Nascido na cidade de Nova York no dia 04
de abril de 1922, Elmer Bernstein resolveu dedicar-se à música aos 12
anos de idade. Estudou piano, e gradualmente transpareceu que ele tinha
um talento nato para a improvisação. Logo atraiu a atenção de Aaron
Copland, que fez com que o jovem estudasse com um de seus pupilos,
Israel Sitowitz. Isto abriu caminho para que Elmer pudesse estudar
composição com Roger Sessions e Stefan Wolpe. Elmer começou a dar
recitais ao final de sua adolescência, e aos 21 anos, prestou o Serviço
Militar. De uniforme, sua habilidade ao piano lhe seria de pouca valia,
mas em virtude de seu grande conhecimento da música americana, ele foi
transferido para o Serviço de Rádio das Forças Armadas, onde tornou-se
arranjador, e em breve, compositor de músicas incidentais para produções
radiofônicas.
À época em que deixou o
Serviço (1946), Elmer compusera para uns 80 programas. Apesar desta
impressionante produção, teve poucas oportunidades no ramo, e voltou a
ser pianista de concertos. Entretanto, em 1949, sua experiência como
compositor de rádio foi lembrada, e foi convidado pelo serviço de rádio
das Nações Unidas, para compor uma partitura para celebrar o armistício
conseguido pela ONU em Israel. O programa foi transmitido pela NBC, e
foi ouvido pelo estimado escritor/produtor Norman Corwin, que contratou
Elmer para compor o score de um de seus dramas de rádio. Este,
por sua vez, foi ouvido por um executivo da Columbia Pictures, que
convidou-o a musicar 2 filmes, Saturday's Hero e Boots Malone,
ambos em 1951.
A longa carreira de Elmer
Bernstein, como compositor de cinema, finalmente começara. Contudo, nos
primeiros anos, seus trabalhos limitavam-se a filmes menores, até que
uma grande produção surgiu em seu caminho - The Ten Commandments,
o épico de 4 horas de duração de Cecil B. DeMille. Victor Young, que
compusera a maior parte das trilhas dos filmes anteriores de DeMille,
havia falecido, e o produtor/diretor necessitava de alguém que criasse
uma partitura no estilo que fora consagrado por Young. Elmer provou que
era capaz de fazê-lo, e ao mesmo tempo criar um estilo nitidamente
próprio. The Man With The Golden Arm (1956), considerada a
primeira grande partitura a utilizar o jazz, valeu a Elmer sua primeira
indicação ao Oscar. Desde então, Elmer Bernstein compôs uma longa série
de memoráveis trilhas cinematográficas.
A
música de Bernstein criou um novo estilo, quando a trilha de The
Magnificent Seven definiu o som dos Westerns. Durante as
décadas de 60 e 70, ele compôs para os últimos 7 filmes de John Wayne,
inclusive True Grit, que valeu a Wayne um Oscar, e o seu último
filme, The Shootist, de 1976. Bernstein também continuou a
trabalhar com novos diretores, como John Frankenheimer (Birdman of
Alcatraz, e The Gypsy Moths). Agraciado com vários prêmios
por seu trabalho no cinema, TV, teatro e rádio, Bernstein possui 13
indicações ao Oscar, recebendo-o em 1967 pelo score de
Thoroughly Modern Millie (Positivamente Millie), de George Roy Hill.
Outros scores indicados incluem The Man with the Golden Arm,
The Magnificent Seven, Summer and Smoke, To Kill a Mockingbird, The
Return of the Seven, Hawaii, True Grit, Trading Places e The Age
of Innocence. Entre as suas canções indicadas ao Oscar, destacam-se
Walk on the Wild Side, My Wishing Doll de Hawaii e
Wherever Love Takes Me, de Gold.
