A SÉRIE
Na pequena cidade de
Twin Peaks, na costa noroeste dos EUA, próxima à fronteira com o Canadá,
a estudante e queridinha da cidade Laura Palmer (Sheryl Lee) aparece morta à beira de um lago, enrolada em um
saco plástico. O excêntrico agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan)
chega para comandar a investigação. Na autópsia fica constatado que
Laura, antes de ser morta, foi brutalmente espancada e violentada. Os
métodos não-ortodoxos do agente funcionam, e aos poucos ele vai
descobrindo que Laura possuía um lado obscuro, como a própria cidade.
Perversões sexuais, tráfico de drogas e fraudes financeiras ocultam-se
na sociedade local.
Para
complicar as coisas, durante as investigações a mãe de Laura tem visões
de um espírito maligno chamado Bob.
Não é sempre que o
sucesso acompanha a arte, e a conjunção destes dois fatores, em se
tratando de TV, pode ser considerado algo bem raro. Mas que
eventualmente acontece, e Twin Peaks,
série cuja primeira temporada a Paramount lançou em DVD no Brasil, é a
prova disso. No final dos anos 80, a rede norte-americana de televisão
ABC necessitava urgentemente de um grande sucesso de audiência, e deu
carta branca ao diretor, produtor e roteirista de TV Mark Frost para
criar algo novo e criativo. Frost convenceu seu amigo David Lynch a
embarcar no projeto, e o resto é história. No dia 08 de abril de 1990
foi exibido o episódio-piloto de Twin
Peaks, que em
seu lançamento de forma independente na Europa,
teve adicionado um
desfecho que solucionava o crime (essa versão alterada chegou a ser lançada em VHS
no Brasil pela Warner). O piloto foi um grande sucesso, e a ABC
encomendou mais sete episódios, dando total liberdade criativa a Frost e
Lynch. Neles, descobrimos que Cooper, além de esquisitão (é viciado em
tortas de cereja e sempre deixa registrados os seus pensamentos para a
secretária, Diane, em um gravador portátil), possui um método de
investigação absurdo, baseado na intuição e na solução de charadas
recebidas em sonhos surrealistas.
Mesclando suspense policial, melodrama, deformidades físicas e
mentais, humor negro e o sobrenatural, a dupla Frost/Lynch
apresentou ao público algo definitivamente novo e provocativo, tudo
acompanhado pela essencial trilha sonora de
Angelo Badalamenti.
Em abril de 1991 a série começou a passar na Rede Globo, que para variar relegou
Twin Peaks às noites de
domingo, após o Fantástico.
E pior, além de fazer cortes que deixaram a trama mais confusa do que já
era, a emissora interrompeu sua exibição durante a segunda temporada,
após a solução do assassinato de Laura. Menos mal que, anos depois, a série foi reprisada na íntegra por
emissoras independentes. Em 1992, David Lynch lançou nos cinemas o longa
Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura
Palmer, uma prequel
que apresentava fatos anteriores aos da série, com quase todo o elenco
original.
O DVD
Os
quatro discos do box-set vêm acondicionados em uma
embalagem digipack envolta por uma luva plástica
transparente, que em sua face apresenta a foto de Laura Palmer. Como
toda regra tem exceção, às vezes os DVDs lançados no Brasil vêm com algo
a mais do que as versões lançadas lá fora, e no caso de Twin Peaks
há uma adição essencial ao box-set: além dos sete episódios da
primeira temporada, a edição nacional inclui o episódio piloto original
que estava ausente na versão da Artisan, lançada na Região 1 em 2001.
