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HARRY POTTER E O
PRISIONEIRO DE AZKABAN (Harry Potter and The Prisoner of Azkaban,
EUA/Inglaterra, 2004)
Gênero: Aventura, Fantasia
Duração: 136 min.
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Robbie
Coltrane, Gary Oldman, Michael Gambon, Alan Rickman, Maggie Smith
Compositor: John
Williams
Roteiristas: Steven Kloves
Diretor: Alfonso Cuarón
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Desta vez é mesmo mais
sombrio
O diretor Alfonso Cuarón torna mais
interessante o universo de Hogwarts ao introduzir, com criatividade e estilo, o
elemento "terror" no terceiro filme da série Harry Potter
"É um filme mais
sombrio". Quando o segundo episódio da franquia Harry Potter chegou aos cinemas
em 2002, ainda sob as mãos de Chris Columbus, era esse o comentário geral, ainda
que aquele não fosse um filme muito diferente do primeiro. "É um filme mais
sombrio" continua sendo o principal comentário sobre
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban,
terceiro episódio de uma série que já faturou US$ 1,8 bi pelo mundo. Agora
dirigido por Alfonso Cuarón (responsável também pelo ótimo
E Sua Mãe Também..., filme que
metade do elenco de Harry Potter não tem idade pra ver), a frase, finalmente,
parece fazer jus ao que se vê na tela.
A mudança para tons mais escuros não foi realizada à toa (se filme dark
fosse sinônimo de filme bom, Cidade das
Sombras seria o melhor filme do mundo). Cuarón tirou luz e limpeza da
fotografia, deixou a direção de arte mais macabra (cabeças mumificadas que
falam, candelabros em forma de colunas vertebrais), sujou a maquiagem,
transformou Hogwarts e seus arredores num cenário de filme de horror e, com
isso, fez da entrada do herói na adolescência um período dos mais atribulados.
Harry (Daniel Radcliffe) está muito mais inconformado e irritado. Não aceita
mais ser humilhado por seus tios, jura vingança quando descobre quem ajudou a
assassinar seus pais e reage a tudo com mais fúria e menos paciência - além de,
duplo sentido à vista, brincar com sua varinha embaixo do lençol. O resultado
disso, entre outras coisas, é a ótima cena da tia transformada num balão,
seqüência das mais engraçadas e bizarras, que mostra o que uma explosão de raiva
juvenil (com toques de mágica, claro) é capaz de fazer. O mago também precisa
aprender a lidar com sua raiva e angústia (a cena do monstro do armário, de
longe a melhor do filme), aqui sugeridas como os principais inimigos do garoto.
A eficiência de Cuarón ao mostrar o crescimento dos personagens é notável, mas
digamos que neste quesito ele teve uma ajuda involuntária de Chris Columbus, que
não soube deixar o Harry Potter de A
Câmara Secreta um ano mais velho do que o Harry Potter de
A Pedra Filosofal. Columbus
também não conseguiu fazer de todo aquele universo mágico um lugar
suficientemente interessante para manter a atenção do público por mais de duas
horas. Algo que Cuarón consegue melhorar sensivelmente por aqui ao adicionar o
elemento "terror", representado principalmente pelos sinistros dementadores, à
fórmula da poção de suspense juvenil absolutamente inofensivo dos dois primeiros
filmes.
O que mais diferencia Cuarón de Columbus, no entanto, é que o primeiro, apesar
de ter feito menos filmes, tem um domínio de câmera e técnica em geral muito
superior ao do segundo. Mas Cuarón brinca com alguns recursos cinematográficos
(criativas transições de cena, fade ins e fade outs
surpreendentemente ultrapassados para um filme "geração Nickelodeon") e faz com
que Harry Potter, pela primeira vez, pareça ter um diretor por trás de suas
aventuras. Ou seja: abandona o terreno das "adaptações literárias para o cinema"
para se tornar cinema, finalmente, ainda que resistam, em um ou outro momento,
resquícios de cenas-que-só-aparecem-ali-porque-estavam-no-livro.
Enfim, temos um progresso. Pena que Cuarón não tenha assinado contrato para
dirigir as outras seqüências. Seria uma experiência cinematográfica das mais
interessantes ver o responsável pelos jovens de
E Sua Mãe Também... contar quase
que a história inteira da adolescência do garoto-bruxo.
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