Bernstein também compôs para algumas das comédias de maior
sucesso dos anos 70 e 80, como National Lampoon's Animal House,
de John Landis, Slap Shot, Meatballs, Airplane!, a animação
cult de Ivan Reitman Heavy Metal, Stripes, Trading Places,
(que lhe valeu sua 12ª indicação ao Oscar), Ghostbusters, Three
Amigos, e Funny Farm. A parceria de Bernstein com
Martin Scorsese iniciou logo após The Grifters, filme noir
dirigido por Stephen Frears e estrelado por Anjelica Huston, Annette
Bening e John Cusack. Quando soube que Scorsese estava refilmando
Cape Fear, Bernstein telefonou para o diretor e pediu para adaptar a
partitura original de
Bernard Herrmann. "Bernard Herrmann foi um dos meus heróis", explica
Elmer, "e achei que seria um privilégio adaptar um dos seus scores.
Compus 6 minutos de música original, mas usamos na maior parte o
trabalho original de Herrmann. Como a versão de Scorsese é bem diferente
da original, tivemos de redistribuir as faixas." Bernstein, inclusive,
utilizou trechos do score de Herrmann para Torn Curtain,
que foi rejeitado por Hitchcock, mas que havia regravado nos anos 70,
como parte de sua The Film Music Collection.
Aliás, nenhum outro compositor demonstrou maior preocupação, ou foi mais
ativo, para preservar grandes partituras do cinema, produzindo gravações
com recursos próprios. Em 1972, Elmer expressou a sua preocupação pelas
composições de cinema em um artigo para a revista High Fidelity,
intitulado "O Que Aconteceu à Grande Música do Cinema?" As milhares de
cartas que recebeu em resposta confirmaram que ele não era o único com
esta preocupação. E porque acreditava firmemente na necessidade de
estabelecer melhores padrões para a apreciação da música de cinema,
Elmer criou sua própria gravadora, a Film Music Collection.
Neste selo, ele gravou, em muitos casos pela primeira vez, a música de
Max Steiner,
Franz Waxman,
Alfred Newman,
Miklos Rozsa, Jerry
Fielding, Dimitri Tiomkin,
Bernard Hermann, e
Alex North, bem como To Kill A Mockingbird, de sua própria
autoria. As gravações estavam disponíveis através de um sistema de
assinaturas. Além das excelentes gravações dos scores, os
assinantes recebiam a revista Film Music Notebook, contendo
artigos sobre a história da música no cinema, análises de trilhas que
marcaram época, e entrevistas com compositores.
Com
mais da metade de de seu trabalho já lançado em LP ou CD, Bernstein foi
um dos compositores mais gravados da história de Hollywood. To Kill a
Mockingbird tornou-se um álbum de sucesso. The Man With The
Golden Arm produziu o primeiro compacto simples de sucesso de
Hollywood, e o tema heróico de The Magnificent Seven, que já era
célebre, tornou-se a música tema dos comerciais dos cigarros Marlboro.
Alguns dos scores mais gravados de Bernstein são Men in War,
Drango, God's Little Acre, The Ten Commandments, Walk on the Wild Side,
The Sons of Katy Elder, The Return of the Seven, The Great Escape, The
Caretaker, The Silencers, The Carpetbaggers, Summer and Smoke, Hawaii,
Where's Jack?, True Grit, Desire Under the Elms, The Hallelujah Trail,
Baby the Rain Must Fall, My Left Foot, The Grifters, Rambling Rose e
The Age of Innocence.
Bernstein, além de seu trabalho
no cinema, achou tempo para dedicar-se a outras atividades: foi
Presidente da Los Angeles Young Musicians Foundation por 10 anos; em
1968, foi diretor da San Fernando Valley Symphony Orchestra; e, em 1969,
tornou-se Presidente do Composers and Lyricists Guild of America,
lutando pelos direitos autorais de seus membros. Ou seja, Elmer
Bernstein demonstrou ser um homem de grande talento e de grandes
conquistas. Em 2001 Bernstein completou 50 anos de carreira no cinema,
tendo no período criado mais de 200 trilhas sonoras - foi o único
compositor a, até então, atingir tal marca.
