O FILME
A ex-esposa de Ray Ferrier (Tom Cruise) deixa com ele os
filhos Rachel (Dakota Fanning) e Robbie (Justin Chatwin), para passarem
o fim de semana. Um estranha tempestade de raios é o prenúncio de uma
invasão alienígena, cujo início Ferrier testemunha quando uma enorme
máquina de destruição, um Tripod, emerge do solo em plena cidade
e passa a pulverizar pessoas e construções. Ferrier foge de carro com
seus filhos, mas logo descobre que as máquinas trípodes estão por toda a
parte. Lutando pela sobrevivência dos filhos, Ferrier tem de ser o pai
que nunca foi.
Steven Spielberg e Tom Cruise gostaram tanto de trabalhar juntos em
Minority
Report - A Nova Lei (2003), que se comprometeram a repetir a
experiência assim que possível. A oportunidade perfeita pareceu surgir
quando a Paramount decidiu filmar uma nova versão da clássica novela de
ficção científica de H. G. Wells, Guerra dos Mundos. Afinal,
Spielberg, o maior diretor do cinema comercial americano atual,
consolidara sua fama exatamente com dois filmes sobre alienígenas -
Contatos
Imediatos do Terceiro Grau (1977) e
E. T. - O Extraterrestre
(1982), e Cruise era o astro perfeito para atrair o público. Spielberg
colocou a sua Dreamworks como parceira do projeto, que necessitou ser
concluído num prazo curto (para um filme destas proporções) a fim de que
ele pudesse ser encaixado nas agendas do diretor e do astro. O resultado
é este Guerra dos Mundos, que presta suas homenagens à primeira
versão cinematográfica, de 1953, produzida por George Pal e dirigida por
Byron Haskin (inclusive, no final há pontas do seu casal de
protagonistas, Gene Barry e Ann Robinson), mas aborda a invasão
alienígena de um modo mais próximo ao do livro de Wells. A trama é toda
contada através do ponto de vista de um sujeito comum, no caso um
trabalhador da classe média baixa americana, não dando espaço a
cientistas, militares ou políticos. Deste modo, Spielberg evitou as
cenas de destruição de monumentos e grandes cidades ao redor do mundo,
mostradas em outros filmes já feitos sobre o tema, em especial
Independence Day
(1996), que foi uma adaptação não assumida de Guerra dos Mundos.
Esta visão mais intimista de um ataque alienígena torna o filme por
vezes semelhante a Sinais (2002), de
M. Night Shyamalan.
Obviamente muitos conceitos do livro e do filme original foram
revisados - por exemplo, os aliens agora não são mais
identificados como marcianos - e Spielberg incluiu na realização muitos
dos temas que lhe são caros, como o núcleo familiar e a busca pela
figura paterna. Mas a essência do livro de Wells está lá, inclusive o
final, algo que chegou a ser muito criticado. De fato, hoje nos parece
muito ingênuo que inteligências avançadas do espaço planejem uma invasão
por séculos, e chegando aqui, ajam de forma tão descuidada. É certo que,
ao atualizar alguns conceitos e deixar intocados outros, o roteiro de
David Koepp criou lacunas que prejudicam um pouco a trama.
Provavelmente, se houvesse mais tempo disponível para a produção, muito
poderia ser melhorado. De qualquer forma, com a ajuda de colaboradores
habituais como o diretor de fotografia Janusz Kaminski, o compositor
John Williams e a
empresa de efeitos visuais ILM, Spielberg criou uma série de seqüências
memoráveis. O filme, em diversos momentos, assombra. Os Tripods,
se comparados às Máquinas de Guerra Marcianas da versão de 1953,
ganharam personalidade graças à concepção visual mais fiel àquela
imaginada por Wells, e a efeitos sonoros fantásticos. O som que eles
emitem, parecido com o de um berrante, é genuinamente assustador (por
outro lado, é uma pena que não foram utilizados, para seus raios de
calor, os mesmos sons do antigo filme, simplesmente antológicos). Apesar
de vermos apenas de relance os combates do exército com os invasores, o
filme apresenta algumas cenas de destruição fortes, onde Spielberg
demonstra, mais uma vez, a excelência formal que lhe é típica. E há
outras onde o diretor exerce toda a sua perícia em dominar as técnicas
cinematográficas. Por exemplo, há um longo plano-seqüência onde vemos
Ferrier e seus filhos, de camionete, fugindo pelas estradas apinhadas de
pessoas e carros parados; em todo ele não há cortes aparentes, e a
câmera ora capta a ação de longe do carro, em uma tomada panorâmica, ora
se aproxima até entrar dentro do veículo, onde ouvimos os diálogos;
depois se afasta novamente, volta para o interior da camionete...
obviamente é uma cena toda feita com a ajuda de efeitos especiais, mas
que de tão bem filmada e finalizada, não percebemos os artifícios
digitais empregados. O elenco é firmemente conduzido pelo diretor, e ao
contrário do que muitos poderiam temer, o astro Cruise está genuinamente
empenhado em
convincentemente passar-se por um trabalhador e pai de família
fracassado. E Dakota Fanning se reafirma como a melhor atriz
infanto-juvenil atualmente em atividade. Enfim, Guerra dos Mundos
ocupa um lugar interessante na filmografia de Spielberg, formando com os
já citados Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E. T. - O
Extraterrestre uma "trilogia alienígena". Ironicamente os esforços
do diretor nos dois primeiros filmes, para mudar a imagem dos aliens
(tradicionalmente mostrados como criaturas ameaçadoras), cai por terra
com esta nova versão do filme que exatamente deu origem à sua "má fama".