Nota-se que o piloto não recebeu o mesmo tratamento de áudio e vídeo dos
episódios seguintes, apresentando uma imagem mais escura, de menor
contraste e cores um tanto esmaecidas. O áudio, apesar de bom, é Dolby 2.0. Mesmo assim a inclusão do piloto merece ser festejada,
pois ele é essencial para a correta compreensão da série. Já os sete
episódios, a exemplo do piloto, são apresentados em tela cheia (1.33:1)
mas com qualidade de imagem bem superior, como resultado da
remasterização neles feita. O áudio é Dolby Digital 5.1 de ótima
qualidade, mas aqui temos uma desvantagem em relação à versão
estrangeira, que também oferecia uma excelente faixa de áudio DTS
5.1. Para compensar a Paramount poderia ter incluído a dublagem original
em português, mas deixou de fazê-lo por alguma razão. Também, ao
contrário da versão Região 1, apesar dos episódios serem divididos em
capítulos (de 08 a 10) não há um menu para a seleção de cenas. De resto,
achei os menus estáticos da edição nacional pobres e feios, apesar de
reconhecer que estão de acordo com o clima bizarro da série. As legendas
estão disponíveis em português, inglês e espanhol.
OS EXTRAS
Além do material
extra do quarto disco, temos comentários de áudio em cada episódio
(exceto no piloto), todos com legendas em português, normalmente com o
diretor ou outra pessoa envolvida em sua produção. Infelizmente Lynch
não quis gravar depoimentos nos episódios por ele dirigidos,
alegadamente porque não gosta de comentar seu próprio trabalho. Aliás,
em nenhuma parte do material adicional ouvimos a voz de Lynch ou vemos o
seu rosto. Adicionalmente, cada episódio pode ser assistido com uma
introdução “filosófica” da Senhora do Tronco, que apesar de curiosa não
acrescenta muito – e a qualidade do vídeo igualmente não ajuda. A versão
da Artisan também incluía uma opção para assistir os episódios com
acesso a “notas de script”, relativas a cenas ou diálogos eliminados,
porém este recurso está ausente da edição nacional. Também ausentes
estão os easter eggs de
cada episódio (erros de gravação ou entrevistas com membros da equipe),
porém se eles estiverem por lá escondidos e você achá-los, me avise. Os
principais extras estão reunidos no quarto disco, em uma seção chamada
“O Tibet”, e são os seguintes:
Entrevista de Mark Forst à Revista Wrapped in Plastic
– Como o nome indica é uma entrevista de Mark Frost aos dois fundadores
de uma revista dedicada a Twin Peaks.
Apesar de ser uma tolice – ela foi feita por telefone, as imagens
alternam entre Frost e os dois caras e no início há um “importante”
aviso alertando que as tomadas originais com os caras da revista tiveram
de ser refeitas – há várias informações interessantes sobre a série;
Aprendendo a Falar na Sala Vermelha
– Este extra é completamente bizarro, digno da série. Nele o ator
Michael J. Anderson, o anão daquele antológico sonho de Cooper, nos
ensina a falar de trás para a frente. Gravado com equipamento precário,
não deixa de ser divertido (é o único extra não legendado);
Uma Introdução a David Lynch
– Vários depoimentos de profissionais e membros do elenco sobre Lynch e
seu estilo característico;
17 Pedaços de Torta: Filmagens na
Lanchonete Mar T (ou RR) – Extra de utilidade duvidosa, é uma
entrevista em vídeo com a proprietária do restaurante onde foram
filmadas as cenas do piloto, nas quais Cooper se delicia com as tortas
de cereja locais;
Conversas com o Elenco –
Extra com imagem wide
16x9, é composto por uma série de vídeos com integrantes do elenco e da
equipe de produção, não obrigatoriamente sobre a série. O ator Richard
Beymer, por exemplo, narra por vários minutos uma viagem mística que fez
ao Amazonas, onde se pintou de azul, andou nú e se drogou com um cipó.
Já Sheryl Lee (a Laura Palmer em pessoa) também narra uma viagem que fez
para a África, e divide conosco suas profundas opiniões sobre
auto-descoberta e ecologia (ou seja, alguns desses vídeos parecem
intermináveis!).
E, pelo que descobri, é só. A edição nacional também perdeu, neste
quarto disco, filmografias e biografias de todos os membros do elenco.
No entanto, isto também pode estar escondido em algum
easter egg, afinal no
universo de Twin Peaks
nada é o que parece...
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