Cine & Música
Extra: CINE BÔNUS!
Apresentando hoje:
CINEMA SHOW
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O caprichado
programa, imitando um rolo
de filme
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No
dia 04 de dezembro de 2005, no Teatro Municipal de São Paulo, ocorreu o
concerto 100 ANOS DE MÚSICA NO CINEMA, com a Orquestra Experimental de
Repertório regida por Jamil Maluf. Por ser um concerto beneficente, o
ingresso cobrado foi 1 quilo de alimento não perecível. O emissário do
ScoreTrack Lucas Vandanezi esteve
lá, e nos conta como foi este raro evento - um concerto de música de
cinema no Brasil!
INGRESSOS ESGOTADOS - Foi o que restou às pessoas que deixaram para
trocar o seu quiilo de alimento na última hora. As trocas dos convites
começaram às 10:00h do dia 02, sexta-feira, na bilheteria do teatro,
onde por volta das 11:00h o público já dava voltas na casa. Muitas
pessoas ficaram sem seus respectivos ingressos, sendo que no dia da
apresentação pude presenciar algumas pessoas assistindo o evendo de pé.
Foi distribuído um programa (físico) muito bem elaborado – um rolo de
filme que ao rodar mostrava uma imagem do filme,
diretor, ano de lançamento e compositor. Percebi que estava diante de
uma bela apresentação. Vale ressaltar que o maestro não contava apenas
com as partituras para reger, mas com um monitor de LCD em cima das
mesmas, e que corria as imagens em sincronia com o que era projetado
para o público.
Relato abaixo o sabor doce que 1kg de açúcar me
proporcionou
Com 15
minutos de atraso, causados pelo público que ainda não havia entrado,
foi projetado a primeira imagem feita por Thomas Edison para o cinema.
Sobe ao palco Michelle Agnes que junto com diversas imagens que vão de
1889 a 1896 interpreta passagens que casam com as cenas em questão – uma
bela introdução.
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O doce saldo de
1 kg de açúcar
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1889 a 1896 – (Diversos)
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1889 Monkey Shines nº 1
– Dir. W. K. L. Dickson e W. Heise
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1894 Caicedo with Pole
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1895 Serpentine Dances
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1894 Sandow
-
1896 The Kiss
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The Gay Show Clerk –
Dir. Edwin S. Porter
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1895 L´arraoseus Arosé –
Dir. Auguste e Louis Lumière
-
1896 Leaving Jerusalem
-
1896 Bataille de boubles
de neige
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1895 Childish Quarrel/Lumière
82
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1896 Photograph
Em
seguida, Michelle Agnes e Karin Uzun interpretam a quatro mãos “La Belle
Excentrique” de Eric Satie – enquanto o filme “Viagem à Lua” (1902) do
diretor Geoarges Mélies projetado. Chegamos ao final das apresentações
somente de teclados, e o maestro Jamil Maluf junto com a Orquestra
Experimental de Repertório assumem o comando.
A primeira obra executada pela orquestra é do filme “King Kong” (1933)
de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. O score de
Max Steiner é
belíssimo e segue com perfeição as cenas – que vão do suspense ao
romance. Mesmo apresentado por uma orquestra, acredito que o preto e
branco causa uma certa – recusa – do público que, parece não ver a hora
de escutar John Williams.
Porém, antes de ouvirmos as melodias de Williams, Steiner mostra seu
poder. Desta vez já colorido e em 1939, o clássico “E o Vento Levou”
toca nos corações de todos na platéia. O já conhecido tema usado por
Bolaños no seriado “Chaves” (tema de Prof. Jirafales e Dona Florinda) é
exaltado por cordas, sopros e todo o resto. Aqui podemos perceber que o
teatro, que ainda continua na expectativa, começa a se animar e os
aplausos se tornam cada vez mais empolgados.
Depois que o vento levou sua melodia embora, chega a hora do que eu
chamo de *Ponte*. Os temas de “Gavião do Mar” (1940) e “Roda da Fortuna”
(1953), compostos por
Erich Wolfgang Korngold e Howard Dietz/Arthur Schwartz
respectivamente, são bonitos e confortáveis – servem como um "abre
passagem" para as carruagens de “Ben-Hur” (1959). Reverências sejam
feitas – Miklós Rósza
toma a frente. Com uma edição imagem/som que eu diria perfeita,
as imagens se tornam pra mim o segundo plano, algo
como um elemento para a trilha apresentada. A platéia já está tomada
pela euforia, e pelo visto Rósza ficaria orgulhoso de ter presenciado a
cena.
Já mencionei aqui que o preto e branco causa recusa na platéia? Bom,
então apague tudo que eu disse... se o preto e branco não agrada a
alguns, Bernard Hermann
sabe como colorir o filme, sejam as cores: tensão, pavor, suspense etc.
Na apresentação de “Psicose” (1960) cheguei a olhar pra trás, pois
pensei que alguém iria surgir com uma faca e cometer um atentado contra
a minha pessoa. Foi sem dúvida o melhor tema da noite, executado com um
apreço especial pelos músicos.
Até aqui tudo ocorre bem, até que um erro na projeção faz com que o tema
de “La Dolce Vita” fique desencontrado com a imagem. O que fazer? Maluf
pára a orquestra e com toda sua simpatia vira para a platéia e informa
“Falha técnica”. O que foi bom, pois os risos puderam descontrair as
pessoas que ainda estavam tensas com o suspense de Hitchcock. Mantendo
aquela famosa parceria diretor/compositor,
Nino Rota mostrou
competência em abundância para escrever o tema de “La Dolce Vita” que
apresentado, desta vez sem falhas, junto de imagens, levou algumas
pessoas às lágrimas.
Quando
começa a projeção do nacional “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964)
estão posicionados, agora sobre o palco, dez
cellos e a soprano Cláudia Riccitelli – e temos a chance de ouvir
Bachiana Brasileira nº5 Cantinela de Heitor Villa-Lobos –
que aliás foi muito bem selecionada, pois parece ter sido feita para o
filme. Talvez por terem subido ao palco, e a platéia toda ter visto a
apresentação, Villa-Lobos foi o mais aplaudido. Junto com Villa-Lobos,
segue a matilha de músicos que apresenta mais uma obra erudita. De Franz
Schubert (trio em Mi menor D 929 – andante con moto) para o filme
“Barry Lyndon” (1975), é executado por Karin Uzun (piano), Davi Graton
(violino) e Julio Ortiz (cello).
Williams!! Williams!! Williams!!
Pronto. É chegada a hora de um dos nomes mais importantes, se não o
mais, a ser apresentado. A projeção começa sem trilha, somente a figura
cativante de “E.T” (1982) sendo descoberta por Elliot. Após essa
apresentação, cenas do filme (selecionadas a dedo) são projetadas como
um video-clipe, e a obra de John Williams tem seu início. Sim, fiquei
arrepiado. E apesar de “Psicose” ter sido pra mim a melhor apresentação,
não posso negar que me senti no espaço... ou na Terra... ou sei lá onde
Williams queira, só sei que foi maravilhoso e muito bem executado. Uma
obra que passa dos sopros aos metais, das cordas à percussão.
No final, aplausos, desta vez de pé, para Williams, para a Orquestra
Experimental de Repertório, para Jamil Maluf e todos os organizadores
desse espetáculo. Espetáculo que abriu com chave de ouro o domingo em
que meu Corinthians foi tetra-campeão brasileiro!
Lucas Vandanezi
lvandanezi@scoretrack.net
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