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BATMAN BEGINS (Batman
Begins, EUA, 2005)
Gênero: Aventura
Duração: 141 min.
Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Katie Holmes,
Gary Oldman, Cillian Murphy, Tom Wilkinson, Rutger Hauer, Ken Watanabe,
Linus Roache, Morgan Freeman
Compositor: Hans
Zimmer, James Newton
Howard
Roteiristas: Christopher Nolan, David S. Goyer
Diretor: Christopher Nolan
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Nascido das Trevas
Esqueça até mesmo a boa
realização de 1989: graças ao diretor Christopher Nolan, este é o filme que o
Homem-Morcego merecia desde o início
Para começar
este comentário, nada melhor do que declarar: Batman sempre foi meu herói dos
quadrinhos predileto. Quando criança, me divertia na frente da TV assistindo aos
SOCK! KAPOW! da velha série com Adam West e Burt Ward. Nos anos 70, testemunhei
o nascimento da melhor fase do Homem-Morcego nos gibis desenhados por Neal
Adams, a gênese do que anos mais tarde resultaria nas obras-primas de Frank
Miller O Cavaleiro das Trevas e
Batman: Ano Um. Em 1989 estava no
cinema para ver o Batman de Tim
Burton, que com Michael Keaton e tudo, até agora era a melhor transposição do
personagem para as telas. E, obviamente, fiquei irado quando assisti em 1997 ao
crime perpetrado por Joel Schumacher chamado BATMAN & ROBIN.
Graças às bem sucedidas adaptações da Marvel para o cinema, a D.C. Comics e a
Warner tardiamente decidiram retomar sua valiosa franquia cinematográfica. Mas
depois da "obra" de Schumacher não havia outra saída: todos os outros filmes
foram esquecidos, e este BATMAN BEGINS reconta a história do Cavaleiro das
Trevas. No início vemos o jovem e problemático bilionário Bruce Wayne (Christian
Bale, de PSICOPATA AMERICANO e SHAFT, muito bem no papel), que abandonara sua
cidade de Gotham City (menos estilizada que nos outros filmes) após o
assassinato dos pais, preso em uma cadeia asiática. De lá ele é libertado por
Ducard (Liam Neeson), o segundo em comando da Liga das Sombras liderada pelo
misterioso Ra's Al Gul (Ken Watanabe). Treinado nas artes ninjas pela
organização, mas discordando de seus métodos para combater o crime, Wayne rompe
com a Liga e retorna para Gotham decidido a livrar a cidade do crime e da
corrupção.
Vestindo o capuz e a armadura de Batman e tendo como aliados seu mordomo Alfred
(Michael Caine), a Promotora Pública Rachel Dawes (Katie Holmes), o Sargento Jim
Gordon (Gary Oldman) e Lucius Fox (Morgan Freeman), este o funcionário das
indústrias Wayne que lhe fornece todo o aparato tecnológico que precisa, o herói
combaterá os planos do chefão do crime Falcone (Tom Wilkinson) e do psiquiatra
do asilo Arkhan Dr. Crane (Cillian Murphy), que utiliza uma máscara de
espantalho e uma droga indutora do medo para aterrorizar suas vítimas. E mais
não dá para contar do filme, sob pena de estragar suas surpresas. O fato é que,
graças ao trabalho admirável do diretor Christopher Nolan (AMNÉSIA, INSÔNIA), do
co-roteirista David S. Goyer (trilogia BLADE) e de um elenco excepcional, saímos
do cinema esquecendo todos os filmes anteriores da série, e desde já esperando
ansiosamente pela provável continuação que trará, como vilão, ninguém menos
que... Nada disso, vá ao cinema para descobrir!
Desde o início, com a escolha de um diretor como Nolan, não havia dúvidas de que
este seria um projeto sério que trataria o nascimento da lenda com o respeito
que sempre mereceu. Em seus outros filmes, Nolan investiu pesado na psicologia
de seus personagens, e este é o fator essencial onde BATMAN BEGINS triunfa.
Obviamente que, dado o gênero do filme de que estamos falando, não dá para
esperar um filme de profundidades "bergmanianas", mas o roteiro, centrado no uso
do medo tanto para explorar a fraqueza dos inimigos como para reunir forças para
sobre eles triunfar, é um prato cheio para o talento de Nolan.
Assim, temos uma história muito bem elaborada, ação e efeitos visuais sem
exageros, um elenco com ótimas atuações e um diretor mais do que competente
fornecendo toda a credibilidade que, em suma, é a base sobre a qual o filme se
sustenta. Já vimos antes filmes em que alguém, após uma tragédia pessoal,
decidiu combater o crime como forma de vingar a perda de entes queridos. Mas
acredite, isto nunca foi contado de forma tão convincente e realista como aqui.
Tanto que a primeira metade do filme, onde vemos a história de Wayne e toda a
sua preparação para tornar-se Batman, é bem mais resolvida e interessante do que
a segunda, quando o filme entra no padrão "vilão quer destruir a cidade e o
herói tem que impedí-lo". E nada foi esquecido no segmento inicial: o porquê do
jovem milionário Bruce Wayne vestir uma roupa de morcego; como ele consegue
realizar suas façanhas, apesar de ser uma pessoa comum; de onde saem as
engenhocas fantásticas que utiliza em sua cruzada; e por aí vai.
Claro que BATMAN BEGINS não é imune a falhas: a atriz Katie Holmes (atual
namoradinha de Tom Cruise) não é páreo para gigantes como Caine, Neeson, Freeman
e até o próprio Bale. E a trilha sonora a cargo de
Hans Zimmer e
James Newton Howard, apesar
de funcionar bem no filme, fica devendo - no que parece ser uma maldição dos
exemplares atuais do gênero - uma assinatura musical marcante. De qualquer modo,
não é nada que prejudique demais a minha avaliação.
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