio Dolby Digital 5.1 parece ser
equivalente à do DVD anterior, em termos de qualidade. De um modo geral
é muito boa, apesar de ser inferior ao áudio dos DVDs de Jornada nas
Estrelas mais recentes. A mixagem é rica em graves, mas não há
tantos efeitos surround como em uma faixa de áudio moderna. Por
outro lado o diálogo é bem nítido, e nos momentos de maior ação
finalmente as caixas de som traseiras são exigidas, deixando o
espectador/ouvinte satisfeito. E melhor ainda, a música de Horner soa
cristalina e com força nos 5.1 canais.
OS EXTRAS
A Paramount produziu um bom conjunto de material bônus para este
lançamento. O disco 1 contém um ótimo comentário em áudio do diretor
Nicholas Meyer, onde ele fala sobre como envolveu-se com o projeto, da
sua visão particular do universo de Jornada e deste filme em
especial, e sobre vários momentos divertidos passados junto com os
atores. Percebe-se que muito do que faz este filme tão bom, inclusive
para as platéias em geral, vem diretamente dos esforços de Meyer em
tentar compreender corretamente o universo de Jornada nas Estrelas.
Ele fala bem e é muito interessante ouvir o seu inteligente ponto de
vista sobre o filme. Em adição ao áudio com Meyer, há também ótimos
comentários em texto do autor (e consultor de Jornada) Michael
Okuda. Okuda passa montes de pequenos fatos, trivia e detalhes
técnicos que trekkies ávidos certamente irão adorar. O disco 2 é
composto principalmente de featurettes, nos moldes dos que a
Paramount vem produzindo para colocar em todos os seus DVDs de
Jornada. Eles possuem muitas entrevistas com numerosos membros do
elenco e equipe. Todos os featurettes estão em formato 16x9, mas
infelizmente o visual deixa a desejar. A combinação de iluminação ruim,
cenários de fundo feios e um excessivo zoom no rosto das pessoas,
às vezes assusta. De qualquer sorte, o fato de
serem depoimentos de pessoas interessantes, que têm muito o que dizer,
faz com que todos os featurettes superem os problemas
técnicos. Além de entrevistas com os atores principais e o diretor,
temos também o produtor Harve Bennett, o desenhista de produção Joe
Jennings (que também trabalhou na série original), vários técnicos em
efeitos visuais e muito mais, vale a pena conferir tudo. O Diário do
Capitão é uma visão detalhada da produção, desde o seu humilde
início, passando pelo acerto com os atores (convencer Nimoy a retornar
foi muito difícil), até chegar às filmagens e além. Criando Khan
apresenta entrevistas com Jennings, o figurinista Robert Fletcher, o
diretor de arte Lee Cole e outros que atuaram no design do filme
e na logística por trás de tudo. E Efeitos Visuais inclui
entrevistas com o supervisor de efeitos Ken Ralston e membros da equipe
da ILM, além de montes de fotos de bastidores e videoclipes. Também há
entrevistas com membros do elenco (inclusive Shatner, Nimoy, o falecido
DeForest Kelley e Ricardo Montalban), feitas à época do lançamento
original nos cinemas. Há o documentário O Universo de Jornada nas
Estrelas, onde dois autores de livros da franchise, Julia
Ecklar e Greg Cox, são entrevistados. E completando os extras temos uma
galeria de storyboards do filme e o trailer de cinema. Os
storyboards foram bem formatados para TVs 16x9, deste modo os
desenhos são grandes e marcantes, representando treze cenas do filme. Os
dois discos possuem belos menus animados, que retratam a estação
espacial Regula Um e o planeta Gênesis.
CONCLUSÃO
A Ira de Khan é o melhor filme de Jornada nas Estrelas,
seguido de perto por A Terra Desconhecida, também de Meyer, e a
Paramount produziu uma edição especial em DVD à altura, que todos irão
aprovar e apreciar. É um item obrigatório para qualquer fã da franquia e
para aqueles que apreciam versões especiais repletas de extras. Uma
edição realmente caprichada e altamente recomendável.
IMAGENS
 
 
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