Titanic (Titanic, EUA,
1997) Gênero: Drama Duração: 194 min Estúdio: Fox Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Bill Paxton, Gloria Stuart, Frances Fisher, Bernard Hill, Jonathan Hyde, David Warner, Suzy Amis Compositor: James Horner Roteirista: James Cameron Diretor: James Cameron |
Não tinha mesmo como TITANIC fracassar, já que conseguiu unir de uma só vez o que há de mais atrativo para os mais diversos tipos de público: efeitos especiais de última geração, uma love story completamente absurda mas incrivelmente romântica e, claro, o inacreditavelmente trágico naufrágio de um dos maiores transatlânticos de todos os tempos.
Mas quando James Cameron (de O EXTERMINADOR DO FUTURO) iniciou as filmagens, nem todo mundo estava assim tão otimista. Muitos achavam arriscada a empreitada do diretor, que praticamente reconstruiu o navio em estúdio no México e consumiu rios de dinheiro para recriar com perfeição o figurino e os detalhes da época, sendo que a maioria praticamente nem aparece no filme! Não faltaram notícias sobre os constantes estouros no orçamento (que chegou a absurdos 300 milhões de dólares) e um possível cancelamento da produção.
Mas Cameron, como todo obstinado, foi até o fim abrindo mão inclusive do seu salário como diretor. E o resultado foi simplesmente o filme com maior bilheteria da história chegando a mais de 1 bilhão de dólares no mundo todo, agraciado com 11 Oscars da Academia (igualando o recorde de BEN HUR), o prêmio máximo da Indústria do Cinema norte-americana. Mérito de Cameron, que foi corajoso ao investir nos pouco conhecidos (na época) Leonardo diCaprio e Kate Winslet para viverem o par romântico da história, que serviria na verdade para entreter a platéia até a inevitável tragédia.
A pergunta que paira no ar, entretanto, é uma só: afinal, TITANIC é ou não um bom filme?
A resposta é complexa, pois se por um lado temos uma impressionante recriação de época, efeitos especiais de tirar o fôlego e atuações precisas, por outro temos um roteiro por demais esquemático (moça rica apaixona-se por rapaz pobre), maniqueísta (pobres são bondosos e alegres, ricos são malvados e chatos) e raso (o amor resolve tudo) que acaba prejudicando o resultado final.
Claro que meninas românticas vibrarão com o romance escapista entre DiCaprio e Winslet (que são bons atores mas não tem a menor química na tela), mas qualquer um que já tenha passado da adolescência vai entediar-se com tamanha ingenuidade. Outro problema grave do filme: ele nunca passa a sensação de tragédia inevitável. Culpa do diretor Cameron, que parece mais interessado em mostrar tomadas agigantadas do navio em ritmo alegre ("Sou o Rei do Mundo") e francamente imaturo. É como se ele estivesse tão encantado com o tamanho e com a beleza do Titanic que esqueceu-se do terrível acidente que estava por vir, não diferente das pessoas que o construíram...
E esse é o maior defeito de TITANIC: esquecer do drama das milhares de pessoas que perderam a vida durante o seu naufrágio (a maioria morta por congelamento!) e concentrar seu foco no inócuo romance entre os protagonistas e na pirotecnia visual. Por causa disso o filme resulta um pouco frio e distante demais. Temos a sensação de alienação, como se estivéssemos em frente a um parque de diversões cujas portas estão fechadas e só Cameron pôde entrar e "brincar". Ou seja, assistimos ao filme maravilhados com a magia dos efeitos especiais, mas não podemos entrar na história e nos emocionar com a tragédia, exceto aqueles que conseguiram de alguma maneira interessar-se pelo romance açucarado e infantilóide dos protagonistas.
Atrapalha também a trilha musical de James Horner, por demais derivativa (no início chega ao cúmulo de copiar "Book of Days" de Enya!) e abusando dos instrumentos eletrônicos e de recursos melodramáticos extremamente manjados (como usar pela enésima vez gaitas escocesas). Isso sem falar na canção piegas que somos obrigados a ouvir durante os créditos finais na voz estridente da hedionda Celine Dion (uma espécie de Sandy estadunidense).
Todavia, mesmo com todos seus defeitos e limitações, não há como negar o impacto de TITANIC, causado principalmente pelo apuro técnico e realismo das cenas do naufrágio - só elas já valem o filme todo.
Cotação: ***½
André Lux |