Elmer Bernstein faleceu no dia 18 de agosto de 2004, em sua residência
na Califórnia, aos 82 anos. Sabia-se que ele estava doente há tempos,
mas a causa da sua morte não foi revelada. "A arte de realmente apoiar
um filme dramaticamente, onde o compositor é praticamente uma extensão
do roteiro - isso é muito raro hoje em dia, o que torna a morte de
Bernstein ainda mais triste", disse à revista Times Marilyn Bergman,
presidente da Associação Americana de Compositores, Autores e Editores.
Bergman destaca que Bernstein era um compositor completo. "Ele foi
treinado para o clássico e podia fazer de tudo", acrescentou. O músico
era casado com Eve, e tinha quatro filhos e cinco netos.
Nosso colaborador Tony Berchmans escreveu
este tributo ao grande Elmer Bernstein. Temos certeza de que o
compositor, afável e bem-humorado, gostaria muito:
Pequena
História da Humanidade
Ao longo de milhões de anos o macaco evoluiu, desenvolveu
inteligência e se transformou em uma espécie chamada Homo
Sapiens, o homem. No início o homem era uma espécie muito primitiva,
mas com o passar dos séculos ele foi aprimorando sua capacidade de
comunicação e sua organização social. Mais alguns milhares de anos e o
homem criou civilizações, cidades, guerras, e mal ou bem acabou
conquistando todo o planeta Terra.
Aí então apareceu um indivíduo desta espécie chamado Elmer Bernstein,
que com um talento acima do normal passou a compor música para uma
invenção humana chamada Cinema. Logo se destacou numa
enorme obra musical para um filme chamado Os Dez Mandamentos
que, coincidentemente, narrava a história de um outro indivíduo da
espécie que também se destacou na sua sociedade alguns milênios antes.
Em seguida, recebeu um convite pra compor outro trabalho bem diferente e
acabou criando um genial conceito que utilizava de forma inovadora um
estilo musical que fascinava muitos humanos na época. Este estilo era
conhecido por jazz, e o filme contava a história do
Homem do Braço de Ouro.
O tempo passou e Bernstein provou que veio ao mundo para
realmente deixar sua marca. Ele compôs uma grandiosa música para um
filme que contava a história de Sete Homens que
compartilhavam Um Destino. A mesma história já havia sido
contada por outro homem de uma civilização oriental distante, mas a
música de Bernstein ficou consagrada no planeta inteiro. Esta música até
virou tema de uma campanha publicitária (invenção humana, assunto pra
outra história…) de uma marca de cigarros (outra invenção humana que faz
mal à própria saúde humana) chamada Marlboro e conhecida
nos quatro cantos da Terra.
Depois ele fez uma belíssima e sensível composição para um filme
de um advogado que tentava provar à sociedade que O Sol é Para
Todos, e ganhou um reconhecido prêmio chamado Oscar,
pela música que fez para um filme chamado Positivamente Millie.
Ao longo de sua estadia no planeta, Bernstein compôs mais de 200 trilhas
para filmes que retratavam os mais diversos aspectos da humanidade. Fez
música para filmes que buscavam divertir, como Apertem os Cintos, O
Piloto Sumiu e Os Caça-Fantasmas, e também
filmes sérios como aquele do cara que pintava com o Pé Esquerdo
ou aquele que lembrava A Época da Inocência, ou ainda
aquele lindo melodrama que mostrava uma conflito humano que estava muito
Longe do Paraíso.
Aí então Elmer Bernstein resolveu deixar a humanidade e passar
para um outro estágio de evolução. Hoje, provavelmente esta invenção
humana chamada Cinema seja um bocadinho mais fascinante por ter
tido o carisma e o talento de um indivíduo especial como Bernstein,
ainda que poucos se dêem conta disto. E assim a vida na Terra continua…
Sem a presença deste homem, mas certamente com seu nome escrito na
história.
(Homenagem a Elmer Bernstein, que foi curtir outros ares em 18 de agosto
de 2004. Parabéns, Maestro. Sua obra ficará registrada na nossa
história.)
Tony
Berchmans
tony@sounddesign.com.br
Compositor e Produtor da Sound Design
Filmografia de Elmer Bernstein, cortesia de
Internet Movie Database
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