Desde a sua primeira trilha
para o cinema, Ryuichi Sakamoto já deixava claro de que não seria apenas
mais um compositor. Isto graças à originalidade do seu trabalho, aliado
a um estilo que oferecia pistas quanto a sua origem, mas que não deixava
de lado uma certa influência erudita, de música brasileira e ainda de
jazz. Riuychi Sakamoto despontou em 1983 com MERRY CHRISTMAS, MR
LAWRENCE, que não me convencia, mas apenas obrigava-me a ficar mais
atento aos seus próximos trabalhos. Ainda em 1983 ele faria a trilha
sonora de THE ADVENTURES OF CHATRAN, filme sobre as peripécias de um
gato que à época fez bastante sucesso; nele, a música extremamente
pertinente criada por Sakamoto ofereceu musicalmente todos os contornos
que o enredo exigia. Já em 1987, para Bernardo Bertolucci, ele
trabalharia num trio. Num fato inusitado, três compositores de
nacionalidades rigorosamente distintas (David Byrne, norte-americano,
Cong Su, coreano e Ryuichi Sakamoto, japonês) compuseram a trilha sonora
de O ÚLTIMO IMPERADOR, e a partir daí ficou provado que Sakamoto poderia
se consolidar como um importante nome da música no cinema.
Em 1990, através de THE HANDMAID’S TALE, filme dirigido por Volker
Schlondorff, Sakamoto definitivamente marcou posição junto à música
eletrônica, que já era a sua especialidade - ele que, antes de entrar
para o cinema, já era um esmerado tecladista. Ainda em 1990 Sakamoto
seria requisitado mais uma vez por Bernardo Bertolucci, desta feita para
THE SHELTERING SKY. A sensação é de que foi muita música para pouco
filme, mas Sakamoto começava a demonstrar uma versatilidade
impressionante. Quando fui assistir ao filme HIGH HEELS, de Pedro
Almodóvar, entrei no cinema com cinco minutos de fita, o que não me
permitiu observar nos créditos o nome do compositor. Claro, sabia que
Almodóvar até então trabalhara com Cláudio Bonezzi, só que achei aquele
trabalho muito estranho para o citado compositor. Bem, descobri então
que a trilha era de autoria de Ryuichi Sakamoto, o que me deixou
surpreso e convencido de que o seu talento estava aflorando rapidamente.
Quando
de WUTHERING HEIGHS, não tive a menor dúvida de que Ryuichi Sakamoto
havia conquistado uma cadeira cativa na galeria dos importantes nomes da
música no cinema. Tenho este seu trabalho como um dos mais importantes
de toda a sua carreira até o momento. Contratado por Oliver Stone em
1993 para compor a trilha da minissérie de TV WILD PALMS, Sakamoto
voltou a trabalhar com música eletrônica, e o fez com extrema
competência. O tema principal de WILD PALMS enche de expectativa quem
não assistiu a essa minissérie. No mesmo ano, de novo Bertolucci
requisita os préstimos de Sakamoto quando do filme LITTLE BUDDHA, e mais
uma vez o compositor japonês não decepcionou, oferecendo um trabalho
inspiradíssimo e que nos remete a uma reflexão monástica sobre o
budismo.
Em 1998, ao resolver abandonar
Morricone, Brian
De Palma chamou Sakamoto para fazer a trilha de SNAKE EYES,
convencendo-se de que a troca foi extremamente compensadora. Posso
apenas assegurar que o trabalho de Sakamoto para SNAKE EYES valoriza a
produção, só para não dizer novamente que trata-se de “muita música para
pouco filme”. Ainda em 1998, para LOVE IS THE DEVIL, Sakamoto acaba
produzindo, na minha opinião, o seu pior trabalho. Foi a única trilha
que me arrependi de ter comprado, mas pensando bem e ouvindo mais vezes,
consegui entender o seu objetivo e não abro mão deste trabalho - mesmo
não tendo a obrigação de identificá-lo como bom. São vinte trilhas
compostas para o cinema, cinqüenta anos de vida completados dia 17 de
janeiro de 2003 e uma enorme perspectiva de que seu trabalho no cinema
continuará rendendo ótimos frutos. Finalmente, fica como dica um
excelente trabalho de Ryuichi Sakamoto intitulado PEACHBOY, de 1992,
história narrada por Sigourney Weaver com uma trilha permeada de
sentimentos, onde prepondera a raiz desse japonês nascido em Tóquio.
Filmografia de Ryuichi Sakamoto, cortesia de
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