Isaac Hayes, um dos
maiores intérpretes da
soul music a partir dos anos 1970, nasceu no dia 20 de
agosto de 1942, em Covington, no Tennesse. Ele perdeu os pais ainda
na infância e foi criado pelos avós. Hayes foi durante muitos anos
compositor e arranjador da gravadora Stax Records, em Memphis. Ele
também foi backing vocal de artistas como Otis Redding e Sam
& Dave, nos anos 1960. Seu primeiro álbum-solo foi lançado em 1967,
Presenting Isaac Hayes, e o álbum Hot Buttered Soul o
transformou em uma estrela musical em 1969. Mas sua fama mundial
chegou apenas com sua trilha sonora para o filme
Shaft (1971, dirigido por Gordon Parks), que
popularizou o movimento musical-cinematográfico conhecido como
Blaxploitation,
e fez dele o primeiro artista afro-americano a ganhar um Oscar de
melhor canção original. As vendas do álbum
foram decisivas para tornar a gravadora Stax, ao lado da Motown, a
mais importante da música negra.
Hoje, poucos fazem idéia
do impacto que Hayes e sua obra, seja como cantor ou arranjador,
tiveram na música
pop e nas trilhas sonoras. Para começar, provavelmente
não teria surgido Barry White (falecido há alguns anos), cuja voz
grave e estilo musical eram muito parecidos com os de Hayes - com a
diferença de que a música do
Black Moses (alcunha que, por si, já dá a devida
grandeza ao artista) era menos açucarada. Claro, Hayes é responsável
por alguns clássicos “melosos” da
soul music, mas seu
trabalho foi bem mais consistente e inovador do que o de seu colega.
Mesmo em seus álbuns mais comerciais Hayes gravava faixas que podiam
exceder a 10 minutos, abrindo espaço não apenas para seu vozeirão
característico, mas também para que os excelentes músicos e cantores
de apoio que o acompanhavam - integrantes da “Hot Buttered Soul
Orchestra” - demonstrassem todo seu virtuosismo. Tomemos, apenas
como dois exemplos entre tantos clássicos, a longa “Joy”, cujo ritmo
transborda sensualidade, e a memorável “Do Your Thing” da trilha de
Shaft, que em seus 19 minutos inicia como um
soul comum (mas nem tanto!), mas logo Hayes vai dando
lugar para seus músicos e o grupo de
backing vocals The Bar-Kays, metamorfoseando a
composição num longo delírio instrumental.
Não fosse Hayes
dificilmente teríamos Barry White e sua “Love Unlimited Orchestra”,
e nem o chamado “Som da Filadélfia” (expoente: a banda/orquestra
MFSB), que com timbres e arranjos de cordas e metais claramente
inspirados em Hayes, no estilo chamado “Soul Sinfônico”, antecedeu a
chegada da era
disco. E falando em
disco, o álbum instrumental de Hayes
Disco Connection foi o empurrão decisivo para que o
mundo fosse engolido pela era
discothéque. Bons tempos aqueles, em que longas músicas
instrumentais entravam nas paradas de sucesso e o pessoal as dançava
nas discotecas. Enfim, ecos desse admirável artista foram (e são)
ouvidos em gêneros como
soul,
funk,
disco e
hip hop.
Obviamente também as
trilhas sonoras, seja de filmes como de séries de TV, foram
profundamente influenciadas pela música de
Shaft. A partir dela, passou a ser inconcebível que
um filme/episódio de ação ou policial não trouxesse, em sua trilha
sonora, ritmos conduzidos por baixo, bateria, guitarras
wah wah e azeitadas seções de metais, madeiras e cordas.
Outros grandes compositores e intérpretes negros aventuraram-se nas
trilhas de filmes
Blaxploitation - o inesquecível
Godfather of Soul James Brown, Curtis Mayfield, Marvin
Gaye, J. J. Johnson, Gene Page (todos estes também já falecidos),
Quincy Jones e
muitos outros - mas foi a obra de Hayes que catapultou e moldou o
gênero. E mais, influenciou o trabalho de muitos compositores
brancos que compunham trilhas para filmes fora do gênero. Na
verdade, não apenas compositores, mas até mesmo diretores de cinema.
Quentin Tarantino, em seu
Kill Bill (Vols. 1 e 2) resgatou temas de outras
duas trilhas sonoras que Hayes compôs -
Tough Guys (1973) e
Truck Turner (1974). Aliás, para filmes onde nosso
Black Moses iniciou sua carreira de ator bissexto.
Talvez hoje Hayes vá ser mais lembrado por ter emprestado sua voz
para o Chef da série animada
South Park
(personagem que abandonou após 10 temporadas por causa de um
episódio que ironizava a cientologia, da qual era adepto), mas é
preciso dizer que seu papel na história do entretenimento certamente
terá um espaço e significado muito maiores. À altura de sua imagem
imponente no palco, nos seus bons tempos - busto nu, óculos escuros,
sentado ao piano e cercado por seus músicos e belas cantoras.
Infelizmente Hayes morreu só, aos 65 anos, na madrugada do dia 10 de
agosto de 2008 em Memphis, no Tennesse - foi encontrado próximo a
uma esteira ergométrica em sua casa, pelo que se sabe vítima de um
derrame e de um enfarte sucessivos.
Filmografia de
Isaac Hayes, cortesia de
Internet Movie Database