Combinando música pop, soul,
hip-hip-hop, jazz, clássica, africana e até mesmo
brasileira em fusões originais e extraordinárias, Quincy Jones pode ser
classificado como "um mestre inventor de híbridos musicais". Mas além
disso, este notável artista foi o pioneiro dos negros norte-americanos
em muitas áreas do show business. A lista das atividades nas
quais se consagrou é longa: showman, compositor de trilhas
sonoras, arranjador, regente, instrumentista, ator, produtor de discos,
editor de revistas, produtor de televisão, executivo de gravadora e
ativista social.
Quincy Delight Jones, Jr., conhecido por seus amigos como "Q," nasceu em
um subúrbio de Chicago. Aos dez anos de idade, juntamente com seu pai e
sua madrasta, mudou-se para Bremerton, Washington, um subúrbio de
Seattle. Sua paixão pela música começou já na escola primária, e
experimentou todos os instrumentos da banda de sua escola antes de
escolher o trompete. Ainda adolescente, Quincy tornou-se amigo de um
cantor-pianista local, apenas três anos mais velho que ele - Ray
Charles. Os dois formaram uma banda, que eventualmente se apresentava em
pequenos clubes e festas de casamento. Aos dezoito anos, o jovem
trompetista ganhou uma bolsa de estudos no Berklee College of Music em
Boston, mas abandonou-a em seguida ao receber a oferta para cair na
estrada com o bandleader Lionel Hampton. O trabalho com Hampton
levou-o a atuar como um arranjador freelancer. Jones
estabeleceu-se em Nova York onde, durante os anos 50, compôs para Tommy
Dorsey, Gene Krupa, Sarah Vaughan, Count Basie, Duke Ellington, Dinah
Washington, Cannonball Adderley e seu velho amigo Ray Charles.
Em
1956, Quincy Jones foi trompetista e diretor musical na banda de Dizzy
Gillespie, em uma turnê pelo Oriente Médio e África do Sul patrocinada
pelo governo norte-americano. Após retornar aos EUA ele gravou seus
primeiros álbuns como bandleader, para a Paramount Records. Em
1957 Quincy mudou-se para Paris, onde estudou composição com Nadia
Boulanger e Olivier Messiaen, e trabalhou como diretor musical para a
Barclay Disques, distribuidora na França da gravadora Mercury. Como
diretor do musical de jazz "Free and Easy", Quincy Jones botou
novamente o pé na estrada. Sua turnê européia encerrou-se em Paris, em
fevereiro de 1960. Com músicos do show, Jones formou sua própria big
band, com 18 instrumentistas - e suas famílias. Seus concertos na
Europa e Estados Unidos entusiasmaram as audiências e mereceram críticas
elogiosas, mas a renda destes concertos não foi suficiente para manter
uma banda daquele tamanho e ela teve de ser dissolvida, deixando Jones
cheio de dívidas.
Após
um empréstimo pessoal do chefe da Mercury Records, Irving Green, que
ajudou a resolver suas dificuldades financeiras, Jones voltou a Nova
York para trabalhar como diretor musical da gravadora. Em 1964 foi
nomeado vice-presidente da Mercury Records, o primeiro afro-americano a
atingir um cargo executivo em uma companhia de brancos. No mesmo ano,
Quincy Jones voltou sua atenção para outra área musical há muito fechada
para os negros - o mundo das trilhas sonoras de filmes. Convidado pelo
diretor Sidney Lumet, ele compôs a partitura original de The
Pawnbroker (O Homem do Prego). Foi o primeiro dos 33
scores que compôs para filmes de grandes estúdios. Após o sucesso de
The Pawnbroker, Jones deixou a Mercury e mudou-se para Los
Angeles. Seu próximo score foi para The Slender Thread,
estrelado por Sidney Poitier, e logo ele era um compositor de cinema
muito requisitado. Os filmes para os quais compôs nos cinco anos
seguintes incluem Walk Don't Run, In Cold Blood, In the
Heat of the Night (o premiado drama policial estrelado por Poitier e
Rod Steiger, No Calor da Noite), sua continuação They Call me
Mr. Tibbs, A Dandy in Aspic, MacKenna's Gold, Bob
and Carol and Ted and Alice, The Lost Man (também com Poitier),
Cactus Flower, e The Getaway (Os Implacáveis, de
Sam Peckinpah). A música "Soul Bossa Nova", de seu álbum de 1962 Big
Band Bossa Nova (que contou com a participação de
Lalo
Schifrin ao piano), acabou consagrando-se em 1997 como o
tema da comédia de grande sucesso Austin Powers. Para a
televisão, Quincy compôs a música tema de Ironside (Têmpera de
Aço, o primeiro tema de TV com uso proeminente de sintetizador),
Sanford and Son, e The Bill Cosby Show. Os anos 60 e 70
também foram anos de ativismo social para Quincy Jones. Ele foi um dos
maiores patrocinadores do "Dr. Martin Luther King, Jr.'s Operation
Breadbasket", uma campanha para promover o desenvolvimento econômico de
cidades do interior. Após a morte de Luther King, Quincy Jones apoiou a
campanha do Rev. Jesse Jackson "People United to Save Humanity" (PUSH).
