|
INSTINTO SECRETO (Mr.
Brooks, EUA, 2007)
Gênero: Suspense
Duração: 120 min.
Elenco: Kevin Costner, Demi Moore, Dane Cook, William Hurt, Marg
Helgenberger, Ruben Santiago-Hudson, Danielle Panabaker, Aisha Hinds,
Lindsay Crouse, Jason Lewis, Reiko Aylesworth
Compositor: Ramin Djawadi
Roteiristas: Raynold Gideon, Bruce A. Evans
Diretor: Bruce A. Evans |
Desperdício
Suspense de diretor bissexto
interessaria se fosse mórbido, mas lhe faltou talento para que soubesse explorar
a morbidez do tema
Homem do Ano em Portland, cidadão respeitado
por toda a comunidade, pai e marido amoroso, empresário vitorioso em sua
profissão e querido por todos os que estão a seu redor. Mr. Brooks seria um
exemplo de vida a todos se não fosse por uma peculiar característica sua: ele
tem um vício. Alcoolismo? Jogo? Não, estas seriam coisas perdoáveis. O vício que
acomete Mr. Brooks é o hábito irresistível que ele tem em matar pessoas. À
queima-roupa, com tiros de espingarda e deixando as digitais das vítimas
expostas no local do homicídio.
Um argumento desses é de uma morbidez exemplar, e faria a festa de muitos
cineastas, inclusive vários que nem têm um talento extraordinário, mas que não
desperdiçariam a chance de explorar o tema e, mais ainda, a supramencionada
morbidez do assunto - característica que sempre interessou, conscientemente ou
não, ao ser humano, e que esteve/está presente na obra de alguns dos maiores
diretores do Cinema - Hitchcock como o maior exemplo, mas também Billy Wilder,
Pedro Almodóvar, Roman Polanski... todos têm, em sua obra, registros maiores ou
menores de uma dose de morbidez. Na atualidade, é de imaginar o que não seria o
filme se o projeto fosse entregue a Danny Boyle, a Curtis Hanson ou ao espanhol
Alex de la Iglesia, para citar apenas três exemplos.
É por isso que é imperdoável que INSTINTO SECRETO (2007), cujo argumento é de
uma morbidez por excelência, desperdice por completo essa característica e, ao
contar a estória do cidadão que só não é rigorosamente exemplar pelo exclusivo
hábito de assassinar pessoas, o faça através de tanta sensaboria. Kevin Costner,
que já foi um dos maiores astros de Hollywood e pouco a pouco vem reerguendo sua
carreira através de bons filmes, tem uma boa interpretação e deve ter acreditado
na força do argumento para aceitar protagonizar a obra; infelizmente para ele e
para o público, o diretor Bruce A. Evans (que só havia dirigido um filme até
então, o fraquíssimo KUFFS - UM TIRA POR ACASO, em... 1991!) desperdiçou todas
as boas possibilidades de sua trama, não se preocupando nem mesmo em corrigir
alguns furos do roteiro.
Como, por exemplo, o fato de não ficar claro como foi articulada a situação para
que a policial interpretada por Demi Moore (em fraco desempenho), no final do
filme, encontre o criminoso fugitivo e sua amante, que tencionavam matá-la.
Considerando que o roteiro foi escrito por Evans e Raymond Gideon (a mesma dupla
indicada ao Oscar de roteiro adaptado em 1986, pelo belo trabalho em CONTA
COMIGO), o erro adquire, inclusive, um agravante a mais. Outro equívoco diz
respeito ao personagem de William Hurt, em dia de canastrice - aparentemente, um
espírito obsessor que assedia o personagem de Costner, induzindo-o ao crime, mas
que não deveria sequer existir no filme, mesmo porque este sequer aborda o tema
da possessão espiritual.
Os erros técnicos, porém, tornam-se pequenos mediante o equívoco maior,
exatamente aquele que foi dito acima: a não criação de um clima que reproduzisse
a premissa básica do filme, resultando na total ausência de morbidez na
realização apresentada. Como ficou, poderia-se dizer que INSTINTO SECRETO tem um
instinto tão secreto que nem mesmo seus realizadores o perceberam. Uma piada de
humor negro, claro, mas que merece espaço justamente porque o filme as pede aos
montes, e não oferece nenhuma.
|