Se no filme de 1953 os invasores personificavam a ameaça dos comunistas
"comedores de criancinhas", hoje eles explicitamente evocam os
terroristas e a tragédia do 11 de setembro. Ou seja, são o mal
encarnado.
O DVD
A
Paramount lança
Guerra dos Mundos num DVD duplo bem produzido, com seu habitual
padrão de qualidade. O filme é apresentado no seu formato original
widescreen anamórfico 1.85:1, em uma transferência de ótima
qualidade. Para o meu gosto, só não é melhor em função de decisões
artísticas de Spielberg e seu diretor de fotografia, que para dar um tom
"real" ao filme, filmaram as sequências mais claras com um tom embaçado,
esbranquiçado. Temos faixas de áudio Dolby Digital 5.1 em inglês e
português, e uma inédita dublagem DTS 5.1 em português. Particularmente,
espero que essa não seja uma tendência para os próximos lançamentos da
distribuidora, já que simplesmente não gosto das dublagens atuais em
português e prefiro o áudio DTS no idioma original. Dito isso, esclareço
que o áudio, tanto Dolby quanto DTS, é simplesmente arrasador, trazendo
para o home cinema todos os efeitos sonoros na forma como foram
idealizados para o cinema. Poucos filmes fizeram tremer meu apartamento
como este, cheguei até a ficar com medo de ser despejado pelos vizinhos.
Realmente espetacular. As legendas, amarelas como nos outros DVDs da
Paramount, estão disponíveis em português e inglês.
OS EXTRAS
O material bônus, com áudio 2.0 e todo legendado em português,
inglês e espanhol, está apenas no disco 2 e cobre todos os aspectos da
produção, dificultada pelo pouco tempo disponível para a realização de
um filme destas proporções. Apesar de sua abrangência, são documentários
e featurettes um tanto burocráticos, que dificilmente serão
vistos mais de uma vez. Infelizmente Steven Spielberg continua
acreditando que seus filmes dispensam comentários de áudio, que
certamente enriqueceriam o conjunto de extras. O material presente é o
que segue:
Revisitando a Invasão - Featurette com 7:40 min. onde
Steven Spielberg, a produtora executiva Paula Wagner, o roteirista David
Koepp e Tom Cruise falam sobre a nova adaptação do clássico de H.G.
Wells, com destaque para a decisão de evitar os clichês dos filmes do
gênero;
O legado de H.G. Wells (6:36 mins) - Featurette com 6:36
min. que apresenta depoimentos de descendentes de H. G. Wells sobre a
importância do legado do escritor, bem como sobre a adaptação
radiofônica de Orson Welles de 1938, e sobre o filme de 1953. Spielberg
também se faz presente;
Steven Spielberg e a Guerra dos Mundos Original - Neste
featurette de 7:59 min., Spielberg, a figurinista Joanna Johnston e
o supervisor de efeitos visuais Dennis Muren falam sobre a importância
do filme de 1953. Os astros da versão de Georpe Pal, Gene Barry e Ann
Robinson, comentam suas pontas no filme de 2005;
Personagens: O Núcleo Familiar - Neste extra de 13:22 min.,
Spielberg, o roteirista David Koepp, a figurinista Joanna Johnston e os
atores Tom Cruise, Dakota Fanning, Justin Chatwin e Miranda Otto falam
sobre os personagens. Os membros do elenco dão seu depoimento sobre a
experiência de trabalharem com Spielberg;
Pré-vizualização - Featurette com 7:43 min, sobre o
processo de pré-visualização do filme, que consistiu na utilização de
storyboards feitos em computação gráfica por sugestão de George
Lucas. Inclui depoimentos de Spielberg, do supervisor de
pré-visualização Dan Gregoure e do produtor Colin Wilson;
Diários da Produção - Documentário de 104 min. dividido em quatro
segmentos - "Costa Leste - O Início", "Costa Leste - O Fim", "Costa
Oeste - Destruição" e "Costa Oeste - Guerra". É um completo making of
com depoimentos do diretor, membros da equipe e elenco, abrangendo os 72
dias de filmagens em locação, a pré e a pós-produção, de como os efeitos
visuais já estavam sendo desenvolvidos durante as filmagens, e muito
mais;
Desenhando o Inimigo: Tripods e Alienígenas - Extra de 14:05 min.
onde Spielberg, a produtora Kathleen Kennedy e técnicos da ILM descrevem
a criação dos alienígenas e suas máquinas, estas refletindo a anatomia
das criaturas (três pernas), sendo fiéis ao conceito original de Wells;
A Música de Guerra dos Mundos - Durante 11:58 min., Spielberg, o
produtor Colin Wilson e o compositor John Williams falam sobre a criação
dos sons e da música do filme. Sempre é bom ver Williams na tela,
trabalhando e falando sobre seu trabalho e a colaboração com Spielberg.
De fato, foi o extra de que mais gostei, é informativo sem ser
cansativo;
"Nós Não Estamos Sós" - Encerrando os extras, neste
featurette de 3:15 min. Spielberg, Kathleen Kennedy e Tom Cruise
falam sobre a "trilogia alienígena" do diretor, e dão suas opiniões
sobre a existência de vida extraterrestre.
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