Uma
preocupação constante em toda a carreira de Jones foi a de promover a
cultura e a música afro-americana. Para tanto, ele ajudou a formar o
IBAM (Institute for Black American Music). A renda de eventos promovidos
pelo IBAM foi destinada à formação de um acervo nacional de música e
arte afro-americanas. Ele também foi um dos fundadores do Black Arts
Festival em Chicago. Em 1973, Quincy Jones co-produziu o especial da CBS
Duke Ellington, We Love You Madly. Este programa teve artistas
como Sarah Vaughan, Aretha Franklin, Peggy Lee, Count Basie e Joe
Williams interpretando a música de Ellington (que vemos na foto à
esquerda, ao lado de Jones). O próprio Jones conduziu a orquestra. O
compositor de cinema/ativista/produtor de TV não abandonou sua carreira
como artista de estúdio. De 1969 a 1981 gravou uma série de álbuns
premiados com o Grammy, fundindo sua sofisticada sensibilidade de
jazz com ritmos R&B, os melhores instrumentistas do soul/funk e
populares vocalistas. Era prática comum de Jones, em seus álbuns,
apresentar novos talentos ao lado de profissionais já consagrados.
Faixas antológicas emergiram de Walking in Space, Gula Matari,
Smackwater Jack e Ndeda. Em 1973, You've Got It Bad,
Girl marcou sua estréia em disco como cantor. O álbum seguinte
Body Heat vendeu mais de 1 milhão de cópias, e permaneceu nos cinco
primeiros lugares das paradas de sucessos por seis meses. Esta
extraordinária série quase foi interrompida de forma trágica em agosto
de 1974, quando Jones sofreu um quase fatal aneurisma cerebral. Depois
de passar por duas delicadas cirurgias e após seis meses de recuperação,
Quincy Jones estava de volta ao trabalho com dedicação redobrada. Os
álbuns Mellow Madness, I Heard That e The Dude
encerraram seu contrato artístico com a A&M Records, porém novos
desafios o aguardavam logo adiante.
Já
tendo produzido os primeiros álbuns dos talentosos Brothers Johnson (que
debutaram no disco Mellow Madness), Jones voltou ao estúdio para
produzir o primeiro álbum solo de Michael Jackson, Off the Wall.
Oito milhões de cópias foram vendidas, tornando Jackson um superstar
internacional e Quincy Jones o mais destacado produtor de discos de
Hollywood. A dupla reuniu-se novamente em 1982 para fazer Thriller,
o disco mais vendido da história - 30 milhões de cópias ao redor do
mundo - e que colocou seis singles nos 10 primeiros lugares das
paradas de sucesso, entre eles "Billie Jean", "Beat It" e "Wanna Be
Startin' Somethin'". Sua estréia como executivo no cinema veio em 1985,
quando co-produziu a adaptação de Steven Spielberg do livro de Alice
Walker, The Color Purple (A Cor Púrpura). O filme, para o
qual Jones compôs a trilha, recebeu 11 indicações ao Oscar e apresentou
Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey para o público dos cinemas.
Em
1993, Quincy Jones e David Salzman produziram o espetacular concerto "An
American Reunion" para celebrar a posse do Presidente norte-americano
Bill Clinton. Os dois empresários decidiram formar uma companhia chamada
"Quincy Jones/David Salzman Entertainment" (QDE), em parceria com a
Time-Warner, Inc. A companhia, presidida por Jones, promove estudos
sobre programação multimídia para tecnologias atuais e futuras,
abrangendo filmes de cinema e televisão. A QDE também publica a revista
Vibe e produz shows de TV, como a popular série da NBC-TV Fresh
Prince of Bel Air, que revelou o cantor/ator negro Will Smith. Ao
mesmo tempo, Jones dirige seu próprio selo musical, Qwest Records, e a
Qwest Broadcasting, uma das maiores redes de emissoras independentes dos
Estados Unidos. De tempos em tempos ele continua a lançar álbuns
próprios, sendo os mais recentes Back on the Block e Q's Jook
Joint. Quincy Jones é o artista que recebeu o maior número de
indicações ao Grammy (76), tendo recebido 26 prêmios. Jones também
recebeu um Emmy, teve sete indicações ao Oscar e ganhou o Jean Hersholt
Humanitarian Award, da Academy of Motion Picture Arts and Sciences. Sua
vida e carreira foram documentadas em 1990 no filme da Warner Bros.
Listen Up: The Lives of Quincy Jones. Em 2003, no Brasil, a revista
DVD Sound trouxe encartado em seu nº 2 o DVD Quincy Jones: In The
Pocket, documentário de 2001 que, em seus 90 minutos de duração, nos
dá uma visão abrangente da vida e da carreira deste admirável
instrumentista, maestro, compositor e produtor musical negro.
Especialmente interessante é um momento no qual o inesquecível
Henry Mancini
fala um pouco sobre o seu colega.
Filmografia de Quincy Jones,
cortesia de Internet Movie Database |