|
DESEJO E REPARAÇÃO
(Atonement,
Inglaterra, 2007)
Gênero: Drama
Duração: 130 min.
Elenco: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai, Saoirse Ronan,
Vanessa Redgrave, Brenda Blethyn, Juno Temple, Alfie Allen, Nonso Anozie,
Benedict Cumberbatch, Michelle Duncan
Compositor: Dario Marianelli
Roteiristas: Christopher Hampton
Diretor:
Joe Wright |
Saída amarga
Nova
adaptação de um romance de Jane Austen realizada pelo diretor Joe Wright mostra
que os acertos de ORGULHO E PRECONCEITO não foram um mero acaso
Há dois anos Joe Wright revelou-se ao mundo com
uma belíssima adaptação de um romance de Jane Austen: ORGULHO E PRECONCEITO
(2005). O filme, ao mesmo tempo que modernizava as adaptações de Austen,
mantinha a suavidade, a delicadeza característica da autora, e demonstrava uma
segurança e uma maestria na direção impressionantes. Felizmente, Wright não é
apenas um diretor que deu sorte, mas um cineasta de talento, como se pode
comprovar com o novo DESEJO E REPARAÇÃO (2007), campeão de indicações ao Globo
de Ouro e vencedor de dois prêmios: melhor filme (drama) e melhor trilha sonora
para Dario Marianelli, o compositor italiano que havia trabalhado com Wright em
seu filme anterior.
Desta vez, Wright troca a Inglaterra vitoriana dos romances de Austen pela
Inglaterra dos anos 1930 e 40, na época da Segunda Guerra Mundial. O filme,
adaptação do prestigiado romance "Reparação", de Ian McEwan, trata do quanto uma
mentira, ou um mal-entendido, pode causar danos irreparáveis na vida das pessoas
envolvidas. Um dos maiores méritos do filme, que pelo que tudo indica é fiel à
forma narrativa do livro, é a opção pelos múltiplos pontos de vista (no caso,
três) para se contar uma estória. Assim, vemos inicialmente pelos olhos de uma
menina aristocrática de treze anos de idade chamada Briony (Saoirse Ronan) algo
que, para a cabeça dessa menina, seria indecente. Depois, mais ou menos como
acontece em ELEFANTE, de Gus Van Sant, vemos a versão do acontecido pelos olhos
de Cecilia (Keira Knightley) e do filho da governanta Robbie (James McAvoy).
Dois outros incidentes acabam por separar e mudar o destino de duas pessoas que
se amam. A própria estrutura do filme trata de reparar, através de suas imagens,
aquilo que havia sido mostrado anteriormente de maneira rápida ou passível de
ser compreendida. Isto é, ainda que seja fruto de obra literária, DESEJO E
REPARAÇÃO se fixa de verdade como cinema.
Confesso que, ao ver o trailer, esperava
um novelão daqueles bem lacrimosos - o que não seria nenhum problema pra mim -,
mas o filme é mais um estudo sobre as causas e as conseqüências de um ato falho,
filmado com sensibilidade e com certo virtuosismo estético. Maior exemplo disso
é a longa seqüência dos soldados na praia. O corte para o ponto de vista de
Briony, já com dezoito anos e arrependida pelo que fez quando adolescente, nos
oferece ao mesmo tempo um pouco de tranqüilidade e uma angústia tremenda, pois
Briony é a personagem que se coloca mais próxima do espectador, já que ela é a
que comete falhas - errar é humano, certo? - o personagem de James McAvoy é
muito bonzinho, e a personagem de Keira se mostra muito distante.
Assim, o sentimento que o filme mais provoca é o de arrependimento, da
frustração que vem da vontade de consertar o que não pode mais ser consertado. A
seqüência dos três personagens juntos no apartamento de Cecilia é de doer na
alma, assim como o epílogo, o monólogo final de Vanessa Redgrave, que chega para
coroar este trabalho excepcional. Quando não se pode reparar a realidade, a fuga
para a fantasia, para a ficção, torna-se a única saída. Mas uma saída amarga, e
falsamente encobridora da verdade que dói.
|